Nefelibata

nefelibata
pessoa que tem Google Drive, OneDrive e Dropbox. Por vezes, Cloud Drive.

[nefelibata
a person who has Google Drive, OneDrive and Dropbox. Sometimes, Cloud Drive.]

Sonhando rajadas

O livro A chama de Adrião Blávio (2020), de Joana M. Lopes, é hipnótico em sua beleza poética e cortante. É inesgotável na capacidade de suscitar imagens em mim. A cada leitura, uma torrente de possibilidades imagéticas se apresenta e, eventualmente, sinto vontade de coagular uma delas em fotografia. Como agora. Mesmo sabendo que é apenas uma leitura parcial e imprecisa de algo muito maior.

——-

Sonhando rajadas

Dissolução e êxtase. Verdade ancestral, antes do pensamento. Pássaros com olhos feitos de vento. Asas sou e nuvens e um bico flamejante atravessando um tecto em absoluta expansão. É o perfume da Tília que se espalha, é o pólen que em ti dança e explode, Lázara, hipnótica brisa na seara. Toco-te em toda parte, pois és em todo o lado. Orgia intocável do tudo. Pulmões como grutas insufladas do teu nome. Vento inaugurando o mundo. Respiro-te, Lázara: hálito quente, palpitação carnívora, eco cardíaco repercutido no ar. Rajada absoluta onde me desagrego.

Dragão

“O vento está no meu mar
Foste tu
Dragão nu
Com esses gritos
E esses cabelos
Já estás a vir”

Palavras: José Carlos Ferreira

Clariceana

Meu ensaio fotográfico CLARICEANA está na Revista Tangerine # 10, na companhia de outros trabalhos lindos.

Este ensaio foi inspirado no livro Água Viva, de Clarice Lispector. Nele, autorretratos dialogam com paisagens aquáticas, oníricas em sua fluidez e atemporalidade, onde o dentro e o fora se confundem e se complementam. Juntos, formam paisagens internas, imagens-palavras que convidam à experiência sensorial, ao mergulho em águas profundas, onde luz e sombra se fazem presentes e explicitam tensões.
O fascínio exercido por essa zona limítrofe, a superfície da água, demarca a fronteira entre a vigília e o sono, entre as instâncias da psique (consciência e inconsciente). As imagens nos levam a percorrer trilhas fragmentadas e poéticas, marcadas pela alternância entre movimento e quietude. Experienciamos a relação com o espaço que nos circunda. Um espaço que é ao mesmo tempo externo e interno, Cheio e vazio. Um espaço que se descortina estranho e ampliado quando vislumbrado na superfície refletora da água ou do espelho. Múltiplos espelhos, múltiplas imagens: de nós e do mundo que habitamos e que nos habita. Instantes- já da relação “eu-tu”, coagulados como fotografias. Cenas e o seu avesso. A realidade enviesada.
O ensaio oferece a experiência pura do fluxo de vida, do instante que é como o silêncio que está no silêncio das coisas e não pode ser ouvido, a não ser com o corpo inteiro; como uma realidade que se cria a partir da escuridão e do sonho. A partir da imaginação.
Água, ar, planta, corpo. A alternância entre a sensação de dissolução e a aventura arriscada de fixar a delicadeza do encontro eu-outro, eu-mundo. Clariceana é uma tentativa de capturar o incapturável: a respiração que rege a ordem do mundo, do meu mundo. O ritmo da pulsação. A liberdade de vida e morte. O seu mistério. Efemeridade e eternidade em mim.

Luz

o que sentirá a luz ao deslizar pela aspereza do solo?

[what will light feel as it glides across the roughness of the ground?]

observação

observo a lentidão do teu gesto.
[o toque suave da renda]
a mão pequena
[onde cabe o mundo]
o corpo desnudo
[o desejo a descoberto]
observo as articulações que se movem
[hipnótico]
dedilham memórias que espreitam inocentes
[indecentes]
feitas de luz
[sombra]
deixam a pele marcada
[cicatrizes inexistentes]
pela eternidade
[dolorosa]
dos encontros imprecisos
[improváveis]

Associazione Culturale Focus

15/03/2023 | 17 horas (Brasil)

A convite da Associazione Culturale Focus, conversarei sobre fotografia e o livro Geografias Corporais, com Fabiana Mingoni e Paulo Kellerman.

(acesso livre – o link será disponibilizado próximo à hora do evento)

Haiku

blossoms kiss bare skin
a prelude to sweet passion
morning comes too soon


Frederick Fullerton