Versos do prisioneiro – A sentença (segunda leitura)

Você
tem que aprender
a respeitar a vida humana, disse o juiz.

Parecia justo.

Mas o juiz
não sabia que, para muitos,
a vida não é humana.

O prisioneiro retorquiu:
há muito me demiti de ser pessoa.

E proferiu, por fim:
um dia,
a nossa vida será, enfim,
viva e nossa.

Mia Couto [poemas escolhidos]

Nota

há sempre uma nota
que escapa
e arranha
o corpo da música

[there is always a note
that escapes
and claws
the body of the music]

Nude # 1

Each morning a vision came to me. Gradually I understood that these were naked glimpses of my soul.

I called them Nudes.

Nude # 1. Woman alone on a hill. She stands into the wind.”

Anne Carson (The glass essay)

Fotografar poemas

Vem lentamente o sono
Premeditando o sonho.
O sonho que filma
O desejo.
O desejo que alimenta
O futuro.
A vida que é o teu fruto
E o mundo ser
A terra onde a árvore
Cresce, sendo esse futuro.
Lentamente nos encontramos
Na natureza de assim sermos.
Basta tornares-te
Para a luz.
Eu estarei no beijo,
Essa brisa que faz
Tilintar os ramos
As folhas e as raízes.
Amaciar também a pele
Do fruto.
Enquanto teço
Este desejo me pergunto:

E não basta isto tudo
Para nos termos
Para sempre?

Jorge Vaz Dias [@livre_no_vento_das_palavras]