Portable Link

Humanity: the ability to put ourselves in someone else’s shoes. If we choose not to do so, we are not human. We are something else, but not human. Something else. Something. 

Searching for meaning in life is like asking a mountain to explain what a kiss is.

Texts | Paulo Kellerman

Photos | Ana Gilbert

PORTABLE LINK , a dialogue between photography and literature

Ter nascido

“Ter nascido significa isto: não ser puro, não ser si mesmo, ter em si alguma coisa que vem de outro lugar, alguma coisa de estranho que nos leva a nos tornarmos a cada vez estrangeiros a nós mesmos.”

Emanuele Coccia (Metamorfoses, 2022)

Dia caindo em horas mornas; a saudade, provocante, desenha tempo com luz, aproximando-se em intervalos sussurrados:

– Contas-me os teus segredos?

    …..

    The day falling into lukewarm hours; longing, provocative, drawing time with light, approaching at whispered intervals:

    – Will you tell me your secrets?

      Text(o) | Cristina Vicente

      in LATITUDES, 2025

      Ana Gilbert & Cristina Vicente

      linhas sem fuga

      o que fazer com as linhas de fuga deleuzianas quando não há fuga possível?

      [isto também é sobre Gaza]

      FOTOGRAFAR PALAVRAS # 5237

      Elas, mulheres algodoeiras do mar 

      Estendidas por uma vasta praia 

      -com bosques dourados, falésias amaciantes, templos, rios, lagos e estradas sem cavalos voadores ou torangeiras, onde palácios vermelhos, jardins suspensos e torres de cúpulas brancas espelhavam as nossas malváceas damascenas – 

      Nessa praia, estas palavras.
      De musselina tridente 
      têm-nos presas a nenhum lírio fixo. 

      Pequenas mordidelas atlântidas 
      de plâncton saciante 
      que não ficaram presas ao anzol de frésia.

      Deitadas, agachadas, hirtas 
      como a renda que ainda não madrugou na água 
      Mulheres algodoeiras do mar
      colhem palavras abracadabrantes 

      O poema acontece na costura a linha de peixe 
      onde penduram pedras preciosas, quase invisíveis.

      E o som é de figo maduro tragado a meia romã 
      Porque é na Pangeia da manhã 
      que se provam as despedidas e os orvalhos. 

      *****

      Them, cotton-harvester women of the sea

      Spread across a vast shore

      —with golden woods, softening cliffs, temples, rivers, lakes,
      and roads untraveled by flying horses or grapefruit trees, where crimson palaces, hanging gardens, and white-domed towers
      mirrored our damascene mallows—

      On that shore, these words.
      Of trident muslin,
      they keep us bound to no fixed lily.

      Small Atlantidean nibbles
      of satiating plankton
      never caught on a freesia fishhook.

      Reclining, crouched, upright—
      like lace not yet awakened in water—
      Cotton-harvester women of the sea
      gather abracadabra-like words.

      The poem takes shape along the fishline-made seam
      where they hang near-invisible gems.

      And the sound is that of ripe fig
      swallowed with half a pomegranate—
      For it is in each morning’s Pangaea
      that farewells and dewdrops are tasted.


      Texto | Text: Ana Sofia Elias (com interferência de | with interference by Ana Gilbert)

      Fotografia | Photography: Ana Gilbert (com interferência de | with interference by Ana Sofia Elias)

      FOTOGRAFAR PALAVRAS, projeto desenhado pelo Paulo Kellerman, é casa para imaginar e criar.
      Diariamente, desde 2016.

      8 anos de sutilezas…

      Neste momento, há pouco o que celebrar no mundo. São tempos sombrios que lançam múltiplos reflexos distorcidos e angustiantes.

      Contudo, a vida pequena, cotidiana, continua e é preciso que seja assim. Pequenas joias aindas são lapidadas nas relações humanas. Rastros de luz ainda penetram pelas fissuras e emocionam ao revelarem a beleza que persiste.

      Já são oito anos deste espaço do blog. Por aqui passaram várias vidas, vários olhares, (anônimos ou nem tanto), várias de mim.

      O meu espanto é sempre enorme ao constatar que ainda há pessoas que param o tempo e se dispõem a olhar, ver e sentir. E isso faz valer a pena.

      O meu obrigada e o meu sorriso.

      “O que vemos, o que nos olha.”

      Georges Didi-Huberman

      At this moment, there is little to celebrate in the world. These are dark times, casting multiple distorted and distressing reflections.

      And yet, ordinary, everyday life goes on, and it must. Small gems are still being polished in human relationships. Traces of light still slip through the cracks and move us, revealing the beauty that endures.

      It has now been eight years since this blog space began. Many lives have passed through here, many gazes (anonymous or not so anonymous), many versions of myself.

      I’m always deeply moved to realize that there are still people who pause time and choose to look, to see, to feel. And that makes it all worthwhile.

      My thanks and my smile.

      “What we see, what looks back at us.”

      Georges Didi-Huberman