
“A luz da janela
sobe pelas folhas verdes
ao topo das árvores.”
Yosa Buson (A borboleta e o sino)
Tradução: Sérgio Medeiros

“A luz da janela
sobe pelas folhas verdes
ao topo das árvores.”
Yosa Buson (A borboleta e o sino)
Tradução: Sérgio Medeiros

É sempre um desafio receber um texto (desconhecendo a autoria) e fazer uma leitura fotográfica das palavras. Muitas imagens surgem, mas apenas uma (às vezes, mais de uma) vai se coagular como fotografia. Este é o exercício criativo diário do Fotografar palavras, de Paulo Kellerman, projeto vigoroso e estimulante que reúne fotógrafos e escritores em torno do fascínio por palavras e imagens.
Hoje, mais uma nova parceria:
“Hoje caminhei por entre os teus pés sem que os pisasse. Não deste por mim. Respirei-te no mesmo compasso que faz dos dias noites. Não me sentiste. Fiz-me escura na brancura da tua pele, quando se encheu de luz. Persegui-te. Tentei libertar-me de ti. Não permitiste, continuaste a encher-te de luz, mesmo na podridão do dia acabado, no artificial do teu leito. Fixei-me sobre as palavras que lias, murmurei-as contigo, sem que me ouvisses. Fiz-te cansar sobre o desvanecer das horas e finalmente apagaste a luz. E finalmente fui.”
Texto: Elisabete Neves
Foto: Ana Gilbert


Esta foto está na Revista Pausa na Rede| Expressões artísticas em tempos de quarentena (2a. edição 2020)
@casa_clic
Revista completa: https://alegrar.com.br/suplemento-26/

“Fiquei acompanhada pelo silêncio; sem vontade de conversar com ele; sem vontade de ter a sua companhia.”
Palavras | Paulo Kellerman (Aviões de papel)
Uma edição Minimalista

“escutar
de todo o modo
é prece”
Palavras | Valter Hugo Mãe (Publicação da mortalidade)



“A extensão máxima do sofrimento se atinge no silêncio.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Joana M. Lopes
Foto| Ana Gilbert

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“o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade
um estremecimento
como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão
braços de quente e luz a inundar o peito
como se fora o brotar de flores num campo seco
os lábios a chegarem-se aos teus
uma inquietação
a pele a vestir-se de água
um sorriso um grito murmúrios
em chão de silêncio”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Isabel Pires
Fotos| Ana Gilbert


A minha casa é feita de luz e sombra, ausência e dor.



“deve existir um alfabeto ou código para dizer
da camada indefinível que me leva a ti
do espanto
do conjunto em busca da harmonia que não quer chegar a ser
para se manter vontade
uma qualquer mistura dos silêncios em luz entrecortados a bocas
e o corpo em desejo desenhado a mar e céu
vamos para ali
dito assim meio lei meio convite
podia bem ser o era uma vez
das histórias com corações apressados
o murmúrio do grito de guerra em amor
que desperta e incita
vamos
dito assim sem som a fazer caminhos”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Isabel Pires
Foto| Ana Gilbert

O meu corpo tem saudades do teu olhar.
***
“é no silêncio que um corpo clama pelo outro.”
(João Anzanello Carrascoza, Caderno de um ausente | Trilogia do adeus)

Percebo-te no espanto desta imensidão ausente. Encanto.

Às vezes tento fotografar o silêncio. Nem sempre consigo.
