Fotografar palavras # 4183

Vou à janela nas noites escuras, ouço o vento. Espero. Um mês é um sopro. Anos são pó nos desígnios da missão que tracei.  

I go to the window on dark nights, listen to the wind. I wait. A month is a breath. Years are dust in the paths of the mission I have traced.

Fotografar palavras, projeto do Paulo Kellerman e de todos nós.

Texto | Text: Andreia Azevedo Moreira
Fotografia | Photograph: Ana Gilbert

Esclarecimento

A mulher desdobra lentamente a lona e prende-a à parede. Muita gente passa ali àquela hora, mas quase ninguém repara na mulher e na sua lona, onde está escrito “liberdade confunde-se com vulnerabilidade”. Durante algum tempo, as pessoas continuam a passar, a lona continua a ser ignorada. Até que a mulher se começa a despir, até ficar completamente nua. E de repente a lona passa a ser lida; e a fazer sentido.

Clarification

The woman slowly unfolds the canvas and secures it to the wall. A lot of people pass by at that hour, but almost nobody notices the woman and her canvas, where it says “freedom is confused with vulnerability”. For some time, people continue to pass by, the canvas continues to be ignored. Until the woman begins to undress, until she is completely naked. And suddenly the canvas is read; and makes sense.

Paulo Kellerman

Portable Link: a dialogue between photography and literature

Associazione Culturale Focus

15/03/2023 | 17 horas (Brasil)

A convite da Associazione Culturale Focus, conversarei sobre fotografia e o livro Geografias Corporais, com Fabiana Mingoni e Paulo Kellerman.

(acesso livre – o link será disponibilizado próximo à hora do evento)

Fotografar palavras #3834

Dizes que o teu corpo sonha,
Que os teus dedos sonham
A tua pele,
Os teus lábios.

Dizes que o teu coração sonha.

E os teus olhos.
Dizes que os teus olhos sonham tanto,
Mas tanto,
Mesmo quando estão fechados.
Especialmente quando estão fechados.

Como sangue,
Dizes tu.

Sorris e explicas
Que o teu corpo está repleto de multidões de sonhos
Entranhados nas tuas células.
Do lado de dentro das células.
Na alma de cada uma das células.

Sorris
E explicas que são esses sonhos que te dão vida.
Como se fossem sangue.

Um fluxo permanente e imparável
De sonhos.

Gostava de te fazer uma pergunta:

Se o teu corpo tem em si todos esses sonhos,
Porque não os sinto quando me beijas?

Apenas me dás saliva.
Não sinto sangue
Nem sonhos.


[You say your body dreams,
your fingers dream
Your skin,
Your lips.

You say your heart dreams.

And your eyes.
You say your eyes dream so much.
But so much,
Even when they are closed.
Especially when they are closed.

Like blood,
You say.

You smile and explain
That your body is full of multitudes of dreams
Ingrained in your cells.
Inside the cells.
In the soul of each of the cells.

You smile
And explain that those dreams are what give you life.
As if they were blood.

A permanent and unstoppable flow
Of dreams.
I would like to ask you a question:

If your body has all those dreams in it,
Why can’t I feel them when you kiss me?

You just give me saliva.
I do not feel blood
Nor dreams.]

Texto | Text: Paulo Kellerman
Fotografia | Photography: Ana Gilbert

Fotografar palavras

Cumplicidade bonita entre palavra e imagem, entre literatura e fotografia, entre escritores e fotógrafos. Dose diária de poesia, desde 2016.

Geografias Corporais

A cortina abre… o espetáculo vai começar…

Sou o primeiro a chegar à sala de
espectáculos. Enquanto espero vou
pensando em coisas sem importância.
Pergunto-me se as árvores terão frio à noite ou se os livros que estão nas livrarias ficarão muito nervosos por não saberem quem os levará para casa ou se no falar dos cães haverá um ladrar para dizer a palavra “borboleta” ou se será possível os pássaros darem abraços ou porque nunca se escuta o som das nuvens quando passam pelo céu.
A minha cabeça é o único sítio onde sou realmente livre, e lá posso pensar coisas palermas sem que ninguém me chateie ou ria. Posso pensar em pássaros ou livros, posso pensar na angústia que as canetas sentirão quando se lhes acaba a tinta; ou em cadeiras. Porque enquanto espero outra coisa que me pergunto é se haverá um motivo para me ter sentado na cadeira onde estou, quando todas as outras estavam livres e poderiam ser uma opção. O que terão pensado de mim as cadeiras que não escolhi?

