Ritual

quero tocar-me.
a minha pele
onde guardo as memórias,
(quais?)
nela, o que sei de mim
toco-me.
deslizo dedos
molhados de saliva
e a pele é animal arisco
arrepia-se, elétrica
(tesão)
toco-me
presença feita de luz
é superfície trêmula contra a pele quente
(sinto)
invento lembranças marcas gozos
e flores
toco-me.
do jeito que sabes
perto da janela
(esvoaçante)
exposta a olhares
em ritmos aquosos
palpitantes
(presença entumescida)
toco-me
na madrugada insone
silenciosa
percorro relevos
rios e fontes
mergulho profundo
(respiração entrecortada)
reverbero em camadas 
suspensa
e existo em mim.

[poema apresentado no Sarau Maroto | Lisboa 18 Out 24]

2 respostas para “Ritual”

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