
“Quando fiz seis anos, fui à escola. Dezassete anos depois, saí.
Sentia-me preparado. E, mais que isso, sentia-me ansioso. Passava os dias à espera que me chamassem, aguardando a minha vez.
Quando já desesperava, convocaram-me.
Nem quis acreditar. Verdadeiramente excitado, cheguei à fábrica e apresentei-me. Depois, tudo se precipitou. Mandaram-me para uma sala onde dezenas de outros aguardavam; começaram a chamar e fomos entrando nas caixas, escuras e apertadas.
Passaram meses. Então, alguém abriu a caixa, pegaram em mim e riscaram-me. Criei fogo. Sopraram-me e morri.
(O meu último pensamento: “Uma vida de preparação para isto!? Acabou tudo? Tão depressa?”).
Palavras | Paulo Kellerman (Miniaturas, Edições Colibri, 2001)
