Demolição

Juramento
Hei-de aprender a fazer jardins
dentro dos meus olhos.

Cumprido
Colho as tuas flores de sol
dentro dos meus olhos.

Poemas de Joana M. Lopes, do livro Demolição (Ideia-Fixa, 2023)

Porque a dor, a morte, a ruína, o desespero, a falta também são feitos de beleza.

Sonhando rajadas

O livro A chama de Adrião Blávio (2020), de Joana M. Lopes, é hipnótico em sua beleza poética e cortante. É inesgotável na capacidade de suscitar imagens em mim. A cada leitura, uma torrente de possibilidades imagéticas se apresenta e, eventualmente, sinto vontade de coagular uma delas em fotografia. Como agora. Mesmo sabendo que é apenas uma leitura parcial e imprecisa de algo muito maior.

——-

Sonhando rajadas

Dissolução e êxtase. Verdade ancestral, antes do pensamento. Pássaros com olhos feitos de vento. Asas sou e nuvens e um bico flamejante atravessando um tecto em absoluta expansão. É o perfume da Tília que se espalha, é o pólen que em ti dança e explode, Lázara, hipnótica brisa na seara. Toco-te em toda parte, pois és em todo o lado. Orgia intocável do tudo. Pulmões como grutas insufladas do teu nome. Vento inaugurando o mundo. Respiro-te, Lázara: hálito quente, palpitação carnívora, eco cardíaco repercutido no ar. Rajada absoluta onde me desagrego.

Fotografar palavras #3768

É sabido que nas horas incertas os fios da imaginação tecem mantos que embrulham o coração no medo e que o medo, por espiralados enigmas que regem o universo infinito dos pensamentos, ganha voz e fala como gente.”

[It is known that in uncertain hours the threads of imagination weave cloaks that wrap the heart in fear and that fear, through spiraling enigmas that govern the infinite universe of thoughts, gains voice and speaks like people.]

Texto | Text: Joana M. Lopes
Fotografia | Photography: Ana Gilbert

Fotografar palavras, o projeto bonito do Paulo Kellerman. A nossa casa criativa.

Urgência

A caminho do peito denso do mato, rasga as roupas – porque toda a natureza emerge de um ritual de sentidos e é urgente a presença completa do corpo.

Eda e o riso, conto de Joana M. Lopes, na Antologia Minimalista

Minimalista Editora

Cigarros | A chama de Adrião Blávio

Ainda não tenho o novo romance da Joana Lopes comigo, mas pelo que fui lendo aqui e ali, entre excertos, resenhas e comentários, sinto que “A chama de Adrião Blávio” é profundamente poético e transbordante de imagens. Mesmo sabendo que a imagem fotográfica não dará conta das belíssimas imagens construídas pelas palavras, atrevi-me a fotografar o excerto abaixo…

“Cigarros

Sinto vontade de fumar. Imagino que fumo um SG Filtro enquanto pinto um quadro para ti. O tecto é a grande tela onde nos recrio. Pinto-nos corpos porosos, cubro-os com musgos mornos e húmidos. Depois, das nossas cabeças, faço voar uma rajada de pombas. Pombas límpidas feitas de cristais e da luz que chega ao quarto através da janela. Pombas levantadas das nossas ideias para voar em círculos no espaço. Aves alabastrinas que de súbito afundam os bicos e as garras nos nossos peitos. Lázara, há pássaros brancos ensanguentados; criaturas magnânimas que nos libertam da doença e, ao desaparecerem pela janela, levam-nos as almas nas asas.”

A chama de Adrião Blávio | Joana M. Lopes
Alêtheia Editores

“Há uma vertigem temporal entre mim e os objetos e sinto-me a desequilibrar entre o antes e o agora.”

Palavras | Joana M. Lopes