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Sutilezas do olhar

Sutilezas do olhar

Photography & Literature | Ana Gilbert

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Posts

Publicado em junho 24, 2017

Escadas-Granada-2Escadas-Granada

Publicado em junho 22, 2017setembro 24, 2017

Proteção

“Tudo o que te ensinei pode ser utilizado para construir um mundo onde se possa sonhar.”
 …
Fotografar palavras
Projeto: Paulo Kellerman
Texto: Elsa Margarida Rodrigues
Foto: Ana Gilbert
Publicado em junho 21, 2017junho 22, 2017

Dualidades

 

Música: Day’s End (John Williams, From a Bird)

Publicado em junho 19, 2017julho 5, 2019

Publicado em junho 14, 2017junho 14, 2017

IMG_6496

Publicado em junho 13, 2017

IMG_0392

Publicado em junho 12, 2017junho 13, 2017

Publicado em junho 11, 2017junho 11, 2017

Banco

Publicado em junho 11, 2017junho 11, 2017

cropped-anguish1.jpgAngústia

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A autora:

  • A respiração do tempo (contos)
  • Almas desligadas (ebook com Paulo Kellerman)
  • Ello | LensCulture
  • Fotografar palavras (ando muito por aqui…)
  • Geografias Corporais (livro com Paulo Kellerman)
  • Minimalista | editora informal
  • O que tem acontecido por aí… exposições e publicações
  • Sorriso postal
  • Sobre
  • O outro blog
  • Contato

