Luz

A luz da janela
sobe pelas folhas verdes
ao topo das árvores.

Yosa Buson (A borboleta e o sino)

Tradução: Sérgio Medeiros

Fotografar palavras #2663

É sempre um desafio receber um texto (desconhecendo a autoria) e fazer uma leitura fotográfica das palavras. Muitas imagens surgem, mas apenas uma (às vezes, mais de uma) vai se coagular como fotografia. Este é o exercício criativo diário do Fotografar palavras, de Paulo Kellerman, projeto vigoroso e estimulante que reúne fotógrafos e escritores em torno do fascínio por palavras e imagens.

Hoje, mais uma nova parceria:

“Hoje caminhei por entre os teus pés sem que os pisasse. Não deste por mim. Respirei-te no mesmo compasso que faz dos dias noites. Não me sentiste. Fiz-me escura na brancura da tua pele, quando se encheu de luz. Persegui-te. Tentei libertar-me de ti. Não permitiste, continuaste a encher-te de luz, mesmo na podridão do dia acabado, no artificial do teu leito. Fixei-me sobre as palavras que lias, murmurei-as contigo, sem que me ouvisses. Fiz-te cansar sobre o desvanecer das horas e finalmente apagaste a luz. E finalmente fui.”

Texto: Elisabete Neves
Foto: Ana Gilbert

Fotografar palavras #2240

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“o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade
um estremecimento
como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão
braços de quente e luz a inundar o peito
como se fora o brotar de flores num campo seco
os lábios a chegarem-se aos teus
uma inquietação
a pele a vestir-se de água
um sorriso      um grito      murmúrios
em chão de silêncio”

 

Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Isabel Pires
Fotos| Ana Gilbert

Fotografar palavras #2104

“deve existir um alfabeto ou código para dizer
da camada indefinível que me leva a ti
do espanto
do conjunto em busca da harmonia que não quer chegar a ser
para se manter vontade
uma qualquer mistura dos silêncios em luz      entrecortados a bocas
e o corpo em desejo desenhado a mar e céu

vamos para ali
dito assim      meio lei meio convite

podia bem ser o era uma vez 
das histórias com corações apressados 
o murmúrio do grito de guerra      em amor
que desperta e incita

vamos
dito assim      sem som      a fazer caminhos”

Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Isabel Pires
Foto| Ana Gilbert

O meu corpo tem saudades do teu olhar.

***

“é no silêncio que um corpo clama pelo outro.”

(João Anzanello Carrascoza, Caderno de um ausente | Trilogia do adeus)