Gosto

Gosto de cruzar as fronteiras.

Olga Tokarczuk (Sobre os ossos dos mortos)

Portable Link

Humanity: the ability to put ourselves in someone else’s shoes. If we choose not to do so, we are not human. We are something else, but not human. Something else. Something. 

Searching for meaning in life is like asking a mountain to explain what a kiss is.

Texts | Paulo Kellerman

Photos | Ana Gilbert

PORTABLE LINK , a dialogue between photography and literature

Ter nascido

“Ter nascido significa isto: não ser puro, não ser si mesmo, ter em si alguma coisa que vem de outro lugar, alguma coisa de estranho que nos leva a nos tornarmos a cada vez estrangeiros a nós mesmos.”

Emanuele Coccia (Metamorfoses, 2022)

Mesmo mundo

Nós somos um mesmo mundo e uma mesma substância”.

Emanuele Coccia (Metamorfoses)

[isto também é sobre Gaza]

“Somos essa vida que compartilha o corpo de um outro, prolongada e levada para outro lugar.”

Emanuele Coccia (Metamorfoses, 2022)

Luz

“eu deixei a luz em
dias como este conheço o
olhar sem imagens dentro”

valter hugo mãe (publicação da mortalidade)

[detalhe de anos-luz, instalação de bia lessa – mam]

Suspended

I lie suspended like a hair or a feather in the cloudy mixtures of memory.”

Lawrence Durrell (The Alexandria Quartet)

Se

Se fosse aguaceiro
Caía em ti como pena
Como cena de filme.
Como película
Que desvenda
Sopros no peito.
Leitos.

Jorge VAz Dias

I am made of volcanic ash
where pipe dreams and grief marry and clash

words: Ana Sofia Elias

[there are people who reflect and unfold us, who share wings and shadows]

Passado a limpo # 01 | por Paulo Kellerman

Era uma vez um professor de filosofia que repete as mesmas ideias turma após turma, como se fosse uma gravação e não estivesse realmente ali, de corpo e alma. A gravação refere-se ao mito de Sísifo. Explica a voz, distanciando-se do corpo, como um certo rei fora punido com o castigo eterno de erguer uma pedra gigante até ao cimo de uma montanha, apenas para depois a ver deslizar montanha abaixo, até ao ponto de partida. Explica a voz, mecânica e sem vida, como o rei repetia aquela tarefa vez após vez, apesar de saber que o desfecho seria sempre o mesmo, e o propósito inútil. Explica a voz, cansada e apática, como aquela conformação do rei em repetir uma tarefa sabendo qual a sua conclusão e irrelevância poderia ser uma metáfora poderosa do destino dos humanos, condenados a repetirem tarefas que não compreendem e não controlam. Explica a voz, desinteressada do que diz, algumas das implicações filosóficas possíveis de especular a partir da postura do rei castigado, e como poderiam ter ressonância em todas as pessoas que as especulassem, incluindo os jovens que se encontram à sua frente.

– E a pedra?

A gravação emperra. A interrupção é inesperada, e a voz vê-se forçada a suspender o discurso automático. Há silêncio na sala de aula.

– Todo o foco está no rei. Mas e a pedra?

A turma agita-se, o professor pede explicações.

-Talvez o protagonista do mito não seja o rei e a sua teimosia absurda. Talvez o que importa realmente seja a pedra, e o seu comportamento. Porque insiste em regressar sempre ao ponto de partida? Não pode ser apenas por força da gravidade ou assim. Isso seria uma explicação científica, e os mitos não são lugares de ciência. Para mim, acho que é por resistência. O rei é teimoso, a pedra é resistente. Ou seja, a pedra tem mais personalidade do que o rei.

É a sétima aula do dia. E a primeira vez que o professor sorri.

Paulo Kellerman

Passar música

‘Passar música’ é uma arte que o Jorge VAz Dias domina com perfeição. Desde o aquecimento do ambiente, momento em que as pessoas estão entretidas nas conversas em pequenos grupos, até o ápice onde os corpos conversam na pista de dança, num contágio mútuo, levados pela energia incrível do Jorge.

Um obrigada gigante ao @djcut_s por essa noite e pela generosidade em se deixar fotografar. E ao @osfilipesbar, por ser espaço de materialização dessa força coletiva.