Acompanho o trabalho da Zélia Évora há alguns anos. Tenho o seu livro de poemas e fotos e chegamos a brincar juntas quando ela inventou um caderno viajante. Na segunda-feira, fui visitá-la e foi um enorme prazer conhecer seu espaço, tão inspirador quanto ela. Novamente, brincamos juntas. Desta vez, entre conversas, sorrisos, fotografias e com a materialidade dos abraços. Obrigada!
Ontem foi bonito. Obrigada a quem veio à Casa da Lídia, em Leiria, e a quem esteve presente em intenção.
Apresentação de LATITUDES, com a Cristina Vicente e inauguração da exposição Varal / Estendal Fotográfico com fotos dos projetos AISHA, com o Paulo Kellerman, e LATITUDES.
Cada vez que venho a Portugal, aproveito ao máximo os encontros com os amigos. Desta vez, para celebrar os projetos AISHA, com o Paulo Kellerman, e LATITUDES, com aCristina Vicemte, organizamos, em parceria com esse espaço fantástico que é A Casa da Lídia, um varal / estendal fotográfico com fotografias dos dois projetos. Mais um motivo de encontros e afetos. Inaugura no sábado, dia 31 de maio, às 16 horas, junto com a apresentação do livro Latitudes e ficará por lá à espera da visita de vocês. Apareçam.
LATITUDES é resultado de uma cumplicidade entre mulheres, entre fotografia e literatura, entre norte e sul. Uma cumplicidade de olhares e afetos que vai além das fronteiras geográficas; aproxima as latitudes e traz a circularidade das estações do ano.
Em costura perfeita das nossas estações, o belo posfácio do amigo Paulo Kellerman.
Aisha Uma pequena caixa contendo memórias de uma menina e seu pai. Aisha Uma pequena caixa que poderia ter sido encontrada entre os escombros de um edifício bombardeado durante uma guerra. Aisha Um grito mudo diante do horror da guerra.
——-
Aisha A small box containing memories of a girl and her father. Aisha A small box that could have been found among the rubble of a bombed building during a war. Aisha A silent cry in the face of the horrors of war.
Quando Gaza foi invadida e as crianças começaram a morrer, foi impossível não reagir. E reagimos como sabemos: escrevendo, fotografando. Talvez pareça uma reacção simbólica, mas é a nossa. E é visceral. Aisha é uma criança. Aisha representa a incompreensão, a incredulidade, a revolta que ainda contém alguma esperança. Aisha já morreu mais de quinze mil vezes.
Aisha é um livro que representa a nossa incompreensão, a nossa incredulidade, a nossa revolta que já não contém esperança.
edição limitada e numerada (50 exemplares) encomendas por mensagem.
When Gaza was invaded and children began to die, it was impossible not to react. And we reacted as we know how: by writing, by photographing. It may seem like a symbolic response, but it is ours. And it is visceral. Aisha is a child. Aisha embodies incomprehension, incredulity, revolt—still laced with some hope. Aisha has died more than fifteen thousand times.
Aisha is a book that embodies our incomprehension, our incredulity, our revolt—now stripped of hope.
23 texts by Paulo Kellerman 23 photographs by Ana Gilbert Flower illustration | Maraia Design | Licínio Florêncio Handmade box | Yume Ateliê & Design
numbered edition (50 copies) orders: direct message
Hoje, no FOTOGRAFAR PALAVRAS # 5133, a minha leitura fotográfica do belo poema de Ana Paula Jardim.
24 MM
É bem melhor fechar um por-do-sol dentro dos olhos Abrir planícies infinitas dentro da íris Como uma lente com 24mm de diâmetro E dez mil cores todas diferentes Fotografar esse instante dentro da córnea Para sempre Ver sobreiros como desenhos irreais espalhados pela paisagem Mulheres gigantes com ventres volumosos encostadas No meio postes de alta tensão Iluminados A disparar balas de eletricidade como farpas Que nos atingem o peito E nos deixam eletrocutadas contra o banco Ficar quieta como uma gazela amarrada no tejadilho Depois de um dia de caça Passar por pastagens e ver rebanhos de animais Reconhecê-los como iguais Comendo a mansidão e a erva do chão Na engorda À espera de ir para o matadouro Para serem degolados.
24 MM
It’s much better to close a sunset inside your eyes Open infinite plains inside the iris Like a lens with a diameter of 24mm And ten thousand different colors Photographing that instant inside the cornea Forever Seeing cork oaks as unreal drawings scattered across the landscape Giant women with bulging bellies leaning against In the middle of high-voltage poles Illuminated Firing bullets of electricity like barbs That hit us in the chest And leave us electrocuted against the bench Standing still like a gazelle tied to the roof After a day’s hunting Passing pastures and seeing herds of animals Recognizing them as equals Eating the gentleness and the grass on the ground Fattening up Waiting to go to the slaughterhouse To be beheaded.
Fotografar palavras, uma casa poética onde habitam múltiplas vozes que podem se expressar com liberdade. Criada pelo Paulo Kellerman e cuidada por todos nós. Diariamente, desde 2016.
Duas Anas numa aeronave improvisada a (des)pilotar a caminho de. Pausa e ponto de interrogação. Tocamo-nos no escuro e iluminamos arquipélagos. Fluida-Mente.
Esta é uma colaboração especial que nasceu de um exercício de escrita orgânico e fascinante entre mim e a Ana e de um lugar de curiosidade mútua.
A(ero)NA(ve)S
{~Texto zipado para desdobrar em imagens~}
e o que queres fazer?
Eros, erótico, está sempre presente na criação
O dedo (in)vísivel
que percorre a pele da palavra
e os poros da fotografia.
Captar o hálito da imagem
e fugir do hábito da palavra
para habitar a palavra
que faz montanhas parirem retratos
|| parir em retratos
o desejo que se vê
dentro da cabana do acento circunflexo
havia fios de trama || ou ele passa por baixo || ou ele passa por cima ||
dos fios de urdume ||
é o jacquard de entre_peles
que nos veste a timidez
e desloca inflexões
– Passa-me um Marlboro. Ali atrás da persiana
(ecoo-me para tocar-te)
O arranha-céus de jacquard rasga o tecto da cabana
Delírio a céu aberto.
*****
[O texto foi escrito a quatro mãos com a Ana Sofia Elias | a foto é minha]