É nisto que estou a pensar quando ela entra e olha a sala. Depois de uma breve hesitação, avança rapidamente entre as cadeiras e senta-se. Poderia escolher qualquer outro lugar mas senta-se mesmo ao meu lado, ignorando todas as outras cadeiras livres.
Fico quieto, à espera. É bom esperar, mesmo quando se sabe que não irá acontecer nada.
Na liberdade da minha cabeça penso: cheira tão bem, que perfume usará?
Mas tudo o que a minha voz é capaz de dizer é:

Boa noite.


GEOGRAFIAS CORPORAIS

Fotografia: Ana Gilbert | Texto: Paulo Kellerman

Alter Edições, 2022.

Design Gráfico: Licínio Florêncio | Coordenação Editorial: Eder Ribeiro

encomendas: geografiascorporais@gmail.com

[ENGLISH VERSION AVAILABLE]

O canto

Há sempre um momento em que sente no seu corpo: vão cantar; e nesse instante, os pássaros cantam. Serão eles que mantêm o mundo em movimento com o seu canto?

[There is always a moment when she feels in her body: they are going to sing; and in that instant, the birds sing. Are they the ones who keep the world moving with their singing?]

Paulo Kellerman

E chegaram a Portugal…

GEOGRAFIAS CORPORAIS

Uma colaboração Brasil-Portugal

Fotografia: Ana Gilbert
Texto: Paulo Kellerman

Alter Edições, 2022

Projeto Gráfico: Licínio Florêncio
Coordenação Editorial: Eder Ribeiro

encomendas / orders:
geografiascorporais@gmail.com

[ENGLISH VERSION AVAILABLE]

Lançamento do livro GEOGRAFIAS CORPORAIS

É com grande alegria que anuncio a publicação de GEOGRAFIAS CORPORAIS, livro com fotografias minhas e contos inéditos do querido amigo Paulo Kellerman.

Poderia dizer muitas coisas sobre o livro; sobre os 4 anos de trabalho intenso, sobre as idas e vindas até chegar a este momento. Ou sobre o quanto sou grata a cada um dos bailarinos da Pulsar Companhia de Dança e do grupo Te Encontro lá no Cacilda, por me receberem de braços abertos; ao Paulo, por embarcar comigo nesta aventura maravilhosa; ao Licínio Florêncio, ao Éder Ribeiro, à Alter Edições e à Pigma, por nos ajudarem a materializar este sonho.

Porém, o que sinto é que não há palavra capaz de traduzir a emoção que me vai cá dentro ao vê-lo no mundo. [sorrio]

APRESENTAÇÃO em breve!!

Já podem reservar / encomendar pelo email:
[for orders]
geografiascorporais@gmail.com

[ENGLISH VERSION AVAILABLE]


Geografias Corporais é um projeto desenvolvido em 2018 com a Pulsar Companhia de Dança o grupo de pesquisa sobre o movimento Te Encontro lá no Cacilda. Surgiu no âmbito de uma publicação acadêmica sobre arte, estética de resiliência, corpo, deficiência e as múltiplas corporeidades, com o intuito de questionar e desestabilizar a ideia de corpo normal como universal. O projeto tornou-se, ele mesmo, uma produção artística, entrelaçando fotografia e literatura. Ganhou corpo, infiltrou-se na pele, tomou conta de boa parte da vida durante quatro anos. Envolveu pessoas e afetos. Partes dele foram publicadas aqui e ali. E agora, torna-se do mundo. Por inteiro.

A Sonhadora

A Sonhadora é resultado de uma cumplicidade entre imagem e palavra, entre contadores de histórias. Às narrativas que são contadas pelo corpo e pelas fotografias, soma-se a que é contada pelo texto. Juntas, descortinam outro fios narrativos possíveis; instigam o leitor a mergulhar nas múltiplas camadas das imagens e do texto e a sonhar suas próprias histórias.

História completa aqui.

Fotos: Frankie Boy

Texto: Ana Gilbert

————————————

The Dreamer is the result of a complicity between image and word, between storytellers. In addition to the narratives that are told through the body and through the photographs, there is also what is told through the text. Together, they reveal other possible narrative threads; they instigate the readers/viewers to dive into the multiple layers of images and text and to dream their own stories.

Full story here.

Photos: Frankie Boy

Text: Ana Gilbert

Canto visivo

“…questo canto visivo
è di chi crede
…”

[this visual song
belongs to those who believe
]

Barrio Gotico (Corde Oblique)