
“Senti o cheiro de água doce no lençol que recobria a cama, e por muito tempo resisti ao sono, tentando acalmar o interior de meu corpo que ainda pulsava vivo ao afeto que havia recebido.”
Itamar Vieira Junior ( Torto arado)

“Senti o cheiro de água doce no lençol que recobria a cama, e por muito tempo resisti ao sono, tentando acalmar o interior de meu corpo que ainda pulsava vivo ao afeto que havia recebido.”
Itamar Vieira Junior ( Torto arado)

“O que é sondado pela escuta é a intimidade, o segredo do coração: o Erro.”
Roland Barthes (O óbvio e o obtuso)

“se não sais de ti, não chegas a saber quem és.”
José Saramago (O conto da ilha descoonhecida)


two lovers embrace
old bed springs chant rhythmically
it might not be love
Frederick Fullerton (2023)

more distant than stars
and nearer than the eye
T.S.Eliot


“morning fog lingers
erases night’s fantasies
alone and naked”
Haiku # 59 by Frederick Fullerton (2023)






Você
tem que aprender
a respeitar a vida humana, disse o juiz.
Parecia justo.
Mas o juiz
não sabia que, para muitos,
a vida não é humana.
O prisioneiro retorquiu:
há muito me demiti de ser pessoa.
E proferiu, por fim:
um dia,
a nossa vida será, enfim,
viva e nossa.
Mia Couto [poemas escolhidos]

[releituras | reinterpretations. Pina Bausch]


há sempre uma nota
que escapa
e arranha
o corpo da música
[there is always a note
that escapes
and claws
the body of the music]



Questionamento
A imortalidade da alma?
Só penso nisso quando estou distraída
E nunca ao amanhecer e antes de tomar café
Que ainda carrego as ideias doentes de noites mal dormidas
A minha noção de alma é mais homérica
Tipo fumaça ou sombra que se desprende do corpo
Ou então um sopro em vão à maneira de Anaxímenes
Também tenho almas místicas, órficas e pitagóricas
Depende dos dias
Nunca platónicas de forma imortal
Não vá a reminiscência de algum marginal
Criminoso ou esquizofrénico fazer ninho dentro de mim para sempre
Não sei nada sobre estas questões
Nem tenho paciência para as discutir em dias que tenho a mente do avesso
Só sentir a alma em quedas verticais dentro de mim.
Questioning
The immortality of the soul?
I only think about it when I’m distracted
And never at dawn and before drinking coffee
Because I’m still carrying the sick ideas of bad nights
My notion of the soul is more homeric
Like smoke or a shadow that detaches itself from the body
Or a breath in vain in the manner of Anaximenes
I also have mystical, Orphic and Pythagorean souls
It depends on the day
Never platonic in an immortal way
Don’t go reminiscing about some outcast
Criminal or schizophrenic nest inside me forever
I don’t know anything about these issues
Nor do I have the patience to discuss them on days when my mind is inside out
I can only feel my soul falling vertically inside me.
Texto | Text: Ana Paula Jardim
Fotografia | Photography: Ana Gilbert
Fotografar palavras, a nossa casa de criação. Projeto criado e coordenado por Paulo Kellerman. Publicações diárias, desde 2016.





“Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta.”
Hilda Hilst