Ama-me

“Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.”

Hilda Hilst (II, Júbilo, memória, noviciado da paixão)

real da vida

“No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam.”

João Guimarães Rosa (Grande sertão: veredas)

nava

já há um relâmpago ao
invés do homem
que combate à noite
a tua ausência

Valter Hugo Mãe (publicação da mortalidade)

O meu nome

“O meu nome é essa cicatriz
que insistes que sabes ler
só porque a fizeste.”

[My name is that scar
you insist you know how to read
just because you made it.
]

Gisela Casimiro (Giz)

As imagens

“As imagems poéticas têm, também elas, uma matéria.”

Gaston Bachelard (A água e os sonhos)

Serenidade

“Perco a consciência, mas não importa, encontro a maior serenidade na alucinação.”

Clarice Lispector (Perto do coração selvagem)

A(ero)NA(ve)S

Duas Anas numa aeronave improvisada a (des)pilotar a caminho de. Pausa e ponto de interrogação. Tocamo-nos no escuro e iluminamos arquipélagos. Fluida-Mente.

Esta é uma colaboração especial que nasceu de um exercício de escrita orgânico e fascinante entre mim e a Ana e de um lugar de curiosidade mútua.

A(ero)NA(ve)S

{~Texto zipado para desdobrar em imagens~}

e o que queres fazer?

Eros, erótico, está sempre presente na criação

O dedo (in)vísivel

que percorre a pele da palavra

e os poros da fotografia.

Captar o hálito da imagem

e fugir do hábito da palavra

para habitar a palavra

que faz montanhas parirem retratos

|| parir em retratos

o desejo que se vê

dentro da cabana do acento circunflexo

havia fios de trama || ou ele passa por baixo || ou ele passa por cima ||

dos fios de urdume ||

é o jacquard de entre_peles

que nos veste a timidez

e desloca inflexões

  – Passa-me um Marlboro. Ali atrás da persiana

(ecoo-me para tocar-te)

O arranha-céus de jacquard rasga o tecto da cabana

Delírio a céu aberto.

*****

[O texto foi escrito a quatro mãos com a Ana Sofia Elias | a foto é minha]