Dois anos de sutilezas…

Dois anos…

Obrigada a todos os que de alguma forma participaram deste percurso: aos que passaram rapidamente, aos que se demoraram, aos que conversaram, aos que me entregaram seus silêncios… porque o blog também se faz com os seus olhares…

Agora você vai ter que assumir as suas irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens.

(Manoel de Barros, Ensaios fotográficos)

 

 

Ponto

Texto | Ana Gilbert

Sou um ponto. Giro, giro, até perder-me. Retorno. Descubro, encontro. Perco. Perco sempre. E volto a encontrar (-me). Aqui.

(Foto e texto a partir da proposta de Inesa Markava, por ocasião da performance coreográfica na exposição “O mundo é redondo”, de Rachel Caiano.)

Texto | Ana Gilbert

Onde fica este lugar em mim quando me perco dele, simplesmente se desvanece ou continua a existir em segredo nesse nada, nesse mundo?

Best of

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Best of é o novo livro de Paulo Kellerman em parceria com a ilustradora Lisa Teles (Edição Escaravelho). São seis contos, seis gravuras, seis objetos. Palavras, texturas, traços, formas, cores. Materialidade que aguça os sentidos e a imaginação e provoca outras imagens, inúmeras, que se desdobram e convidam o leitor a continuar nelas (sim, porque os textos carreiam imagens), a explorá-las e a ir além.

O fio que une os textos e as imagens refere-se à busca de si, à consciência de si, ao susto da descoberta e à solidão intrínseca a esse processo. Os diálogos que acontecem entre o eu e o outro, um outro ao mesmo tempo externo e interno, revelam mundos separados, desencontros dolorosos, encontros às avessas, ânsia por intimidade e o medo dela. A angústia de ser quem se é convive com a busca pela liberdade de ser, de viver. As imagens e os textos nos fazem pensar em como nos percebemos ao sermos vistos por alguém, como nos mostramos, ou não, ao outro, como nos escondemos de nós; expectativas e decepções; anseios, vazios e obsessões; prazer. Tudo reunido e pensado num corpo, por vezes quase ausente (como se fosse possível), por vezes insuportavelmente presente.

Vazios (cheios de tanto!) que se disfarçam sob a forma de pensamentos, emoções, desejos, sonhos, fantasias; voláteis e impalpáveis como o ar, materiais e concretos como o ar. Silêncios que pesam e gritam para nós, sobre nós, que nos espantam com as suas vozes assustadoramente familiares. Olhares que preenchem, que atravessam, que pedem, que tocam. Que veem.

Sabemos que texto e imagem compõem ‘substâncias’ diferentes, e não são mera reprodução um do outro. As belas ilustrações criam narrativas autônomas que, se por um lado oferecem novos sentidos aos textos, por outro, comportam, elas próprias, outros fios narrativos possíveis. Somos delicadamente capturados e surpreendemo-nos a perguntar, a imaginar, a olhar por cada uma dessas janelas.

Textos e imagens instigam, questionam, desassossegam. Enchem os olhos de poesia. E de algo mais.

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Diálogos narrativos

Colaboração com Paulo Kellerman

“E então senti uma dor tão visceral, tão imensa, tão desconcertante, que a única coisa que consegui fazer para lhe fugir foi esmurrar o meu reflexo no espelho, uma e outra vez, com ambas as mãos, com toda a força que possuía, tentando desesperadamente que a dor física suplantasse por um segundo (bastaria um segundo) a outra dor que se apoderara de mim, tentando desesperadamente que a dor física me distraísse da dor da perda e da impotência, da dor do desespero, da dor do ódio. Fui esmurrando o meu reflexo no espelho, fui esmurrando-me.”

Almas Desligadas | com Paulo Kellerman

Fotografar palavras #1738

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“Hoje convidei-te para tomar um café, ou um chocolate quente, algo que nos aqueça o olhar ou nos aqueça por dentro e é um bom começo. Ha-de haver sempre um bom começo e sempre dá para te olhar mais de perto e quando te olho mais de perto apaixono-me mais. Quando te olho mais de perto por apenas aqueles segundos em que bebes o café, sou feliz para sempre, juro, se tu soubesses que te pago o café para me apaixonar todos os dias por ti, ficavas ali de chávena na mão a vida inteira. E eu apaixonava-me, sempre, vestia-me de ti, todas as vezes. Sim porque estar apaixonado é estar vestido de alguém. E nunca se está mal vestido quando se está apaixonado.”

Fotografar palvras

Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Jorge Gomes Pereira
Foto | Ana Gilbert

Relevos

Auto-retrato 162 1

“O que sentirá o meu corpo com o teu abraço, depois de ter sido tocado pelo teu olhar?”

Texto e foto | Ana Gilbert