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“Formam-se assim lentamente crostas: dentro de cada ser, como dentro das casas de granito salitroso, as paixões tecem na escuridão e no silêncio teias de escuridão e de silêncio.”

Texto: Raul Brandão (Húmus)

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“Andávamos como pessoas com luzes acesas dentro. As palavras como lâmpadas na boca. Iluminando tudo no interior da cabeça.”

(Valter Hugo Mãe, A desumanização, p. 125)

Novo, de novo…

Primeiro azul do ano…

Céu e sombra

 

Borboletas

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens 
e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta –
Seria, com certeza, um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras 
do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças 
do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do 
que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que 
os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do 
ponto de vista de uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.
(Manoel de Barros, Ensaios fotográficos)

 

 


… suspensa, toco o vento, pressinto o vazio do espaço, disponho a trajetória da queda livre imaginada, mas livre de quê, se tenho medo da morte… e mais ainda de viver.

 

“Olhei o mar com a intensidade dos desesperados, dos loucos, dos idiotas: à procura de uma resposta, de uma fuga, de uma anestesia, de uma morte. Depois, sem coragem para me continuar a martirizar, levantei-me e caminhei alguns passos, lentos e contrariados: afastando-me de ti, do passado, da minha vida.”

Texto: Paulo Kellerman  (Areia | lado B, Os mundos separados que partilhamos)