Desejo de presença

kiss kiss bang bang
sopra-me o caos
Escrever é saber cortar.
Escrever é saber cortar.
"De olhos semicerrados, vislumbro os teus pousados em mim, num incomparável arrepio de alma!"
“De olhos semicerrados, vislumbro os teus pousados em mim, num incomparável arrepio de alma!”
desejo. a fantasia que nos separa
desejo. a fantasia que nos separa
"O que me vai na alma é como uma albufeira cujas comportas estão por abrir. Seria preciso uma vida para escutar-me... com calma."
“O que me vai na alma é como uma albufeira cujas comportas estão por abrir. Seria preciso uma vida para escutar-me… com calma.”
Não sei o teu nome, nunca tive coragem de perguntar. Mas somos vizinhas. De vida. Habitamos a mesma pele, ainda que muitos metros de tecido esgarçado nos separem. Não sei onde estás; passo pelos lugares de costume e vejo somente a tua ausência. Em que calçada te sentas agora? (texto para Mapas do Confinamento)
Não sei o teu nome, nunca tive coragem de perguntar. Mas somos vizinhas. De vida. Habitamos a mesma pele, ainda que muitos metros de tecido esgarçado nos separem. Não sei onde estás; passo pelos lugares de costume e vejo somente a tua ausência. Em que calçada te sentas agora? (texto para Mapas do Confinamento)
consigo existir sem mim?
consigo existir sem mim?
consigo existir sem mim?
consigo existir sem mim?
auto-retrato 33 red
De súbito, penso que o corpo existe sem mim, sem essa dimensão pensante que escreve. Penso que ele abriga todas as palavras inventadas e as vai libertando, uma a uma, para que eu as utilize. Eu, mero instrumento de sua linguagem. Eu, identidade exagerada pela razão.
De súbito, penso que o corpo existe sem mim, sem essa dimensão pensante que escreve. Penso que ele abriga todas as palavras inventadas e as vai libertando, uma a uma, para que eu as utilize. Eu, mero instrumento de sua linguagem. Eu, identidade exagerada pela razão.
“Quais serão os sonhos da minha pele?”
“Quais serão os sonhos da minha pele?”
A escrita precisa de pele.
A escrita precisa de pele.
"O que fazer com cada momento, depois de o viver?"
“O que fazer com cada momento, depois de o viver?”
Aviões de papel | Minimalista Editora
"Sei caminhar sem pegadas, desaparecer em mim."
“Sei caminhar sem pegadas, desaparecer em mim.”
“O que me apetecia, de verdade, era simplesmente gritar; gritar visceralmente, deixar que a dor e a agonia e o desânimo e a desesperança me saíssem pela garganta, gritar até me sentir vazia e livre e indiferente.”
“O que me apetecia, de verdade, era simplesmente gritar; gritar visceralmente, deixar que a dor e a agonia e o desânimo e a desesperança me saíssem pela garganta, gritar até me sentir vazia e livre e indiferente.”
O meu corpo tem saudades do teu olhar.
O meu corpo tem saudades do teu olhar.
Sente o que os olhos apenas suspeitam.
Sente o que os olhos apenas suspeitam.
Dançar é uma forma de sonhar.
Dançar é uma forma de sonhar.
Deslizo lentes como dedos; percorro sinuosidades, afago fronteiras, decifro-te. E me entrego. Inteiro.
Deslizo lentes como dedos; percorro sinuosidades, afago fronteiras, decifro-te. E me entrego. Inteiro.
“O que sentirá o meu corpo com o teu abraço, depois de ter sido tocado pelo teu olhar?”
“O que sentirá o meu corpo com o teu abraço, depois de ter sido tocado pelo teu olhar?”
Quando tocas o corpo, sentes a alma?
Quando tocas o corpo, sentes a alma?
Incomoda-te a minha sombra? Ou a minha luz?
Incomoda-te a minha sombra? Ou a minha luz?
A luz entra pela fresta da manhã e ilumina os cantos escuros da casa, assim como os teus olhos acordam os meus sentidos na penumbra do corpo.
A luz entra pela fresta da manhã e ilumina os cantos escuros da casa, assim como os teus olhos acordam os meus sentidos na penumbra do corpo.
Recolho sutilezas que ninguém vê. Com elas, construo meu mundo invisível, profundo e triste. Com elas, existo em esperança de desapegos, em poesia pura, em cicatrizes desenhadas.
Recolho sutilezas que ninguém vê. Com elas, construo meu mundo invisível, profundo e triste. Com elas, existo em esperança de desapegos, em poesia pura, em cicatrizes desenhadas.
"Adormecia, sempre, na esperança de que ao acordar o mundo aguardasse para ser tocado pela primeira vez. O estado mais puro de tudo. A perceção da inocência da espera que não sabe o que esperar. Respostas isentas de ensaios libertadas pelo que se fez sentir. Talvez, o único momento em que a verdade não saberia ser mentira...Adormecia a procurar no sonho a certeza da vida. A fuga de uma existência confundida na dos outros. E os outros confundidos no que são, retalhados pelo que querem ser, denunciam-se nas palavras privadas dos gestos que as fazem valer. Será que é por sermos tantos num só que vivemos impossibilitados de conhecer o nosso rosto? Aguentaríamos ver quem pensamos ocultar? Adormecia sem saber quem encontraria pela manhã. Sem saber qual a memória que lhe iria reger a mente ou quantas batidas lhe permitiria o coração. A imprevisibilidade que desperta o instinto e redescobre as emoções, transformando-nos em seres impossíveis de controlar. A surpresa de irmos onde nunca sequer deixámos encaminhar-se o pensamento. A compreensão do que sempre foi arrevesado. Vazio que aumenta assim que se consegue completar. Adormecia... Sossego da alma na calma do corpo..."
“Adormecia, sempre, na esperança de que ao acordar o mundo aguardasse para ser tocado pela primeira vez. O estado mais puro de tudo. A perceção da inocência da espera que não sabe o que esperar. Respostas isentas de ensaios libertadas pelo que se fez sentir. Talvez, o único momento em que a verdade não saberia ser mentira…Adormecia a procurar no sonho a certeza da vida. A fuga de uma existência confundida na dos outros. E os outros confundidos no que são, retalhados pelo que querem ser, denunciam-se nas palavras privadas dos gestos que as fazem valer. Será que é por sermos tantos num só que vivemos impossibilitados de conhecer o nosso rosto? Aguentaríamos ver quem pensamos ocultar? Adormecia sem saber quem encontraria pela manhã. Sem saber qual a memória que lhe iria reger a mente ou quantas batidas lhe permitiria o coração. A imprevisibilidade que desperta o instinto e redescobre as emoções, transformando-nos em seres impossíveis de controlar. A surpresa de irmos onde nunca sequer deixámos encaminhar-se o pensamento. A compreensão do que sempre foi arrevesado. Vazio que aumenta assim que se consegue completar. Adormecia… Sossego da alma na calma do corpo…”
Danço, secretamente nua, por baixo do véu da realidade.
Danço, secretamente nua, por baixo do véu da realidade.
“Talvez, afinal, o propósito da vida seja a conservação dos sonhos, sendo os homens meros instrumentos da sua sobrevivência, simples receptáculos. Ou talvez sejam os sonhos, em abstracto, aquilo a que se chama deus.”
“Talvez, afinal, o propósito da vida seja a conservação dos sonhos, sendo os homens meros instrumentos da sua sobrevivência, simples receptáculos. Ou talvez sejam os sonhos, em abstracto, aquilo a que se chama deus.”
"É nos abraços de luz que a coragem comanda os membros que se submetem a ir no anseio de ficar."
“É nos abraços de luz que a coragem comanda os membros que se submetem a ir no anseio de ficar.”
"Sou o corpo suspenso que oscila entre as preces no bordel e as ereções no convento"
“Sou o corpo suspenso que oscila entre as preces no bordel e as ereções no convento”
"Observo-te à distância. À distância insegura de um toque, de um gesto, à distância insegura de uma inspiração-expiração-inspiração, à distância insegura do olhar que é também carícia. Observo-te, e penso que sequer suspeitas o que sinto. Talvez imagines que estou aqui sem me envolver, alheia a ti, sensação apenas. Talvez não. Observo-te: contornos, textura, movimento. Observo-te na solidão da tua presença, na tristeza do encontro, na possibilidade de prazer (ou será dor?). Tocas-me. Com a ponta do cigarro acesa. É parte do teu prazer. Estremeço. Já não sinto dor. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Tento concentrar-me em cada pedaço de mim que ganha vida própria ao teu toque. Mas o pensamento é como um compartimento estanque, isolado das sensações, a seguir seus próprios caminhos. É preciso que seja assim. E continuo a pensar. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Os dois parecem parte da mesma coisa. Tento convencer-me de que é assim, de que esta é uma forma de amor, a tua forma de amar. Talvez desejes que seja imune à tua sedução, que apenas ceda aos meus próprios desejos (quais?), aproveite o momento, não tenha anseios. Talvez. Imagino que não sou o que queres de mim. Seria isso? Hesito por um instante. Observo-me. Estou à beira da entrega. Acho que o faço por prazer (ou será medo?). Não sabes da minha insegurança, sabes? Se soubesses, o que farias? Agredirias mais? Machucarias com mais requinte? Irias embora, deixando-me em abandono? Talvez não. Serei eu a desconhecer-te? A desconhecer-me? Queria odiar-te e tornar-me inteira no ódio. Mas não tenho forças. Meus fragmentos estão espalhados. Observo-te à distância, insegura do que ser depois, depois, quando me dissolver em ti e nada mais fizer sentido. Não agora."
“Observo-te à distância. À distância insegura de um toque, de um gesto, à distância insegura de uma inspiração-expiração-inspiração, à distância insegura do olhar que é também carícia. Observo-te, e penso que sequer suspeitas o que sinto. Talvez imagines que estou aqui sem me envolver, alheia a ti, sensação apenas. Talvez não. Observo-te: contornos, textura, movimento. Observo-te na solidão da tua presença, na tristeza do encontro, na possibilidade de prazer (ou será dor?). Tocas-me. Com a ponta do cigarro acesa. É parte do teu prazer. Estremeço. Já não sinto dor. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Tento concentrar-me em cada pedaço de mim que ganha vida própria ao teu toque. Mas o pensamento é como um compartimento estanque, isolado das sensações, a seguir seus próprios caminhos. É preciso que seja assim. E continuo a pensar. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Os dois parecem parte da mesma coisa. Tento convencer-me de que é assim, de que esta é uma forma de amor, a tua forma de amar. Talvez desejes que seja imune à tua sedução, que apenas ceda aos meus próprios desejos (quais?), aproveite o momento, não tenha anseios. Talvez. Imagino que não sou o que queres de mim. Seria isso? Hesito por um instante. Observo-me. Estou à beira da entrega. Acho que o faço por prazer (ou será medo?). Não sabes da minha insegurança, sabes? Se soubesses, o que farias? Agredirias mais? Machucarias com mais requinte? Irias embora, deixando-me em abandono? Talvez não. Serei eu a desconhecer-te? A desconhecer-me? Queria odiar-te e tornar-me inteira no ódio. Mas não tenho forças. Meus fragmentos estão espalhados. Observo-te à distância, insegura do que ser depois, depois, quando me dissolver em ti e nada mais fizer sentido. Não agora.”
“Vou despir-te de tudo o que és, deixar-te nua de ser. Vou despir-te até seres apenas corpo.”
“Vou despir-te de tudo o que és, deixar-te nua de ser. Vou despir-te até seres apenas corpo.”
Finges não perceber o que me acontece.
Finges não perceber o que me acontece.
“Ainda de pé, continuas a despir-te; lentamente, tão lentamente. Sem me olhar: esquecida de mim.”
“Ainda de pé, continuas a despir-te; lentamente, tão lentamente. Sem me olhar: esquecida de mim.”
Projeto com Paulo Kellerman
Projeto com Paulo Kellerman
a dança é um transbordamento de mim...
a dança é um transbordamento de mim…
escrevo no teu corpo com as mãos escrita trêmula, a princípio firmes, depois inscrevo-me na tua pele e mais fundo. memorizo teus poros, percorro geografias, lentamente. aquilo que conhecerei de ti me será contado pelos meus dedos para que possa sonhar contigo. saberás o sonho.
escrevo no teu corpo com as mãos escrita trêmula, a princípio firmes, depois inscrevo-me na tua pele e mais fundo. memorizo teus poros, percorro geografias, lentamente. aquilo que conhecerei de ti me será contado pelos meus dedos para que possa sonhar contigo. saberás o sonho.
"Lá fora o vento ruge, violento. Ou se calhar é dentro de si. Não sabe."
“Lá fora o vento ruge, violento. Ou se calhar é dentro de si. Não sabe.”
Colaboração com Lorena Kim Richter
"Dança-me."
“Dança-me.”
"Viver sem paixão é uma espécie de morte."
“Viver sem paixão é uma espécie de morte.”
“Presa ao teu olhar pressinto o encaixe perfeito em meu corpo, tua boca procurando a minha, trazendo ao meu desejo o esperado sabor de tua saliva e permito que me vasculhes até o teu prazer encontrar o meu para ambos desabarmos aliviados, deglutindo em silêncio o esperado final desse encontro.”
“Presa ao teu olhar pressinto o encaixe perfeito em meu corpo, tua boca procurando a minha, trazendo ao meu desejo o esperado sabor de tua saliva e permito que me vasculhes até o teu prazer encontrar o meu para ambos desabarmos aliviados, deglutindo em silêncio o esperado final desse encontro.”
Ando em busca da minha humanidade, tão diferente de tudo ou será tão igual?
Ando em busca da minha humanidade, tão diferente de tudo ou será tão igual?
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Yoshitaka Amano series

