Se…

Se eu me deitasse
Contigo,
Seríamos maiores?
Mais longos?
Mais latos?
Se eu me deitasse
Com a tua pele
Seríamos mais
Profundos?

[poema de Jorge Vaz Dias]

Ficções do eu

[vídeo Instagram]

Comecei o exercício do autorretrato, em 2005, movida pelo interesse em pesquisar sobre aspectos identitários menos óbvios do que a face, considerada elemento identitário por excelência, que nos particulariza e diferencia do outro.
Haveria no gesto, para além do encenado para a fotografia, algo que revelaria aspectos mais profundos do eu e que se traduziriam como marca identitária?

Fotografo-me desde então com essa pergunta em mente, não para reproduzir essa identidade, e sim como um exercício de criação de ‘ficções do eu’ que acontecem a partir dela e vão além.
Fotografo-me como possibilidade de explorar a multiplicidade na inteireza; a fragmentação na coesão.
.
Fotos onde incluo o rosto são raras. Creio que esta sequência é a primeira que faço desse tipo. Nesse dia, apeteceu-me. Apenas porque sim.

*****

I began the self-portrait exercise in 2005, driven by the interest in exploring less obvious aspects of identity than the face, considered an identity element par excellence, which particularizes and differentiates us from others.
Would there be something in the gesture, beyond what is staged for the photograph, that would reveal deeper aspects of the self and that would be translated as an identity mark
?

Since then, I’ve been photographing myself with this question in mind not to reproduce this identity, but rather as an exercise in creating ‘fictions of the self’ that emerge from it and go beyond it.
I photograph myself as a way to explore multiplicity within wholeness and fragmentation within cohesion.

Photos Including my face are rare. I believe this is the first sequence I’ve done of this kind. On that day, I felt like it. Just because.

FOTOGRAFAR PALAVRAS # 4600

I place on your chest
the beautiful shell that I picked up on the island
– the more-than-imperfect one, I say with a genuinely childish smile –
and I feel that the geographies overlap in interspersed planes
like transparencies of far and near
day and night sea and body paths-skin
from the days of salt that we carry on our fingers
to be home

deposito no teu peito
a concha bonita que apanhei na ilha
– a mais-que-imperfeita, digo a sorrir de verdade infantil –
e sinto que as geografias se sobrepõem em planos intercalados
como transparências de longe e perto
dia e noite mar e corpo caminhos-pele
dos dias de sal que trazemos nos dedos
para serem casa

Fotografar palavras, a nossa casa criativa. Um projeto bonito do amigo Paulo Kellerman que nos desafia a ir além. Desde 2016.

Foto minha para o belo e inspirador poema da Isabel Pires

e

“E te sonhei na imensidão da noite”

Hilda Hilst

Fotografar palavras # 4569

Filme de Pele

pele
nosso milagrosamente
multifacetado
manto opaco
abraça-nos com firmeza
como um escudo protetor
da cabeça aos pés
contra uma coreografia
de danos

pele
revela em parte
a jornada do nosso corpo
do nascimento à morte
e o seu abuso
tatuado
com cicatrizes e manchas
gravado com rugas

pele
imagine fotos
antigas e recentes
seguidas
de um vídeo
escaneando
lentamente
os contornos da pele
ao longo do corpo
da cabeça aos pés

uma marca registrada e um lembrete
nada dura para sempre.

Skin Flick

skin
our miraculously
multifaceted
opaque cloak
hugs us firmly
shielding
from head to toe
against a choreography
of damages

skin
reveals in part
our body’s journey
from birth to death
and its abuse
tattooed
with scars and spots
etched with wrinkles

skin
imagine still photos
old and recent
followed
by a video shot
scanning
ever so slowly
skin’s contours
along the body
from head to toe

a hallmark and reminder
nothing endures forever.

Texto | text: Fred Fullerton

Fotografia | Photograph: Ana Gilbert

Fotografar palavras, um projeto do Paulo Kellerman. Dose diária de arte.