Fotografar palavras #1738

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“Hoje convidei-te para tomar um café, ou um chocolate quente, algo que nos aqueça o olhar ou nos aqueça por dentro e é um bom começo. Ha-de haver sempre um bom começo e sempre dá para te olhar mais de perto e quando te olho mais de perto apaixono-me mais. Quando te olho mais de perto por apenas aqueles segundos em que bebes o café, sou feliz para sempre, juro, se tu soubesses que te pago o café para me apaixonar todos os dias por ti, ficavas ali de chávena na mão a vida inteira. E eu apaixonava-me, sempre, vestia-me de ti, todas as vezes. Sim porque estar apaixonado é estar vestido de alguém. E nunca se está mal vestido quando se está apaixonado.”

Fotografar palvras

Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Jorge Gomes Pereira
Foto | Ana Gilbert

Auto-retrato 127

A luz entra pela fresta da manhã e ilumina os cantos escuros da casa, assim como os teus olhos acordam os meus sentidos na penumbra do corpo.

Sei-te

“Conspiração

Sei-te igual.
Sei-te estranho.
Sei-te de cor.
Sei-te o sal,
O odor
e o intento.
Sei-te aqui.
Sei-te aí.
Sei-te onde for.
Sei-te como ser.
Sei-te o nome.
Sei-te o rosto.
Sei-te a boca.
Sei-te o corpo.
Sei-te o sexo.
E o desejo.

E não sei
nada de ti.”

Texto: Clara Vales
Foto: Ana Gilbert

Auto-retrato 42

“O que fazer se a morte é um eterno estado de consciência, restrito a observar em silêncio essa escuridão?”

Palavras | Haruki Murakami (Sono)

da palavra à imagem, da imagem à palavra

Perdida
no vazio das coisas
no azul dos ladrilhos

em meio ao ruído
abafado da música
desconexo das pessoas.

Palavras | Ana Gilbert

“Apenas…”

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“Promete, vais ser minha para sempre.“

Murmuravas-me ao ouvido enquanto te apoderavas de cada milímetro meu… Sentia-te a ser tudo o quanto podias, e eu era a felicidade a perecer de exaltação.

O meu silêncio nos teus gemidos, as tuas palavras largadas na intensidade “Promete, vais ser minha para sempre.”

Amava sentir a tua exortação, a tua avidez pelo meu corpo, acreditando que se estendia até à alma.

Mas as promessas são de uma fragilidade imensa, e não se promete o que é impossível deixar de existir. Esperava um sempre que não se alimentasse somente de mim, onde não vivesse sozinha o que ia além da carne.

A minha carne impossível de distinguir da tua, perfeitamente sincronizadas numa agitação que de tão espontânea nos dissolvia por inteiro no mais anestesiante dos prazeres.

Regressávamos, deixando lentamente de nos tocar, apaziguando os sentidos na separação do que mais almejava ser…

E restava assim… Despojada de tudo e de nós, numa matéria incompleta que se envolvia na ilusão de guardar o remanescente de ti.

Apenas carne, sempre carne…”

Fotografar palavras

Projeto: Paulo Kellerman
Texto: Catarina Vale
Foto: Ana Gilbert

 

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“As esquinas de nossa cidade em que me aguardas a todo tempo deixaram de ser caminhos que se tocam. Lembras daquela brincadeira em que grudávamos tira sobre tira de papel com cola de água e farinha e criávamos cruzes, encruzilhadas, estrelas, raios de rotunda? Não. Não tens jeito de criança. Vi-te outro dia, nem cinco anos tinhas, jogando bolinhas de papel na contramão da escada rolante. O guarda brandiu o seu cassetete de borracha. Só querias ver se as bolinhas voltavam. Para ti.”

Fotografar palavras

Projeto: Paulo Kellerman

Texto: Lorena Kim Richter