Foto selecionada para a mostra Selfie Em Foco, no Paraty Em Foco - Festival Internacional de Fotografia 2020
Foto selecionada para a mostra Selfie Em Foco, no Paraty Em Foco – Festival Internacional de Fotografia 2020

As imagens das palavras | Fotos do projeto Fotografar palavras

"Dá-me a mão quando já não souber o caminho."
“Dá-me a mão quando já não souber o caminho.”
"Caminho por entre escombros para chegar a mim."
“Caminho por entre escombros para chegar a mim.”
abandono. a dor que nos separa.
abandono. a dor que nos separa.
"Verto palavras contadas em folhas avulso."
“Verto palavras contadas em folhas avulso.”
"De olhos semicerrados, vislumbro os teus pousados em mim, num incomparável arrepio de alma!"
“De olhos semicerrados, vislumbro os teus pousados em mim, num incomparável arrepio de alma!”
"Agora é a tua vez de partir." Peço que me leves apenas em quantidade suficiente para respirar. Mais que isso, ocupará espaço e tu precisas do vazio para caberes sem aperto. Não te permitas a chorar. Se o fizeres, limpa-te com as memórias que te lembram como eras infeliz. Acredita num sol que aquece e num vento que adormece. Não aceites a rotina de uma ideia: é cortante e dilui-se no primeiro copo de vinho. Afasta-te das palavras fáceis. Escreve-as e queima-as. A facilidade nunca foi um bom augúrio. E depois, esquece-me."
“Agora é a tua vez de partir.” Peço que me leves apenas em quantidade suficiente para respirar. Mais que isso, ocupará espaço e tu precisas do vazio para caberes sem aperto. Não te permitas a chorar. Se o fizeres, limpa-te com as memórias que te lembram como eras infeliz. Acredita num sol que aquece e num vento que adormece. Não aceites a rotina de uma ideia: é cortante e dilui-se no primeiro copo de vinho. Afasta-te das palavras fáceis. Escreve-as e queima-as. A facilidade nunca foi um bom augúrio. E depois, esquece-me.”
"Era capaz de me tornar vento para te soprar ao ouvido o que sinto."
“Era capaz de me tornar vento para te soprar ao ouvido o que sinto.”
"O que me vai na alma é como uma albufeira cujas comportas estão por abrir. Seria preciso uma vida para escutar-me... com calma."
“O que me vai na alma é como uma albufeira cujas comportas estão por abrir. Seria preciso uma vida para escutar-me… com calma.”
"O senhor das meias! Num mundo de meias vidas e vidas pela metade, ele era o rei e senhor. Trabalhava pela metade, não fosse ficar demasiado afadigado para o meio dia em que nada fazia. No ginásio havia regateado embolso e por apenas meio preço fazia metade dos exercícios, uma parte dos quais eram realizados em observação criteriosa das moças inteiras que vestiam pela metade e deambulavam pelo sítio. Sempre que ia às compras despendia meio tempo a analisar folhetos de promoções e comprava metade do que fazia falta, outra metade do que nunca usaria. Com o vestuário agia da mesma forma, i.e., comprava roupa conformada a gente com metade da sua idade, metade do seu peso, metade de si, numa tentativa de se manter meio do que se sabia. A vida amorosa era mais um terreno fértil de metades injustificáveis. Tinha meias relações que se baseavam em sentimentos pela metade, noites de prazer acervadas a meio para que a intimidade não se completasse, mulheres de quem nunca saberia o nome inteiro uma vez que menos de metade chegava para que o seu intuito de meia companhia se cumprisse. Ah! E nem na cama largava as meias. Sim, nu integral, mas sempre com as meias presentes. Algures pelo meio desta vida vivida pela metade, com meias inferências de tudo o que poderia ter sido completo, teve uma meia epifania e resolveu partir para visitar meio mundo. Afinal de que valia estar já a meio da vida, finasse ela quando fosse, se não vivesse pelo menos metade do que havia vivido? Reza a história que o nosso senhor das meias, a meio do ano seguinte a largar a sua meia vida, se completou ao morrer de amores por inteiro de uma dama que não se contentou nunca com metades de coisa nenhuma. E viveram felizes para sempre, no seu reino de plenitude vivida a meias!"
“O senhor das meias! Num mundo de meias vidas e vidas pela metade, ele era o rei e senhor. Trabalhava pela metade, não fosse ficar demasiado afadigado para o meio dia em que nada fazia. No ginásio havia regateado embolso e por apenas meio preço fazia metade dos exercícios, uma parte dos quais eram realizados em observação criteriosa das moças inteiras que vestiam pela metade e deambulavam pelo sítio. Sempre que ia às compras despendia meio tempo a analisar folhetos de promoções e comprava metade do que fazia falta, outra metade do que nunca usaria. Com o vestuário agia da mesma forma, i.e., comprava roupa conformada a gente com metade da sua idade, metade do seu peso, metade de si, numa tentativa de se manter meio do que se sabia. A vida amorosa era mais um terreno fértil de metades injustificáveis. Tinha meias relações que se baseavam em sentimentos pela metade, noites de prazer acervadas a meio para que a intimidade não se completasse, mulheres de quem nunca saberia o nome inteiro uma vez que menos de metade chegava para que o seu intuito de meia companhia se cumprisse. Ah! E nem na cama largava as meias. Sim, nu integral, mas sempre com as meias presentes. Algures pelo meio desta vida vivida pela metade, com meias inferências de tudo o que poderia ter sido completo, teve uma meia epifania e resolveu partir para visitar meio mundo. Afinal de que valia estar já a meio da vida, finasse ela quando fosse, se não vivesse pelo menos metade do que havia vivido? Reza a história que o nosso senhor das meias, a meio do ano seguinte a largar a sua meia vida, se completou ao morrer de amores por inteiro de uma dama que não se contentou nunca com metades de coisa nenhuma. E viveram felizes para sempre, no seu reino de plenitude vivida a meias!”
"És poesia, que passa na praça, apressada, instante nos meus olhos."
“És poesia, que passa na praça, apressada, instante nos meus olhos.”
"A noite acontece dentro de mim e já não estás."
“A noite acontece dentro de mim e já não estás.”
"Abeirou-se de mim e chorou. Era um homem. Olhou nos olhos, em silêncio, explodiu em catarse galáctica. Os carros pararam. Os semáforos enlouqueceram e as máquinas, essas, invadiram a mente humana e passaram a definir os nossos movimentos. Passámos a beber combustível e a defecar dióxido de carbono. O sorriso passou a um conjunto de luzes intermitentes, substituindo o vulgo lábio. Passámos a pesar menos. Emagrecemos as emoções e o ritmo. O ritmo também se emagrece. Passou a ser vestigial. Os ouvidos deram lugar a microfones que, de hora a hora, debitavam ordens de comando em busca do uníssono. O uníssono das máquinas. As mãos passaram a ser impressoras, imprimindo a cada cinco minutos o desempenho de cada um. O nariz rebelou-se e foi imediatamente fechado. O conceito de flor desapareceu. E o homem, esse, parou de chorar."
“Abeirou-se de mim e chorou. Era um homem. Olhou nos olhos, em silêncio, explodiu em catarse galáctica. Os carros pararam. Os semáforos enlouqueceram e as máquinas, essas, invadiram a mente humana e passaram a definir os nossos movimentos. Passámos a beber combustível e a defecar dióxido de carbono. O sorriso passou a um conjunto de luzes intermitentes, substituindo o vulgo lábio. Passámos a pesar menos. Emagrecemos as emoções e o ritmo. O ritmo também se emagrece. Passou a ser vestigial. Os ouvidos deram lugar a microfones que, de hora a hora, debitavam ordens de comando em busca do uníssono. O uníssono das máquinas. As mãos passaram a ser impressoras, imprimindo a cada cinco minutos o desempenho de cada um. O nariz rebelou-se e foi imediatamente fechado. O conceito de flor desapareceu. E o homem, esse, parou de chorar.”
