Toque

“E, de seguida, senti os seus dedos tocarem-me ao de leve, enchendo de tinta negra os contornos da minha cabeça.”

Palavras | Al Berto (O anjo mudo)

2000

O blog Fotografar palavras, criado pelo escritor Paulo Kellerman, chega às duas mil publicações. O que começou como uma brincadeira entre amigos envolve, hoje, cento e quinze pessoas, numa parceria profícua entre imagem e palavra, estilos e talentos. Tornou-se uma casa para seus colaboradores e para todos os que apreciam o entrelaçamento entre fotografia e literatura; um lugar de estímulo à arte que afeta e emociona, e ao qual queremos sempre retornar.

Um imenso obrigada a todos.

Marés

Tenho um mar revolto e intransponível dentro de mim.

“Do I dare disturb the universe?” (T.S. Eliot, The love song of J. Alfred Prufrock)

“Não há nada mais temível do que o tempo que pára, ficamos iguais para sempre e essa é a maior desgraça.”

Palavras | Afonso Cruz (Para onde vão os guarda-chuvas)

Do desencanto

Das coisas fascinantes do Projeto Fotografar palavras do escritor Paulo Kellerman: receber um texto para fotografar e, quando da publicação, descobrir que ele já compõe uma narrativa com outra foto e que a minha foto se alinha e complementa essa narrativa com surpreendente harmonia de elementos.

[dum lugar íntimo do desencanto]
todos os nossos passos decolam em direção ao caos
eu até parece que danço — mas condenso, só
eu até parece que passo — mas espaço, só


Texto | calí boreaz
Foto de partida: Nita Ferreira
Foto de chegada: Ana Gilbert

“Porque no Impossível é que está a realidade.”

Palavras | Clarice Lispector (Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)

“Há uma vertigem temporal entre mim e os objetos e sinto-me a desequilibrar entre o antes e o agora.”

Palavras | Joana M. Lopes

Algures

Aquele que me habita, e escreve, vive algures numa espécie de treva.

Palavras | Al Berto (O anjo mudo)

Fotografar palavras #1823

“Fim

“No dia que fecharem
os teus olhos,
virão os amigos
as palavras doces

a escuridão
terra fria

No dia que fecharem
os teus olhos,
choros inundarão rios
fogos te consomem

teus
sonhos se extinguem

os olhos são vida
e morre a vida
no dia que fecharem
os teus olhos.”

Texto | Jorge Gomes Pereira
Foto | Ana Gilbert