Ao se observar ao espelho repara no homem atrás dela. O homem está atrás dela para que repare nele quando se observar ao espelho. Observa-se ao espelho apenas para reparar no homem atrás dela. Somente observando-se ao espelho pode reparar no homem atrás dela. Repara que pode observar pelo espelho o homem atrás dela. O homem que está atrás repara que ela se observa ao espelho. O espelho observa que ela repara no homem que está atrás. Observa-se ao espelho e há um homem atrás dela que repara. Só observa o homem que está atrás ao reparar nela no espelho. Observa pelo espelho o homem que repara que está atrás dela. Repara que o homem atrás dela se observa ao espelho. O homem atrás dela repara que é observado pelo espelho? Espelha-se ao ser observada pelo homem atrás que repara nela. Atrás dela, o homem. Ao observar-se ao espelho, repara. O espelho atrás repara que o homem a observa. O homem e ela só se observam porque atrás o espelho repara. Sendo ela repara que o homem atrás a observa pelo espelho. Repara no homem que observa atrás do espelho. Observadora, repara no espelho atrás do homem. Reparem como observa pelo espelho o homem atrás dela! O homem atrás repara no espelho e ela observa. Atrás do espelho o homem e ela reparam e se observam. Observam que ela repara no homem atrás dela pelo espelho? Repara-se quando o homem atrás dela a observa pelo espelho. Observa o espelho atrás do homem. Ele repara nela. Quando reparará que o homem atrás dela a observa pelo espelho? Apenas reparando nela pode observar no espelho o homem que está atrás. Exclusivamente ao espelho pode reparar que é observada pelo homem atrás dela. E o espelho, reparará que ela e o homem atrás se observam? Repara no espelho e observa nele o homem que está atrás dela. Um espelho. Observa-se. Atrás o homem. Repara. Ela se observa. Atrás, o espelho e o homem que repara. Subitamente o homem que está atrás repara que é observado por ela no espelho.
Quando Gaza foi invadida e as crianças começaram a morrer, foi impossível não reagir. E reagimos como sabemos: escrevendo, fotografando. Talvez pareça uma reacção simbólica, mas é a nossa. E é visceral. Aisha é uma criança. Aisha representa a incompreensão, a incredulidade, a revolta que ainda contém alguma esperança. Aisha já morreu mais de quinze mil vezes.
Aisha é um livro que representa a nossa incompreensão, a nossa incredulidade, a nossa revolta que já não contém esperança.
edição limitada e numerada (50 exemplares) encomendas por mensagem.
When Gaza was invaded and children began to die, it was impossible not to react. And we reacted as we know how: by writing, by photographing. It may seem like a symbolic response, but it is ours. And it is visceral. Aisha is a child. Aisha embodies incomprehension, incredulity, revolt—still laced with some hope. Aisha has died more than fifteen thousand times.
Aisha is a book that embodies our incomprehension, our incredulity, our revolt—now stripped of hope.
23 texts by Paulo Kellerman 23 photographs by Ana Gilbert Flower illustration | Maraia Design | Licínio Florêncio Handmade box | Yume Ateliê & Design
numbered edition (50 copies) orders: direct message
Hoje, no FOTOGRAFAR PALAVRAS # 5133, a minha leitura fotográfica do belo poema de Ana Paula Jardim.
24 MM
É bem melhor fechar um por-do-sol dentro dos olhos Abrir planícies infinitas dentro da íris Como uma lente com 24mm de diâmetro E dez mil cores todas diferentes Fotografar esse instante dentro da córnea Para sempre Ver sobreiros como desenhos irreais espalhados pela paisagem Mulheres gigantes com ventres volumosos encostadas No meio postes de alta tensão Iluminados A disparar balas de eletricidade como farpas Que nos atingem o peito E nos deixam eletrocutadas contra o banco Ficar quieta como uma gazela amarrada no tejadilho Depois de um dia de caça Passar por pastagens e ver rebanhos de animais Reconhecê-los como iguais Comendo a mansidão e a erva do chão Na engorda À espera de ir para o matadouro Para serem degolados.
24 MM
It’s much better to close a sunset inside your eyes Open infinite plains inside the iris Like a lens with a diameter of 24mm And ten thousand different colors Photographing that instant inside the cornea Forever Seeing cork oaks as unreal drawings scattered across the landscape Giant women with bulging bellies leaning against In the middle of high-voltage poles Illuminated Firing bullets of electricity like barbs That hit us in the chest And leave us electrocuted against the bench Standing still like a gazelle tied to the roof After a day’s hunting Passing pastures and seeing herds of animals Recognizing them as equals Eating the gentleness and the grass on the ground Fattening up Waiting to go to the slaughterhouse To be beheaded.
Fotografar palavras, uma casa poética onde habitam múltiplas vozes que podem se expressar com liberdade. Criada pelo Paulo Kellerman e cuidada por todos nós. Diariamente, desde 2016.