"Já não sou corpo, sou apego."
“Já não sou corpo, sou apego.”
"O gesto aquieta o medo."
“O gesto aquieta o medo.”
"Como são os teus medos? Quanto medem? Têm cores? São diários ou intermitentes? Duram muito ou pouco tempo? A que sabem? São partilhados ou enterrados?"
“Como são os teus medos? Quanto medem? Têm cores? São diários ou intermitentes? Duram muito ou pouco tempo? A que sabem? São partilhados ou enterrados?”
"O que fazer com cada momento, depois de o viver?"
“O que fazer com cada momento, depois de o viver?”
"A minha casa existe em partes de luz e sombra, de ausência e dor. Existe à beira do mundo, das coisas, assim, em pedaços. Como uma flecha que se divide ao ser lançada ao espaço, num gesto autônomo que acontece por si. Escrevo em busca da casa inteira, das imagens que levantarão as paredes, que completarão a costura, que anteciparão a quebra."
“A minha casa existe em partes de luz e sombra, de ausência e dor. Existe à beira do mundo, das coisas, assim, em pedaços. Como uma flecha que se divide ao ser lançada ao espaço, num gesto autônomo que acontece por si. Escrevo em busca da casa inteira, das imagens que levantarão as paredes, que completarão a costura, que anteciparão a quebra.”
"Hoje caminhamos de mão dada sem medo de nos perdermos. Ambos sabemos que foram os caminhos sem saída que nos juntaram..."
“Hoje caminhamos de mão dada sem medo de nos perdermos. Ambos sabemos que foram os caminhos sem saída que nos juntaram…”
"[só] Poeta só. Porque só é a solidão de um poema. Nevoeiro é o que vejo dentro do peito. Rarefeito o racional, banal o carnal. Bacanal de emoções vãs. Só está a solitude de uma prosa. Nua de versos ou ritmos. Crua e incerta inserta a solidão no poeta. Fico só com estas letras. Chove do lado de fora da janela, dentro do peito só nevoeiro, orvalho e melancolia. Só."
“[só] Poeta só. Porque só é a solidão de um poema. Nevoeiro é o que vejo dentro do peito. Rarefeito o racional, banal o carnal. Bacanal de emoções vãs. Só está a solitude de uma prosa. Nua de versos ou ritmos. Crua e incerta inserta a solidão no poeta. Fico só com estas letras. Chove do lado de fora da janela, dentro do peito só nevoeiro, orvalho e melancolia. Só.”
"A chegada do amor oferece-nos a esperança de um recomeço, como se as nossas partes mortas pudessem renascer por via de uma expectativa qualquer."
“A chegada do amor oferece-nos a esperança de um recomeço, como se as nossas partes mortas pudessem renascer por via de uma expectativa qualquer.”
"limpar o mundo é uma tarefa que o amor faz muito bem sem que ninguém lhe peça faz por si acontece basta existir para que se veja beleza mesmo no que não tem beleza e isso não é um faz-de-conta basta existires para saber o caminho sem esforço e isto não é uma fantasia"
“limpar o mundo é uma tarefa que o amor faz muito bem sem que ninguém lhe peça faz por si acontece basta existir para que se veja beleza mesmo no que não tem beleza e isso não é um faz-de-conta basta existires para saber o caminho sem esforço e isto não é uma fantasia”
"O meu corpo tem saudades do teu olhar."
“O meu corpo tem saudades do teu olhar.”
"Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto."
“Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto.”
"Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto."
“Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto.”
"Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto."
“Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto.”
"Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto."
“Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto.”
"Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto."
“Tenho tido um sonho. Já dura há dois anos.Um pensamento estranho. Isolamento. No meu sonho, pensamento vou até uma ilha. Vou carregada de peso, em mim. Chego quase por magia. Ou por magia. Num barco pequeno. Sei exatamente para onde tenho de ir. Mas não quero ir. Arriscar. Mentalmente sei exatamente o caminho. Mas nunca ali estive. Abandono o barco a custo. Salto. Água até aos joelhos. Molho as calças. Sinto ainda mais peso. Caminho na areia. Pesadamente. Com pressa mas sem resultado. Há peso nos ombros, como um casaco de peles. Caminho até uma espécie de casa. É só uma cabana. Simples. Há coisas a esvoaçar. São panos brancos. Subo uma rampa de madeira comida pelo sol. Sei que tenho de entrar. Foi algo que prometi. Entro mas não há porta. Há uma cama grande. Tem um tecido branco como colcha ou lençol. Ao lado um banco. Uma espécie de mocho. Em cima duas velas virgens. Um caixa de fósforos velha. Acendo-as. Agora é de noite. Mas era tão de dia. Talvez. Dispo-me. Parece-me passar uma hora. Nada saí do corpo. Penso tomar banho no mar. Mas o medo da falta de pé. Acobardo-me. Tenho medo de arriscar. Deito-me na cama. Em frente há um chuveiro, no meio do nada, ao fundo do quarto. Ou cabana. Levanto-me concentrada. Tomo banho. Água gelada. Choro. Volto à cama. Cheira bem. Não há toalhas. Cola-se o tecido branco ao corpo. Obrigo os olhos a ver-me. Nua. Não quero ver. Fecho os olhos o mais rápido que consigo. Ardem. Acordo. Não sei se dormi. O sol ilumina o quarto. A cabana. As velas quase intactas. Apagaram-se a meio do sonho. Fixo o olhar nelas. Acordo. Queria voltar lá. Não posso, tenho de esperar todo o dia, até dormir. Toda a monotonia de um dia inútil. Já na noite tenho de esperar o sono. Já no sono espero a tristeza. Já triste sonho. Com sorte volto à ilha. À cabana. À conclusão de tudo isto.”
"As nuvens passam, vagarosas e indiferentes. Porque nunca param para nos escutar?"
“As nuvens passam, vagarosas e indiferentes. Porque nunca param para nos escutar?”
"Bonitas são as flores que escolheste para dizeres que já não me amas. Cheiro-as e, tal como no beijo inerte que me deste, já não nos encontro. Entre nós, as palavras já só escasseiam e já não lembro a poesia de outros tempos. Os olhares já não se sentem, as mãos já não respiram, os lábios já não se fundem e as memórias já só demoram. Não me tragas mais flores, meu amor... O que temos já não consegue ser bonito como essas flores que escolheste para mim."
“Bonitas são as flores que escolheste para dizeres que já não me amas. Cheiro-as e, tal como no beijo inerte que me deste, já não nos encontro. Entre nós, as palavras já só escasseiam e já não lembro a poesia de outros tempos. Os olhares já não se sentem, as mãos já não respiram, os lábios já não se fundem e as memórias já só demoram. Não me tragas mais flores, meu amor… O que temos já não consegue ser bonito como essas flores que escolheste para mim.”
"Incomoda-te a minha sombra? Ou a minha luz?"
“Incomoda-te a minha sombra? Ou a minha luz?”
"- Espero que continues liberta e inspirada e que esta chuvinha ilumine e fertilize o teu sentir. - Há que procurar inspiração todos os dias... Beijinho agradecida pela tua bonita mensagem!... - As mensagens bonitas são para as meninas bonitas, aquelas com música de folhas, flores e frutos sem romance. Beijinho perfumado a terra molhada... - Uau! Não tenho palavras nem tenho essa veia artística, poética!... Apenas entendo a linguagem das plantas. - A linguagem das plantas é escrita poética em estado de graça, e a teu gracioso modo também tu libertas essa poesia da terra. - A sensibilidade com que lidamos com elas não é comum a toda a gente? - A sensibilidade é um dom de pessoas raras. E elas sentem essa luz umas nas outras. É uma paixão de flores e planetas. - É bem possível. Concordo."
