Fotografar palavras # 4569

Filme de Pele

pele
nosso milagrosamente
multifacetado
manto opaco
abraça-nos com firmeza
como um escudo protetor
da cabeça aos pés
contra uma coreografia
de danos

pele
revela em parte
a jornada do nosso corpo
do nascimento à morte
e o seu abuso
tatuado
com cicatrizes e manchas
gravado com rugas

pele
imagine fotos
antigas e recentes
seguidas
de um vídeo
escaneando
lentamente
os contornos da pele
ao longo do corpo
da cabeça aos pés

uma marca registrada e um lembrete
nada dura para sempre.

Skin Flick

skin
our miraculously
multifaceted
opaque cloak
hugs us firmly
shielding
from head to toe
against a choreography
of damages

skin
reveals in part
our body’s journey
from birth to death
and its abuse
tattooed
with scars and spots
etched with wrinkles

skin
imagine still photos
old and recent
followed
by a video shot
scanning
ever so slowly
skin’s contours
along the body
from head to toe

a hallmark and reminder
nothing endures forever.

Texto | text: Fred Fullerton

Fotografia | Photograph: Ana Gilbert

Fotografar palavras, um projeto do Paulo Kellerman. Dose diária de arte.

The Photographer works: A Ballet

Working
in her attic
studio
she
mirrors
a whirling
dervish
swirling
twirling
shuffling
gracefully
gliding
from one spot
to another…

Checking
her camera
re-focusing
testing
too
her lighting
calculating
highlights
shadows
distance

Consulting
a mirror
posing
standing
sitting
squatting
then rising
rising briefly
to a
demi-plié

Her thumb
repeatedly
presses
her
tiny remote
control
and
the shutter
clicks
clicks
and clicks
echoing
with
image
after
image

Satisfied
she stands
triumphantly
arms raised
exhaling
with a whoosh
cheeks
flushed
in a kind of
relevé
like a
ballerina.

Fred Fullerton, 2023

[thank you for your beautiful poem]

——-

A Fotógrafa Trabalha: Um Balé

Trabalhando
em seu estúdio
no sótão
ela
espelha
um
dervixe
rodopiante
girando
rodando
arrastando os pés
delizando
graciosamente
de um ponto
a outro…

Verificando
o foco
da sua camêra
testando
também
a luz
calculando
realces
sombras
distância

Consultando
um espelho
posando
em pé
sentada
agachanda
depois subindo
subindo brevemente
a um
demi-plié

Seu polegar
pressiona
repetidamente
seu
minúsculo
controle remoto
e
o obturador
clica
clica
e clica
ecoando
com imagem
após
imagem

Satisfeita
ela fica de pé
triunfante
braços erguidos
exalando
com um
suspiro
as faces
coradas
em uma espécie de
relevé
como uma
bailarina.

Fred Fullerton, 2023

 

 

 

 

The Photographer

For Ana

Her palette
of images

both
color
and
monochrome
speak
with
imagination
reflect
vividly
often
playfully

Her
thoughts
dreams
fantasies
life
with
intrigue
and
mystery

Her
portfolio
echoes
visually
an orchestra
but
what
music
would
accompany
it?

Samba
bossa nova
choro
axe
accented
with
cool jazz
riffs
or
the
haunting
melodies
and
lyrics
of
fado?

The photographer
shares
her
work
and
explores

light
shadows
angles
curves
textures
distortions
in objects
interiors
exteriors
landscapes
seascapes
and
people
their bodies

especially
one body

Hers.

Her
self-portraits
entice
tease
challenge
even
seduce
as
she
masks
her
face
and
body
with shadows
while
adding
contrast
with
playful
compositions
of
light

An observer
views
her
images
and
fantasizes …

running
a finger
across
her lips
then
kissing
them

stroking
her
body
slowly
gently
exploring
savoring

the
feel
of
her
skin
first
with
hands
then
with

lips …

Imagining
her
reaction
her
voice

sighing
or
moaning

and
what
might
follow

Her
photography
reveals
just
one
dimension
of
her.

Frederick Fullerton 2023

[thank you so much for your beautiful words]

Contornos

Com ternos contornos.
Com tudo e quase tudo
Convergimos em não
Convencionar.
Desarranjar como quem
Desnuda.
Convidar.
Com vida e ar.
Com penetrar.
Como não?
Contornar em duplo
Movimento
Como dupla
De bailarinos sobre
O gelo.
O que arde,
Por dentro,
Por entre…
Confidente.
Com amante.
Concordante
Movimento.
Com terno
Contorno.
Contornos.

Jorge Vaz Dias

Respirar

Por vezes, tudo o que apetecia era respirar. Respirar, simplesmente. E era o bastante.

Fotografar palavras # 4467

Liturgias

Poemas são orações que se escutam nas ruínas de um convento
São rezas matinais em busca da salvação
Poemas são murmúrios de monjas enclausuradas
Que escrevem palavras ilegíveis com os pés no chão de pedra
São como credos depositados no altar para dizer a nossa solidão
Poemas são cânticos de louvor entoados por anjos exilados
Em igrejas à espera de libertação
Anunciações de uma verdade pura e redentora
No ventre impossível de uma virgem estéril
Contas de um rosário de Ave Marias
A procurar narrar o mistério do mundo
Poemas são flagelos
Chagas abertas em corpos incomunicáveis e crucificados como o meu
Sem sacrifício ou Agnus Dei profético que o consiga resgatar
Poemas são rituais litúrgicos
Pautas de música gregoriana com o som da tua voz a ecoar dentro de mim
Livro de Salmos de um amor impossível.

Liturgies

Poems are prayers heard in the ruins of a convent
They are morning prayers in search of salvation
Poems are the murmurs of cloistered nuns
Who write illegible words with their feet on the stone floor
They are like creeds placed on the altar to tell of our loneliness
Poems are songs of praise sung by exiled angels
In churches waiting for liberation
Announcements of a pure and redeeming truth
In the impossible womb of a sterile virgin
Beads from a rosary of Hail Marys
Trying to narrate the mystery of the world
Poems are scourges
Open wounds on incommunicable and crucified bodies like mine
With no sacrifice or prophetic Agnus Dei to rescue it
Poems are liturgical rituals
Staves of Gregorian music with the sound of your voice echoing inside me
A book of Psalms for an impossible love.

Texto | Text: Ana Paula Jardim
Fotografia | Photography: Ana Gilbert

FOTOGRAFAR PALAVRAS, este nosso projeto bonito, criado e dinamizado pelo Paulo Kellerman