ave

Quando voou, percebeu o quanto cansada estava de andar. Dos passos que já não se faziam sentir, ruidosos nas voltas que davam anunciando chegadas adunadas em partidas. Cansada, dos lugares perfeitos ao olhar que apenas retinham o corpo. Da terra pisada por muitos fingindo apenas beijar os seus pés.
Talvez o céu guardasse um pedacinho só dela, onde o silêncio a fizesse despertar. Talvez uma nuvem onde repousasse o coração. Quando o coração repousa, desprovimo-nos de emoções. Os olhos ganham a cor da clareza encaixando peças nos puzzles que se recusam completar. Pedaços de vida que encaixotamos em saudade.
Talvez no céu existisse quem voasse como ela. Quem fizesse brotar nas mãos páginas que cevam o voo. Livros que se abrem, por desvelo, no capítulo que mais faz impelir. Asas de papel de estórias infinitas, reescritas por quem é, e sabe dar, felicidade.
Talvez, uma vez no céu, pudesse mudar as estrelas. Criar constelações que partilhassem o brilho com quem se quer encontrar. Por sermos reflexos de luz só somos visíveis a quem nos consegue iluminar. Um fundir de cores libertadas em sorrisos de genuínos sentimentos.
São aqueles que existem para além do sangue que percorre a carne, que saboreiam o azul  que envolve todos os outros. Talvez o céu pertença aos que voam pela sua essência de, somente, fazer voar…”

Fotografar palavras

Projeto | Paulo Kellerman

Texto | Catarina Vale

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