“- Espero que continues liberta e inspirada e que esta chuvinha ilumine e fertilize o teu sentir. – Há que procurar inspiração todos os dias… Beijinho agradecida pela tua bonita mensagem!… – As mensagens bonitas são para as meninas bonitas, aquelas com música de folhas, flores e frutos sem romance. Beijinho perfumado a terra molhada… – Uau! Não tenho palavras nem tenho essa veia artística, poética!… Apenas entendo a linguagem das plantas. – A linguagem das plantas é escrita poética em estado de graça, e a teu gracioso modo também tu libertas essa poesia da terra. – A sensibilidade com que lidamos com elas não é comum a toda a gente? – A sensibilidade é um dom de pessoas raras. E elas sentem essa luz umas nas outras. É uma paixão de flores e planetas. – É bem possível. Concordo.”
"Sussurra-me ao ouvido que já é amanhã."
“Sussurra-me ao ouvido que já é amanhã.”
"Não é a tua ausência que temo, mas sim a tua presença vazia."
“Não é a tua ausência que temo, mas sim a tua presença vazia.”
"Estou a pensar, e pensar é uma forma de movimento."
“Estou a pensar, e pensar é uma forma de movimento.”
"A extensão máxima do sofrimento se atinge no silêncio."
“A extensão máxima do sofrimento se atinge no silêncio.”
"As coisas não acabam quando elas terminam."
“As coisas não acabam quando elas terminam.”
"o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade um estremecimento como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão braços de quente e luz a inundar o peito como se fora o brotar de flores num campo seco os lábios a chegarem-se aos teus uma inquietação a pele a vestir-se de água um sorriso um grito murmúrios em chão de silêncio"
“o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade um estremecimento como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão braços de quente e luz a inundar o peito como se fora o brotar de flores num campo seco os lábios a chegarem-se aos teus uma inquietação a pele a vestir-se de água um sorriso um grito murmúrios em chão de silêncio”
"o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade um estremecimento como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão braços de quente e luz a inundar o peito como se fora o brotar de flores num campo seco os lábios a chegarem-se aos teus uma inquietação a pele a vestir-se de água um sorriso um grito murmúrios em chão de silêncio"
“o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade um estremecimento como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão braços de quente e luz a inundar o peito como se fora o brotar de flores num campo seco os lábios a chegarem-se aos teus uma inquietação a pele a vestir-se de água um sorriso um grito murmúrios em chão de silêncio”
"o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade um estremecimento como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão braços de quente e luz a inundar o peito como se fora o brotar de flores num campo seco os lábios a chegarem-se aos teus uma inquietação a pele a vestir-se de água um sorriso um grito murmúrios em chão de silêncio"
“o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade um estremecimento como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão braços de quente e luz a inundar o peito como se fora o brotar de flores num campo seco os lábios a chegarem-se aos teus uma inquietação a pele a vestir-se de água um sorriso um grito murmúrios em chão de silêncio”
"o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade um estremecimento como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão braços de quente e luz a inundar o peito como se fora o brotar de flores num campo seco os lábios a chegarem-se aos teus uma inquietação a pele a vestir-se de água um sorriso um grito murmúrios em chão de silêncio"
“o amor sabe sempre a novo barrado de familiaridade um estremecimento como o verão que há dentro do outono ou aquela brisa que há dentro do verão braços de quente e luz a inundar o peito como se fora o brotar de flores num campo seco os lábios a chegarem-se aos teus uma inquietação a pele a vestir-se de água um sorriso um grito murmúrios em chão de silêncio”
“Procurei-te nas tuas palavras, mas elas estavam vazias de ti.”
“Procurei-te nas tuas palavras, mas elas estavam vazias de ti.”
"Na melodia das tuas palavras descobri que, também eu, sabia dançar."
“Na melodia das tuas palavras descobri que, também eu, sabia dançar.”
"O teu corpo, tão suave quanto desejado, contorno de montanhas."
“O teu corpo, tão suave quanto desejado, contorno de montanhas.”
"Não penses no futuro, que ainda há tanto presente pela frente."
“Não penses no futuro, que ainda há tanto presente pela frente.”
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
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http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
"Sei caminhar sem pegadas, desaparecer em mim."
“Sei caminhar sem pegadas, desaparecer em mim.”
“O que me apetecia, de verdade, era simplesmente gritar; gritar visceralmente, deixar que a dor e a agonia e o desânimo e a desesperança me saíssem pela garganta, gritar até me sentir vazia e livre e indiferente.”
“O que me apetecia, de verdade, era simplesmente gritar; gritar visceralmente, deixar que a dor e a agonia e o desânimo e a desesperança me saíssem pela garganta, gritar até me sentir vazia e livre e indiferente.”
"escrevo no teu corpo com as mãos escrita trêmula, a princípio firme, depois inscrevo-me na tua pele e mais fundo. memorizo teus poros, percorro geografias, lentamente. aquilo que conhecerei de ti me será contado pelos meus dedos para que possa sonhar contigo. saberás o sonho."
“escrevo no teu corpo com as mãos escrita trêmula, a princípio firme, depois inscrevo-me na tua pele e mais fundo. memorizo teus poros, percorro geografias, lentamente. aquilo que conhecerei de ti me será contado pelos meus dedos para que possa sonhar contigo. saberás o sonho.”
"E a água, como faz para atravessar a ponte?"
“E a água, como faz para atravessar a ponte?”
"E a água, como faz para atravessar a ponte?"
“E a água, como faz para atravessar a ponte?”
"E a água, como faz para atravessar a ponte?"
“E a água, como faz para atravessar a ponte?”
"O vento sopra solidão sobre a pele."
“O vento sopra solidão sobre a pele.”
"Agora, está barricado numa dor que serve apenas para lhe lembrar de onde veio."
“Agora, está barricado numa dor que serve apenas para lhe lembrar de onde veio.”
"Apenas a luz sabe que é na sombra que está a essência."
“Apenas a luz sabe que é na sombra que está a essência.”
"Preservo-te no meu inventário de decepções."
“Preservo-te no meu inventário de decepções.”
"Se te pudesse respirar inspirava-te... Ou então temporizava-te para o teu coração gritar quando me soprasses na alma."
“Se te pudesse respirar inspirava-te… Ou então temporizava-te para o teu coração gritar quando me soprasses na alma.”
"Devia haver sempre um cofre dentro de nós cheio de purpurinas. Assim a nossa alma tinha sempre festa e os castelos não eram feitos de sonhos."
“Devia haver sempre um cofre dentro de nós cheio de purpurinas. Assim a nossa alma tinha sempre festa e os castelos não eram feitos de sonhos.”
“Preservo-te no meu inventário de decepções.”
“Preservo-te no meu inventário de decepções.”
"Terás que agilizar um reset o que nem sempre é mau."
“Terás que agilizar um reset o que nem sempre é mau.”
"Terás que agilizar um reset o que nem sempre é mau."
