
“O que fazer com cada momento, depois de o viver?”
Fotografar palavras
Projeto e texto | Paulo Kellerman
Foto | Ana Gilbert

“O que fazer com cada momento, depois de o viver?”
Fotografar palavras
Projeto e texto | Paulo Kellerman
Foto | Ana Gilbert

“Hoje caminhamos de mão dada sem medo de nos perdermos. Ambos sabemos que foram os caminhos sem saída que nos juntaram…”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Liliana Silva
Foto | Ana Gilbert

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(obrigada, Francisco, por aceitares o desafio. Obrigada, Paulo, pela acolhida)

[só]
Poeta só.
Porque só é a solidão de um poema.
Nevoeiro é o que vejo dentro do peito.
Rarefeito o racional, banal o carnal.
Bacanal de emoções vãs.
Só está a solitude de uma prosa.
Nua de versos ou ritmos.
Crua e incerta
inserta a solidão no poeta.
Fico só com estas letras.
Chove do lado de fora da janela,
dentro do peito só nevoeiro,
orvalho e melancolia.
Só.
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Andreia Marques
Foto | Ana Gilbert

“A chegada do amor oferece-nos a esperança de um recomeço, como se as nossas partes mortas pudessem renascer por via de uma expectativa qualquer.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Joana M. Lopes
Foto | Ana Gilbert

“limpar o mundo é uma tarefa que o amor faz muito bem
sem que ninguém lhe peça
faz por si
acontece
basta existir para que se veja beleza mesmo no que não tem beleza
e isso não é um faz-de-conta
basta existires para saber o caminho
sem esforço
e isto não é uma fantasia”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Isabel Pires
Foto | Ana Gilbert

“O meu corpo tem saudades do teu olhar.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Ana Gilbert
Foto | João Oliveira





“Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Andreia Monteiro
Fotos| Ana Gilbert

“As nuvens passam, vagarosas e indiferentes.
Porque nunca param para nos escutar?”
Fotografar palavras
Projeto e texto | Paulo Kellerman
Foto | Ana Gilbert

Volto a falar do nosso projeto Fotografar palavras, não apenas porque a primeira de quatro exposições está a acontecer no m|i|mo – museu da imagem em movimento, em Leiria, Portugal; mas, em especial, pelo gosto e pelo orgulho que sinto em fazer parte dele, desde quando comecei a colaborar, em junho de 2017.
Fotografar palavras é um projeto criado e dinamizado pelo escritor Paulo Kellerman. Reúne fotógrafos e escritores num desafio diário: o exercício criativo de transformar palavras em fotografias. Já conta com 2394 publicações, ao longo de quatro anos, que podem ser apreciadas no blog de mesmo nome, em sequência temporal ou nas galerias dos diferentes fotógrafos e escritores.
Apesar de ser um projeto desenvolvido em plataforma virtual, promove e alimenta relações de amizade e colaboração artística que existem para além das telas dos dispositivos tecnológicos, habitando a dimensão essencial do contato humano e ultrapassando as distâncias geográficas entre os participantes.
Acontece assim: os fotógrafos recebem excertos (anônimos) dos escritores, por intermédio do Paulo Kellerman, e encontram uma (ou mais de uma) imagem para essas palavras. Mas, como o projeto é saudavelmente transgressor de si mesmo, acontece do ponto de partida ser a fotografia e o desafio é feito a um escritor para que encontre palavras para essa imagem. Ou ainda, podem acontecer publicações em que um artista é autor tanto do texto quanto da foto. Porque os caminhos da criação são inesgotáveis e vão despertando novos entrelaçamentos e possibilidades em cada participante.
A relação entre as imagens e as palavras reunidas numa publicação não é de submissão, isto é, uma forma de expressão não é mais importante do que outra; e muito menos de dependência ou fusão: ao serem alinhadas, imagens e palavras não se perdem, não se fusionam, mantêm a sua autonomia. O que existe é uma profunda cumplicidade entre elas, mesmo quando os artistas não se conhecem, permitindo a abertura de caminhos de leitura, de desenvolvimentos narrativos, de amplificação de afetos.
O projeto reúne perspectivas diversas e alinha diferentes estilos e subjetividades artísticas, num ambiente experimental de total respeito e liberdade cujo vigor se mantém intacto. Convida o leitor a ir além do que é apresentado, a explorar novos horizontes movido pelo desassossego, pela emoção e pela reflexão que o material suscita.
Dose diária de arte.

“Incomoda-te a minha sombra? Ou a minha luz?”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Ana Gilbert
Foto| João Oliveira

“- Espero que continues liberta e inspirada e que esta chuvinha ilumine e fertilize o teu sentir.
– Há que procurar inspiração todos os dias… Beijinho agradecida pela tua bonita mensagem!…
– As mensagens bonitas são para as meninas bonitas, aquelas com música de folhas, flores e frutos sem romance. Beijinho perfumado a terra molhada…
– Uau! Não tenho palavras nem tenho essa veia artística, poética!… Apenas entendo a linguagem das plantas.
– A linguagem das plantas é escrita poética em estado de graça, e a teu gracioso modo também tu libertas essa poesia da terra.
– A sensibilidade com que lidamos com elas não é comum a toda a gente?
– A sensibilidade é um dom de pessoas raras. E elas sentem essa luz umas nas outras. É uma paixão de flores e planetas.
– É bem possível. Concordo.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | José Alberto Vasco
Foto| Ana Gilbert

“Sussurra-me ao ouvido que já é amanhã.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Ana Gilbert
Foto| Cristina Vicente

“Não é a tua ausência que temo, mas sim a tua presença vazia.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Liliana Silva
Foto| Ana Gilbert

“Estou a pensar, e pensar é uma forma de movimento.”
Fotografar palavras
Projeto e texto | Paulo Kellerman
Foto| Ana Gilbert

“A extensão máxima do sofrimento se atinge no silêncio.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Joana M. Lopes
Foto| Ana Gilbert

“As coisas não acabam quando elas terminam.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto e foto | Ana Gilbert

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“o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade
um estremecimento
como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão
braços de quente e luz a inundar o peito
como se fora o brotar de flores num campo seco
os lábios a chegarem-se aos teus
uma inquietação
a pele a vestir-se de água
um sorriso um grito murmúrios
em chão de silêncio”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Isabel Pires
Fotos| Ana Gilbert

“Procurei-te nas tuas palavras, mas elas estavam vazias de ti.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Ana Gilbert
Foto| João Oliveira