Bagagem

Bagagge

Gosto de imaginar que o tempo é um autocarro em andamento. O tempo avança, tal como um autocarro avança; e nós lá dentro. Um autocarro que tem janelas que nos permitem olhar para além do tempo; e fixar. (O tempo transporta-nos: somos passageiros do tempo.) O olhar é o mecanismo de que dispomos para trazer para o interior do autocarro – do tempo – aquilo que consideramos importante.

Aquilo que vemos fica guardado no nosso interior, integrando-se em nós; e nós fazemos parte do tempo: porque estamos no interior do autocarro. (Transportamos o tempo: o tempo é nosso passageiro.) O tempo leva-nos consigo, a nós e a todos os pedaços de vida que recolhemos quando olhamos; à vida que vamos acumulando, compondo a nossa bagagem. Espantos. Ternuras. Prazeres. Enigmas. Partidas. Esperas. 

*****

I like to imagine that time is a moving bus. Time moves forward, just as a bus moves forward—with us inside. A bus with windows that let us look beyond time and hold on to what we see. (Time carries us: we are passengers of time.) Our gaze is the mechanism we have to bring into the bus—into time—what we deem important.

What we see is stored within us, becoming part of who we are; and we are part of time, for we are inside the bus. (We carry time: time is our passenger.) Time takes us along, together with all the fragments of life we gather as we look; with the life we accumulate, composing our baggage. Wonders. Tenderness. Pleasures. Enigmas. Departures. Waiting.

Texto | Text: Paulo Kellerman

Portable link

A(ero)NA(ve)S

Duas Anas numa aeronave improvisada a (des)pilotar a caminho de. Pausa e ponto de interrogação. Tocamo-nos no escuro e iluminamos arquipélagos. Fluida-Mente.

Esta é uma colaboração especial que nasceu de um exercício de escrita orgânico e fascinante entre mim e a Ana e de um lugar de curiosidade mútua.

A(ero)NA(ve)S

{~Texto zipado para desdobrar em imagens~}

e o que queres fazer?

Eros, erótico, está sempre presente na criação

O dedo (in)vísivel

que percorre a pele da palavra

e os poros da fotografia.

Captar o hálito da imagem

e fugir do hábito da palavra

para habitar a palavra

que faz montanhas parirem retratos

|| parir em retratos

o desejo que se vê

dentro da cabana do acento circunflexo

havia fios de trama || ou ele passa por baixo || ou ele passa por cima ||

dos fios de urdume ||

é o jacquard de entre_peles

que nos veste a timidez

e desloca inflexões

  – Passa-me um Marlboro. Ali atrás da persiana

(ecoo-me para tocar-te)

O arranha-céus de jacquard rasga o tecto da cabana

Delírio a céu aberto.

*****

[O texto foi escrito a quatro mãos com a Ana Sofia Elias | a foto é minha]

Loucura

Madness

Como quebrar a linearidade do tempo, como desafiar o destino, como enganar o futuro e torná-lo mesmo inesperado? Já alguma vez pensaste nisso?

***

How can one break the linearity of time, challenge fate, deceive the future, and make it truly unexpected? Have you ever thought about that?

Paulo Kellerman

Portable link

“Read the energy that lies in my silence.”

“Lê a energia que está no meu silêncio.”

Clarice Lispector (Água viva, 1998)

Conseguirei?

If I stopped looking at myself in the mirror, would I be able to forget my face? Would I be able to forget how I am, what I am, who I am? Would I be able to forget myself?

Será que se deixar de me olhar ao espelho conseguirei esquecer o meu rosto? Conseguirei esquecer como sou, o que sou, quem sou? Conseguirei esquecer-me?

Texto| text: Paulo Kellerman

Portable link

Fotografar palavras # 4999

Na publicação # 4999 do Fotografar palavras, a parceria é com o querido Jorge VAz Dias.

Há sempre alguma solidão
Em quartos de hotel
Tal como um prenúncio
De escandaleira.
Há quem se suicide
Neles
E há que morra por segundos
Por prazer.

There is always a certain loneliness
In hotel rooms
Like a prelude
To scandal.
Some people commit suicide
There
And some die for seconds
For pleasure.

Texto | Text: Jorge VAz Dias

Fotografar palavras, projeto bonito do Paulo Kellerman. Nossa casa poética; lugar de encontros e afetos. Desde 2016.

a certain way

There is a certain way of breathing in which the body enters into perfect harmony with the universe; a way in which they breathe together. It’s something you practice. Or that you imagine.

Text by Paulo Kellerman

Portable Link, a dialogue between photography and literature

FOTOGRAFAR PALAVRAS # 4970

There are days when language is useless.

Há dias em que a linguagem é inútil.

[foto minha para o texto da Mónia Camacho]

É sempre uma alegria receber um texto, saboreá-lo até desdobrá-lo em imagens e escolher uma (ou mais) que irá se coagular em fotografia.

É sempre uma alegria quando, ao ver a publicação no Fotografar Palavras, descubro que a autora é a querida Mónia Camacho.

Obrigada, Paulo Kellerman, por este lugar de encontros e afetos bonitos.

Projeto Fotografar Palavras, diariamente, desde 2016.

Diálogos

Uma das coisas mais bonitas da arte são os diálogos que ela permite. É sempre um prazer e uma honra descobrir que meu trabalho inspira outros artistas.

Desenho por Anxiety Rush, artista que passeia pela música, fotografia e desenho.

by Anxiety Rush

I feel you

Untouchable pt. 2 (Anathema)

Why I should feel this way?
Why I should feel this way?
Why I should feel the same?
Something I cannot say
Something I cannot say
Something I can’t explain

I feel you outside at the edge of my life
I see you walk by at the edge of my sight

Why I should follow my heart?
Why I should follow my heart?
Why I should fall apart?
Why I should follow my dreams?
Why I should follow my dreams?
Why I should be at peace?

I feel you outside at the edge of my life
I see you walk by at the edge of my sight

I had to let you go to the setting sun
I had to let you go and find a way back home
I had to let you go to the setting sun
I had to let you go and find a way back home

(When I dream, I see you)
(When I dream, I see you
)

I’ve never seen a light that’s so bright
I’ve never seen a light that’s so bright
I’ve never seen a light that’s so bright
Blinded by the light that’s inside
Blinded by the light that’s inside
Blinded by the light that’s inside you

I had to let you go to the setting sun
I had to let you go and find a way back home