“Terás que agilizar um reset o que nem sempre é mau.”
"Terás que agilizar um reset o que nem sempre é mau."
“Terás que agilizar um reset o que nem sempre é mau.”
Os dias escoam, frouxos, enquanto espero por ti. Os dias ecoam, frouxos, enquanto espero por ti.
Os dias escoam, frouxos, enquanto espero por ti. Os dias ecoam, frouxos, enquanto espero por ti.
Algo me sustenta em meio à inconstância do meu mundo. Brota profundo, sólido; assiste impassível ao burburinho, à fluidez dos movimentos incessantes, por vezes inúteis. Seu silêncio é secular, brutal em sua pouca consideração por meus dias mesquinhos. Eu o adivinho, farejo seu olhar, e sei que nada mais importa.
Algo me sustenta em meio à inconstância do meu mundo. Brota profundo, sólido; assiste impassível ao burburinho, à fluidez dos movimentos incessantes, por vezes inúteis. Seu silêncio é secular, brutal em sua pouca consideração por meus dias mesquinhos. Eu o adivinho, farejo seu olhar, e sei que nada mais importa.
"o passeio passeio: passou enquanto eu passava. tudo passa, mesmo que não dê um passo fica pacificado é isto: ex-isto."
“o passeio passeio: passou enquanto eu passava. tudo passa, mesmo que não dê um passo fica pacificado é isto: ex-isto.”
“Como se a sua mente fosse um quarto percorrido por correntes de ar invisíveis, que provocam reacções e têm consequências, que agitam, mas são simples movimentações de ar; fluxos de ar; oscilações de ar.”
“Como se a sua mente fosse um quarto percorrido por correntes de ar invisíveis, que provocam reacções e têm consequências, que agitam, mas são simples movimentações de ar; fluxos de ar; oscilações de ar.”
“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem e o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem…” A lengalenga aprendida na infância, a velocidade das palavras ditas que nos travava a língua, risotas dos disparates, sem tempo pensado para imaginar sequer que esse tempo era um sopro breve, malgasto em futilidades, desperdiçado com inutilidades… Quem passou por quem fomos? Quem está onde somos?... Clandestinamente chegou-se… sulcou de estórias os traços deixados numa pele feita de tempo. Vivemos sem pensar, numa pressa vã e quase inglória. Que resta depois da emboscada? A sombra que acompanha desde o início, silenciosa. Espera pacientemente. Sabe que será. Sorri. Não tem pressa…
“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem e o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem…” A lengalenga aprendida na infância, a velocidade das palavras ditas que nos travava a língua, risotas dos disparates, sem tempo pensado para imaginar sequer que esse tempo era um sopro breve, malgasto em futilidades, desperdiçado com inutilidades… Quem passou por quem fomos? Quem está onde somos?… Clandestinamente chegou-se… sulcou de estórias os traços deixados numa pele feita de tempo. Vivemos sem pensar, numa pressa vã e quase inglória. Que resta depois da emboscada? A sombra que acompanha desde o início, silenciosa. Espera pacientemente. Sabe que será. Sorri. Não tem pressa…
"Um filme do qual não fazia parte do guião. Tudo decorria sem que estivesse ali. Sucessão de movimentos sem sentido. Ruídos transformados em silêncio numa mente vazia pelo tanto que absorveu. O sítio de sempre, tão diferente do que alguma vez tinha sido. As mãos. O espaço vazio entre os dedos. Há quanto tempo estaria assim, por preencher? Há quanto tempo segura a reminiscência do que partiu? É por onde começamos a sentir que adiamos deixar de o fazer, que prolongamos um mundo porque existem memórias que ainda precisam de viver. Não deu conta de ir. Caminhos de sorrisos, de incontáveis palavras que mesmo sem voz se faziam ouvir. Não deu conta de voltar. Chegada bem distante da partida, desconhecendo-se a si e onde veio parar..."
“Um filme do qual não fazia parte do guião. Tudo decorria sem que estivesse ali. Sucessão de movimentos sem sentido. Ruídos transformados em silêncio numa mente vazia pelo tanto que absorveu. O sítio de sempre, tão diferente do que alguma vez tinha sido. As mãos. O espaço vazio entre os dedos. Há quanto tempo estaria assim, por preencher? Há quanto tempo segura a reminiscência do que partiu? É por onde começamos a sentir que adiamos deixar de o fazer, que prolongamos um mundo porque existem memórias que ainda precisam de viver. Não deu conta de ir. Caminhos de sorrisos, de incontáveis palavras que mesmo sem voz se faziam ouvir. Não deu conta de voltar. Chegada bem distante da partida, desconhecendo-se a si e onde veio parar…”
“Aos domingos as angústias são vorazes.”
“Aos domingos as angústias são vorazes.”
[dum lugar íntimo do desencanto] todos os nossos passos decolam em direção ao caos eu até parece que danço — mas condenso, só eu até parece que passo — mas espaço, só
[dum lugar íntimo do desencanto] todos os nossos passos decolam em direção ao caos eu até parece que danço — mas condenso, só eu até parece que passo — mas espaço, só
Texto | Ana Gilbert
“Quando tocas o corpo, sentes a alma?”
“a magnífica competência de um olhar____________compasso conciso da cor que é coroa e confidência. em sossego inquieto enquanto o mundo é in.comovente. consagro este cálice. quase boreal. em pastoreio de vibrações.”
“a magnífica competência de um olhar____________compasso conciso da cor que é coroa e confidência. em sossego inquieto enquanto o mundo é in.comovente. consagro este cálice. quase boreal. em pastoreio de vibrações.”
“a magnífica competência de um olhar____________compasso conciso da cor que é coroa e confidência. em sossego inquieto enquanto o mundo é in.comovente. consagro este cálice. quase boreal. em pastoreio de vibrações.”
“a magnífica competência de um olhar____________compasso conciso da cor que é coroa e confidência. em sossego inquieto enquanto o mundo é in.comovente. consagro este cálice. quase boreal. em pastoreio de vibrações.”
"Ela despiu a alma. Sentiu a dor e o desconforto que existem na felicidade de ser genuína."
“Ela despiu a alma. Sentiu a dor e o desconforto que existem na felicidade de ser genuína.”
"Lentamente, a fera da noite dissolveu-se no sono exausto dos Homens, sumindo-se por completo no regresso meigo da luz."
“Lentamente, a fera da noite dissolveu-se no sono exausto dos Homens, sumindo-se por completo no regresso meigo da luz.”
"Fim No dia que fecharem os teus olhos, virão os amigos as palavras doces a escuridão terra fria No dia que fecharem os teus olhos, choros inundarão rios fogos te consomem teus sonhos se extinguem os olhos são vida e morre a vida no dia que fecharem os teus olhos."
“Fim No dia que fecharem os teus olhos, virão os amigos as palavras doces a escuridão terra fria No dia que fecharem os teus olhos, choros inundarão rios fogos te consomem teus sonhos se extinguem os olhos são vida e morre a vida no dia que fecharem os teus olhos.”
"Só o amor nos distingue."
“Só o amor nos distingue.”
“Deslizo lentes como dedos; percorro sinuosidades, afago fronteiras, decifro-te. E me entrego. Inteiro.”
“Deslizo lentes como dedos; percorro sinuosidades, afago fronteiras, decifro-te. E me entrego. Inteiro.”
"Sinto-me rasgada ao meio nesta dualidade de querer viver e de querer morrer."
“Sinto-me rasgada ao meio nesta dualidade de querer viver e de querer morrer.”
"Chegará o instante em que a alma abandona o corpo, em que regressarei sozinha de ti mas mais comigo do que nunca."
“Chegará o instante em que a alma abandona o corpo, em que regressarei sozinha de ti mas mais comigo do que nunca.”
