Casa da infância…

n.º 30

Regresso uma e outra vez à casa da minha infância. Os cheiros, os esconderijos, os lugares de cada coisa e de cada um mantêm-se, ainda, inalterados.
Evito o caminho para o interior. Subo a escada e recordo a textura do cimento fresco. Degrau a degrau, subo e penso nas inúmeras vezes que os pisei, que os meus os terão pisado. Sei as reentrâncias, os desníveis, as imperfeições. Dos degraus. Dos meus. As minhas.
Cá em cima é mais fácil respirar. Ainda assim, desvio o olhar da porta do sótão: preta, ferrugenta, retorcida. Encerra demasiada ruína, como se um cemitério de nós próprios habitasse sobre os espaços em que vivemos.
Aguardo o escurecer e contemplo o horizonte: o parque florestal, o pinhal ao fundo… e, naquele momento em que o silêncio se instala, o som do nosso mar sobrepõe-se a todas as camadas dos meus sentidos.
Elevo o olhar e procuro no escuro a segurança de tantas noites ali passadas. Encontro o norte… brilho ténue, guia de viagens difusas memória dentro. Uma âncora no firmamento, como se todo o universo nele se sustivesse, como se todo o meu viver nesta casa nele se suportasse.
Sento-me. Inspiro. Deito-me no chão rugoso e frio, sinto o desconforto no corpo e nas memórias que trago comigo. Abro os olhos para a imensidão e, por fim, entro.”

Fotografar palavras, projeto criado pelo Paulo Kellerman em 2016. Projeto criado por nós, diariamente.

Texto da Vilma Duarte, foto minha.

E quando acabarem as perguntas?

E QUANDO ACABAREM AS PERGUNTAS?
Edição Sem Editora

de Paulo Kellerman


O Paulo tem a poesia no olhar, e tem a capacidade de criar inúmeras imagens com as palavras: imagens belas, todas, algumas terríveis em sua beleza. Gosto de como fala das relações humanas (e nos poemas não é diferente); de como o relacionar-se com o outro envolve o relacionar-se consigo mesmo. E do tom melancólico que os poemas carregam, mesmo que de forma muito sutil (junto com a sedução, a paixão, a curiosidade, a leveza). No livro, há uma busca interna profunda, desesperançada até, mas há também a vontade de seguir… porque não se pode abandonar a morte (das coisas, das relações, dos momentos, a nossa), porque isso seria abandonar a vida (com tudo o que ela provoca e permite). Vida e morte, sempre juntas; a angústia disso, a plenitude disso.

Ilustração: Maraia

Ecos no coração da terra

Eu pronuncio esta palavra como se não fosse de minha língua. É uma palavra que tem textura, é rugosa, fere, menospreza. Vergonha.

Rafael Azevedo (Ecos no coração da terra, Kotter Editorial, 2021)

Um livro de tirar o fôlego, que provoca imagens, inúmeras imagens. Fragmentos que, aos poucos, nos revelam sua costura e o avesso da costura. Jogos de luz e sombra, fascinantes e hipnóticos. Viciantes e peçonhentos.
Um mergulho na alma humana: almas individuais, alma familiar, alma coletiva. Vida e morte; decadência e libertação.

Conversas Literárias

Conversa sobre o livro Água Viva de Clarice Lispector

O evento contará com a participação das integrantes do Instituto Junguiano do Rio de Janeiro (IJRJ):

Sigrid Haikel, Maria Lúcia Lorêdo, Áurea Torres e Ana Gilbert

Dia 01 de Outubro de 2021| Sexta-feira, de 14h às 16h.

Valor simbólico de R$ 25,00 que será revertido para Casas das Palmeiras – Nise da Silveira

Informações e inscrições aqui ou no site do IJRJ