
“A força da tua entrega me perturba. Percorro-te para extrair-te o enigma.”
Foto do Frankie Boy, texto meu.
Fotografar palavras, projeto do Paulo Kellerman, que une fotografia e literatura numa cumplicidade bonita.
“A força da tua entrega me perturba. Percorro-te para extrair-te o enigma.”
Foto do Frankie Boy, texto meu.
Fotografar palavras, projeto do Paulo Kellerman, que une fotografia e literatura numa cumplicidade bonita.
XIV
Uma árvore
Não saberia o que fazer
Com um espelho.
Paulo Kellerman (E quando acabarem as perguntas? Edição Sem Editora, 2022)
“I like to seat by the window and just look outside. there’s always the possibility of something.”
Words by Paulo Kellerman
“As bocas calam o desejo.”
Fotografia da Ana Martins para um texto meu.
Fotografar palavras, projeto criado e coordenado pelo Paulo Kellerman. Dose diária de arte.
“a nude glimpse of my lone soul“
Words by Anne Carson (Glass, Irony & God)
“Alguns dos mais profundos sonhos são palavras desconhecidas.”
Foto minha para o texto de Cristina Vicente, no Fotografar palavras, esse projeto bonito, criado e coordenado pelo Paulo Kellerman.
Duas leituras fotográficas do Frankie Boy para excertos do meu livro de contos A Respiração do Tempo.
A RESPIRAÇÃO DO TEMPO, uma publicação Minimalista
A Maraia é uma jovem e talentosa artista; um ser humano sensível e profundo. Captou com precisão e condensou em imagem o que as/os leitora(e)s descobrirão nas palavras.
É um privilégio ter a Maraia como ilustradora da nossa Minimalista.
[a respiração do tempo é a nona publicação da Minimalista Editora]
Vestir a sombra.
As fraturas dos laços
É a poesia que nos sustenta.
Por vezes, esqueço-me de que é preciso uma fresta para que o outro me atinja feito luz.
Gosto de te beijar.
Gosto de escutar a tua respiração
E sentir o teu sopro quente nos meus lábios.
Gosto de centenas de coisas assim:
Banalidades
Sem as quais a vida não faz sentido.
Centenas.
Mas todas se resumem ao teu toque.
Podia detalhá-las uma a uma,
Podia listá-las demoradamente.
Mas basta dizer
Que gosto do teu toque.
E tu:
Também tens saudade do que não acontece?
Paulo Kellerman (E quando acabarem as perguntas?)
“why should our bodies end at the skin, or include at best other beings encapsulated by skin?”
(Donna Haraway)
“n.º 30
Regresso uma e outra vez à casa da minha infância. Os cheiros, os esconderijos, os lugares de cada coisa e de cada um mantêm-se, ainda, inalterados.
Evito o caminho para o interior. Subo a escada e recordo a textura do cimento fresco. Degrau a degrau, subo e penso nas inúmeras vezes que os pisei, que os meus os terão pisado. Sei as reentrâncias, os desníveis, as imperfeições. Dos degraus. Dos meus. As minhas.
Cá em cima é mais fácil respirar. Ainda assim, desvio o olhar da porta do sótão: preta, ferrugenta, retorcida. Encerra demasiada ruína, como se um cemitério de nós próprios habitasse sobre os espaços em que vivemos.
Aguardo o escurecer e contemplo o horizonte: o parque florestal, o pinhal ao fundo… e, naquele momento em que o silêncio se instala, o som do nosso mar sobrepõe-se a todas as camadas dos meus sentidos.
Elevo o olhar e procuro no escuro a segurança de tantas noites ali passadas. Encontro o norte… brilho ténue, guia de viagens difusas memória dentro. Uma âncora no firmamento, como se todo o universo nele se sustivesse, como se todo o meu viver nesta casa nele se suportasse.
Sento-me. Inspiro. Deito-me no chão rugoso e frio, sinto o desconforto no corpo e nas memórias que trago comigo. Abro os olhos para a imensidão e, por fim, entro.”
Fotografar palavras, projeto criado pelo Paulo Kellerman em 2016. Projeto criado por nós, diariamente.
Texto da Vilma Duarte, foto minha.
A respiração do tempo, de Ana Gilbert, Editora Minimalista, 2022, já se encontra à venda. É a mais recente publicação da nossa editora informal. Degustei-o de 6 a 18 de Junho. É, antes de se entrar no que nos conta, um objecto muito belo em que se nota a devoção da Ana ao criá-lo. Das ilustrações da Maraia que nos comunicam visualmente ao seu modo ímpar a essência do que as sucede, às epígrafes que também antecedem cada capítulo, chegando enfim à linguagem cuidada da Ana Gilbert. Confluem no volume que antes de ser lido é já um deleite. Depois entramos nas narrativas: breves, fortes, certeiras, apontando aos desacertos e aos enjeitados da vida. Aqueles que, por mais que se esforcem, dia nenhum serão vencedores. É preciso preparar o fôlego para as várias vezes em que nos quedamos em apneia pela violência lida. Pelo meio: erotismo. Sedução. Vontade. Dardos disparados à atenção dos leitores, incomodando esta ou aquela dor já nossa. Há neste livro muitos tempos, muitas respirações, realidades, histórias que anunciam outras. Caberá a quem leia levar a imaginação além. À Ana, continuar a escrever para que a possamos ler mais.
Andreia Azevedo Moreira (texto e imagens)
“Doem-me as palavras sem boca. Aquelas que dizes sem comprimento de onda. Ouço-as pela frequência inequívoca da guitarra que tocas e deixam de doer.”
Fotografar palavras , projeto bonito do Paulo Kellerman e também nosso.
Texto: Elisabete Neves
Fotografia: Ana Gilbert