“Hoje convidei-te para tomar um café, ou um chocolate quente, algo que nos aqueça o olhar ou nos aqueça por dentro e é um bom começo. Ha-de haver sempre um bom começo e sempre dá para te olhar mais de perto e quando te olho mais de perto apaixono-me mais. Quando te olho mais de perto por apenas aqueles segundos em que bebes o café, sou feliz para sempre, juro, se tu soubesses que te pago o café para me apaixonar todos os dias por ti, ficavas ali de chávena na mão a vida inteira. E eu apaixonava-me, sempre, vestia-me de ti, todas as vezes. Sim porque estar apaixonado é estar vestido de alguém. E nunca se está mal vestido quando se está apaixonado.”
“Hoje convidei-te para tomar um café, ou um chocolate quente, algo que nos aqueça o olhar ou nos aqueça por dentro e é um bom começo. Ha-de haver sempre um bom começo e sempre dá para te olhar mais de perto e quando te olho mais de perto apaixono-me mais. Quando te olho mais de perto por apenas aqueles segundos em que bebes o café, sou feliz para sempre, juro, se tu soubesses que te pago o café para me apaixonar todos os dias por ti, ficavas ali de chávena na mão a vida inteira. E eu apaixonava-me, sempre, vestia-me de ti, todas as vezes. Sim porque estar apaixonado é estar vestido de alguém. E nunca se está mal vestido quando se está apaixonado.”
"Escuto o suave sussurro da respiração do meu corpo. Mas será que a minha alma também está a respirar? Como perceber se está viva, se não ouço nem sinto a sua respiração? Se não a sinto pulsar, se não sinto o bater do seu coração? Como saber o que faz respirar a alma?"
“Escuto o suave sussurro da respiração do meu corpo. Mas será que a minha alma também está a respirar? Como perceber se está viva, se não ouço nem sinto a sua respiração? Se não a sinto pulsar, se não sinto o bater do seu coração? Como saber o que faz respirar a alma?”
"Existo no entre, nos intervalos da vida."
“Existo no entre, nos intervalos da vida.”
"Existo no entre, nos intervalos da vida."
“Existo no entre, nos intervalos da vida.”
Colaboração com Peter A. Gilbert (foto)
"Querido Ausente, espero que te encontres bem. Hoje fui mais cedo para o ensaio, o que me impossibilitou de ver o nosso homem jovem a olhar, furtivamente, o rio. Em contrapartida, estive muito tempo na rua. Sempre gostei de ruas, e não são raras as vezes, que sinto serem elas, as ruas, a observarem-me, e não o contrário. As ruas são uma espécie de entidade que pertence ao ar livre. Nelas, ouve-se de tudo. Listas de compras de supermercado, o preço de pneus, considerações futebolísticas, doenças, para além dos habituais "é a vida!", "são todos uns ladrões" ou " amanhã vai chover ". No regresso a casa, ouvi um homem dizer a outro:" São sempre os portugueses que lixam os portugueses. Mais ninguém. "Há coisas curiosas, como, por exemplo, o poder que algumas palavras têm de me transportar para outro lugar, sem qualquer autorização. O comentário sentencioso daquele português levou-me para Kafka. Para a sua história O Médico Rural. E perguntei -me quais são as regras gramaticais - caso existam - que explicam que um ser universal deverá ser como o médico rural que sai, no Inverno, da sua casa, para atender doentes que não querem ser curados mas, unicamente, serem salvos. O médico daquela história é dilacerado pelos camponeses. Não sei como as ruas fazem, querido Ausente, se calhar tapam os ouvidos e os olhos. Ou então, riem-se. Ou talvez se alimentem dos beijos dos outros. Minhas queridas ruas que tanto custaram a conquistar. Beijos da tua rapariga simples"
“Querido Ausente, espero que te encontres bem. Hoje fui mais cedo para o ensaio, o que me impossibilitou de ver o nosso homem jovem a olhar, furtivamente, o rio. Em contrapartida, estive muito tempo na rua. Sempre gostei de ruas, e não são raras as vezes, que sinto serem elas, as ruas, a observarem-me, e não o contrário. As ruas são uma espécie de entidade que pertence ao ar livre. Nelas, ouve-se de tudo. Listas de compras de supermercado, o preço de pneus, considerações futebolísticas, doenças, para além dos habituais “é a vida!”, “são todos uns ladrões” ou ” amanhã vai chover “. No regresso a casa, ouvi um homem dizer a outro:” São sempre os portugueses que lixam os portugueses. Mais ninguém. “Há coisas curiosas, como, por exemplo, o poder que algumas palavras têm de me transportar para outro lugar, sem qualquer autorização. O comentário sentencioso daquele português levou-me para Kafka. Para a sua história O Médico Rural. E perguntei -me quais são as regras gramaticais – caso existam – que explicam que um ser universal deverá ser como o médico rural que sai, no Inverno, da sua casa, para atender doentes que não querem ser curados mas, unicamente, serem salvos. O médico daquela história é dilacerado pelos camponeses. Não sei como as ruas fazem, querido Ausente, se calhar tapam os ouvidos e os olhos. Ou então, riem-se. Ou talvez se alimentem dos beijos dos outros. Minhas queridas ruas que tanto custaram a conquistar. Beijos da tua rapariga simples”
"Querido Ausente, espero que te encontres bem. Hoje fui mais cedo para o ensaio, o que me impossibilitou de ver o nosso homem jovem a olhar, furtivamente, o rio. Em contrapartida, estive muito tempo na rua. Sempre gostei de ruas, e não são raras as vezes, que sinto serem elas, as ruas, a observarem-me, e não o contrário. As ruas são uma espécie de entidade que pertence ao ar livre. Nelas, ouve-se de tudo. Listas de compras de supermercado, o preço de pneus, considerações futebolísticas, doenças, para além dos habituais "é a vida!", "são todos uns ladrões" ou " amanhã vai chover ". No regresso a casa, ouvi um homem dizer a outro:" São sempre os portugueses que lixam os portugueses. Mais ninguém. "Há coisas curiosas, como, por exemplo, o poder que algumas palavras têm de me transportar para outro lugar, sem qualquer autorização. O comentário sentencioso daquele português levou-me para Kafka. Para a sua história O Médico Rural. E perguntei -me quais são as regras gramaticais - caso existam - que explicam que um ser universal deverá ser como o médico rural que sai, no Inverno, da sua casa, para atender doentes que não querem ser curados mas, unicamente, serem salvos. O médico daquela história é dilacerado pelos camponeses. Não sei como as ruas fazem, querido Ausente, se calhar tapam os ouvidos e os olhos. Ou então, riem-se. Ou talvez se alimentem dos beijos dos outros. Minhas queridas ruas que tanto custaram a conquistar. Beijos da tua rapariga simples"
“Querido Ausente, espero que te encontres bem. Hoje fui mais cedo para o ensaio, o que me impossibilitou de ver o nosso homem jovem a olhar, furtivamente, o rio. Em contrapartida, estive muito tempo na rua. Sempre gostei de ruas, e não são raras as vezes, que sinto serem elas, as ruas, a observarem-me, e não o contrário. As ruas são uma espécie de entidade que pertence ao ar livre. Nelas, ouve-se de tudo. Listas de compras de supermercado, o preço de pneus, considerações futebolísticas, doenças, para além dos habituais “é a vida!”, “são todos uns ladrões” ou ” amanhã vai chover “. No regresso a casa, ouvi um homem dizer a outro:” São sempre os portugueses que lixam os portugueses. Mais ninguém. “Há coisas curiosas, como, por exemplo, o poder que algumas palavras têm de me transportar para outro lugar, sem qualquer autorização. O comentário sentencioso daquele português levou-me para Kafka. Para a sua história O Médico Rural. E perguntei -me quais são as regras gramaticais – caso existam – que explicam que um ser universal deverá ser como o médico rural que sai, no Inverno, da sua casa, para atender doentes que não querem ser curados mas, unicamente, serem salvos. O médico daquela história é dilacerado pelos camponeses. Não sei como as ruas fazem, querido Ausente, se calhar tapam os ouvidos e os olhos. Ou então, riem-se. Ou talvez se alimentem dos beijos dos outros. Minhas queridas ruas que tanto custaram a conquistar. Beijos da tua rapariga simples”
