
“Antes longe era distante
Perto, só quando dava
Quando muito, ali defronte
E o horizonte acabava”
Gilberto Gil

“Antes longe era distante
Perto, só quando dava
Quando muito, ali defronte
E o horizonte acabava”
Gilberto Gil

o medo que nos separa

“Morar não significa apenas estar cercado por qualquer coisa, nem ocupar determinada área no espaço terrestre. Significa criar um vínculo tão intenso com certas coisas e certas pessoas que a felicidade e a nossa respiração se tornam inseparáveis.”
Emanuele Coccia (Filosofia da casa)




Em algum lugar no tempo, há sempre uma dança a acontecer.

I fall.
[Morrisey, Dial a cliche]




Estar parado também é uma forma de avançar, mas mais lenta.
[Standing still is also a way of moving forward, but a slower one.]

Gosto de imaginar que o tempo é um autocarro em andamento. O tempo avança, tal como um autocarro avança; e nós lá dentro. Um autocarro que tem janelas que nos permitem olhar para além do tempo; e fixar. (O tempo transporta-nos: somos passageiros do tempo.) O olhar é o mecanismo de que dispomos para trazer para o interior do autocarro – do tempo – aquilo que consideramos importante.
Aquilo que vemos fica guardado no nosso interior, integrando-se em nós; e nós fazemos parte do tempo: porque estamos no interior do autocarro. (Transportamos o tempo: o tempo é nosso passageiro.) O tempo leva-nos consigo, a nós e a todos os pedaços de vida que recolhemos quando olhamos; à vida que vamos acumulando, compondo a nossa bagagem. Espantos. Ternuras. Prazeres. Enigmas. Partidas. Esperas.
*****
I like to imagine that time is a moving bus. Time moves forward, just as a bus moves forward—with us inside. A bus with windows that let us look beyond time and hold on to what we see. (Time carries us: we are passengers of time.) Our gaze is the mechanism we have to bring into the bus—into time—what we deem important.
What we see is stored within us, becoming part of who we are; and we are part of time, for we are inside the bus. (We carry time: time is our passenger.) Time takes us along, together with all the fragments of life we gather as we look; with the life we accumulate, composing our baggage. Wonders. Tenderness. Pleasures. Enigmas. Departures. Waiting.
Texto | Text: Paulo Kellerman


Seremos capazes de sentir para além da nossa loucura branca?
Texto | Text: Ana Gilbert
Fotografia | Photography: Rui Santos
Fotografar palavras, o nosso projeto artístico criado pelo Paulo Kellerman, e que emociona desde 2016. Diariamente.


“O milagre era o movimento revelado das coisas.”
Clarice Lispector (O lustre)

procuro-te em cada janela que respira.

Melancholy
Voices and memories
linger among leaves
swaying in evening’s breeze
Yet fade as dusk descends
leaving silence in its wake
and a sense of loss
Nothing remains
as it once was
but what follows is fear.
A beautiful poem by Frederick Fullerton

