
O que te faz dançar?

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Dizes que o teu corpo sonha,
Que os teus dedos sonham
A tua pele,
Os teus lábios.
Dizes que o teu coração sonha.
E os teus olhos.
Dizes que os teus olhos sonham tanto,
Mas tanto,
Mesmo quando estão fechados.
Especialmente quando estão fechados.
Como sangue,
Dizes tu.
Sorris e explicas
Que o teu corpo está repleto de multidões de sonhos
Entranhados nas tuas células.
Do lado de dentro das células.
Na alma de cada uma das células.
Sorris
E explicas que são esses sonhos que te dão vida.
Como se fossem sangue.
Um fluxo permanente e imparável
De sonhos.
Gostava de te fazer uma pergunta:
Se o teu corpo tem em si todos esses sonhos,
Porque não os sinto quando me beijas?
Apenas me dás saliva.
Não sinto sangue
Nem sonhos.
[You say your body dreams,
your fingers dream
Your skin,
Your lips.
You say your heart dreams.
And your eyes.
You say your eyes dream so much.
But so much,
Even when they are closed.
Especially when they are closed.
Like blood,
You say.
You smile and explain
That your body is full of multitudes of dreams
Ingrained in your cells.
Inside the cells.
In the soul of each of the cells.
You smile
And explain that those dreams are what give you life.
As if they were blood.
A permanent and unstoppable flow
Of dreams.
I would like to ask you a question:
If your body has all those dreams in it,
Why can’t I feel them when you kiss me?
You just give me saliva.
I do not feel blood
Nor dreams.]
Texto | Text: Paulo Kellerman
Fotografia | Photography: Ana Gilbert
Cumplicidade bonita entre palavra e imagem, entre literatura e fotografia, entre escritores e fotógrafos. Dose diária de poesia, desde 2016.
Quantas existem em mim?
A cortina abre… o espetáculo vai começar…
Sou o primeiro a chegar à sala de
espectáculos. Enquanto espero vou
pensando em coisas sem importância.
Pergunto-me se as árvores terão frio à noite ou se os livros que estão nas livrarias ficarão muito nervosos por não saberem quem os levará para casa ou se no falar dos cães haverá um ladrar para dizer a palavra “borboleta” ou se será possível os pássaros darem abraços ou porque nunca se escuta o som das nuvens quando passam pelo céu.
A minha cabeça é o único sítio onde sou realmente livre, e lá posso pensar coisas palermas sem que ninguém me chateie ou ria. Posso pensar em pássaros ou livros, posso pensar na angústia que as canetas sentirão quando se lhes acaba a tinta; ou em cadeiras. Porque enquanto espero outra coisa que me pergunto é se haverá um motivo para me ter sentado na cadeira onde estou, quando todas as outras estavam livres e poderiam ser uma opção. O que terão pensado de mim as cadeiras que não escolhi?
É nisto que estou a pensar quando ela entra e olha a sala. Depois de uma breve hesitação, avança rapidamente entre as cadeiras e senta-se. Poderia escolher qualquer outro lugar mas senta-se mesmo ao meu lado, ignorando todas as outras cadeiras livres.
Fico quieto, à espera. É bom esperar, mesmo quando se sabe que não irá acontecer nada.
Na liberdade da minha cabeça penso: cheira tão bem, que perfume usará?
Mas tudo o que a minha voz é capaz de dizer é:
– Boa noite.
GEOGRAFIAS CORPORAIS
Fotografia: Ana Gilbert | Texto: Paulo Kellerman
Alter Edições, 2022.
Design Gráfico: Licínio Florêncio | Coordenação Editorial: Eder Ribeiro
encomendas: geografiascorporais@gmail.com
[ENGLISH VERSION AVAILABLE]
”Cansa esta realidade partida, feita de planos sobrepostos não comunicantes, com seus enredos e encenações.”
[excerto do conto Existência, em A respiração do tempo, 2022]
Minimalista Editora
“Talvez o futuro seja feito de esperas. Talvez o futuro seja feito de esquecimentos.”
Paulo Kellerman (excerto do conto O alívio, em O osso da vida, 2022)
Primeiro azul do ano.
“Há sempre um momento em que sente no seu corpo: vão cantar; e nesse instante, os pássaros cantam. Serão eles que mantêm o mundo em movimento com o seu canto?”
[There is always a moment when she feels in her body: they are going to sing; and in that instant, the birds sing. Are they the ones who keep the world moving with their singing?]
Consigo existir sem mim?
[Can I exist without me?]
Texto | Text: Ana Gilbert
Fotografia | Photography: Laurent SPADOTTO
Fotografar palavras | coordenação: Paulo Kellerman
As paredes pulsam histórias.
[The walls pulse stories.]
Texto | Text: Ana Gilbert
Fotografia | Photography: Dean Garlick
Fotografar palavras, o projeto bonito do Paulo Kellerman
_“Todas as imagens vão desaparecer.
(…)
as imagens reais ou imaginárias, que permanecem conosco durante o sono”
Annie Ernaux (Os anos)
As paredes pulsam histórias.
[The walls pulse stories.]
Texto | Text: Ana Gilbert
Fotografia | Photography: Sverre Følstad
Projeto | Project: Paulo Kellerman