"Inventei-me de novo? Ou nasci de novo? Ainda não sei!"
“Inventei-me de novo? Ou nasci de novo? Ainda não sei!”
Texto: Ana Gilbert
“Finges não perceber o que me acontece.”
"Adormecia, sempre, na esperança de que ao acordar o mundo aguardasse para ser tocado pela primeira vez. O estado mais puro de tudo. A perceção da inocência da espera que não sabe o que esperar. Respostas isentas de ensaios libertadas pelo que se fez sentir. Talvez, o único momento em que a verdade não saberia ser mentira...Adormecia a procurar no sonho a certeza da vida. A fuga de uma existência confundida na dos outros. E os outros confundidos no que são, retalhados pelo que querem ser, denunciam-se nas palavras privadas dos gestos que as fazem valer. Será que é por sermos tantos num só que vivemos impossibilitados de conhecer o nosso rosto? Aguentaríamos ver quem pensamos ocultar? Adormecia sem saber quem encontraria pela manhã. Sem saber qual a memória que lhe iria reger a mente ou quantas batidas lhe permitiria o coração. A imprevisibilidade que desperta o instinto e redescobre as emoções, transformando-nos em seres impossíveis de controlar. A surpresa de irmos onde nunca sequer deixámos encaminhar-se o pensamento. A compreensão do que sempre foi arrevesado. Vazio que aumenta assim que se consegue completar. Adormecia... Sossego da alma na calma do corpo..."
“Adormecia, sempre, na esperança de que ao acordar o mundo aguardasse para ser tocado pela primeira vez. O estado mais puro de tudo. A perceção da inocência da espera que não sabe o que esperar. Respostas isentas de ensaios libertadas pelo que se fez sentir. Talvez, o único momento em que a verdade não saberia ser mentira…Adormecia a procurar no sonho a certeza da vida. A fuga de uma existência confundida na dos outros. E os outros confundidos no que são, retalhados pelo que querem ser, denunciam-se nas palavras privadas dos gestos que as fazem valer. Será que é por sermos tantos num só que vivemos impossibilitados de conhecer o nosso rosto? Aguentaríamos ver quem pensamos ocultar? Adormecia sem saber quem encontraria pela manhã. Sem saber qual a memória que lhe iria reger a mente ou quantas batidas lhe permitiria o coração. A imprevisibilidade que desperta o instinto e redescobre as emoções, transformando-nos em seres impossíveis de controlar. A surpresa de irmos onde nunca sequer deixámos encaminhar-se o pensamento. A compreensão do que sempre foi arrevesado. Vazio que aumenta assim que se consegue completar. Adormecia… Sossego da alma na calma do corpo…”
Danço, secretamente nua, por baixo do véu da realidade.
Danço, secretamente nua, por baixo do véu da realidade.
Texto | Ana Gilbert
“Carrego uma lâmina sob a pele. Fria, cortante, protetora. Afasta-te de mim; afasta-me de ti, de todos, de mim. Sangro. E (quase) não sinto.”
"Importa-se de parar de olhar para mim?"
“Importa-se de parar de olhar para mim?”
“Não havia pedaço da velha varanda fora do lugar. O musgo bebia as manhãs. Em frente à grade férrea, a pedra segurava o vento. As portas esverdeavam. Atrás delas, Maria respirava. Abaixo o degrau rochoso coberto pelo tempo, uma erva daninha tomava posse. Crescia, crescia como se tivesse nascido apenas para isso. Cada dia uma nova folha, um caminho a se abrir no meio da pedreira. Subia pela escada ao encontro de Maria. Velha, de olhos vivos enxergava pouco. Abria-se para dentro. Só saía de manhã. Gostava de ouvir o sol. O vermelho sangue e o laranja chegavam quietos. Depois descascavam. O amarelo brilhante ofuscava de vez a noite. Mas era ruidoso e Maria voltava para a casa de portas verde oliva. Por muito tempo, não gostou de pensar em origens. As suas eram as dos outros. Passou a viver ali, quando as crianças dos patrões nasceram. No dia em que fez 15 anos, o pai dos meninos foi embora. Bordou a toalha de linho, que hoje amarela esquecida, enquanto a patroa tecia outro filho. Era sempre o marco. Delimitava terras alheias. Talvez, havia amor nisso. Agora, alguém nascia por ela. Primeiro debaixo da pedra. Respirava forte, a erva daninha. Rachou o topo da escada e pela varanda veio à luz. Crescia para Maria, somente para ela. Cada dia mais perto, a velha a percebeu quando foi ouvir o sol. A erva se aninhou no arco de seu pé. Ao toque da pele calejada, amaciou-se entre os dedos. Subiu as pernas. Tomou as suas cavidades. Maria não se movia. Já não era uma. Imaginava-se flor por toda parte. O corpo talhado. A varanda silvestre mergulhava no último amanhecer. As portas oliva rangiam. A pedra não segurava mais o vento. E a mulher, cega dos dois olhos, nasceu de vez.”
“Não havia pedaço da velha varanda fora do lugar. O musgo bebia as manhãs. Em frente à grade férrea, a pedra segurava o vento. As portas esverdeavam. Atrás delas, Maria respirava. Abaixo o degrau rochoso coberto pelo tempo, uma erva daninha tomava posse. Crescia, crescia como se tivesse nascido apenas para isso. Cada dia uma nova folha, um caminho a se abrir no meio da pedreira. Subia pela escada ao encontro de Maria. Velha, de olhos vivos enxergava pouco. Abria-se para dentro. Só saía de manhã. Gostava de ouvir o sol. O vermelho sangue e o laranja chegavam quietos. Depois descascavam. O amarelo brilhante ofuscava de vez a noite. Mas era ruidoso e Maria voltava para a casa de portas verde oliva. Por muito tempo, não gostou de pensar em origens. As suas eram as dos outros. Passou a viver ali, quando as crianças dos patrões nasceram. No dia em que fez 15 anos, o pai dos meninos foi embora. Bordou a toalha de linho, que hoje amarela esquecida, enquanto a patroa tecia outro filho. Era sempre o marco. Delimitava terras alheias. Talvez, havia amor nisso. Agora, alguém nascia por ela. Primeiro debaixo da pedra. Respirava forte, a erva daninha. Rachou o topo da escada e pela varanda veio à luz. Crescia para Maria, somente para ela. Cada dia mais perto, a velha a percebeu quando foi ouvir o sol. A erva se aninhou no arco de seu pé. Ao toque da pele calejada, amaciou-se entre os dedos. Subiu as pernas. Tomou as suas cavidades. Maria não se movia. Já não era uma. Imaginava-se flor por toda parte. O corpo talhado. A varanda silvestre mergulhava no último amanhecer. As portas oliva rangiam. A pedra não segurava mais o vento. E a mulher, cega dos dois olhos, nasceu de vez.”
“Quando voou, percebeu o quanto cansada estava de andar. Dos passos que já não se faziam sentir, ruidosos nas voltas que davam anunciando chegadas adunadas em partidas. Cansada, dos lugares perfeitos ao olhar que apenas retinham o corpo. Da terra pisada por muitos fingindo apenas beijar os seus pés. Talvez o céu guardasse um pedacinho só dela, onde o silêncio a fizesse despertar. Talvez uma nuvem onde repousasse o coração. Quando o coração repousa, desprovimo-nos de emoções. Os olhos ganham a cor da clareza encaixando peças nos puzzles que se recusam completar. Pedaços de vida que encaixotamos em saudade. Talvez no céu existisse quem voasse como ela. Quem fizesse brotar nas mãos páginas que cevam o voo. Livros que se abrem, por desvelo, no capítulo que mais faz impelir. Asas de papel de estórias infinitas, reescritas por quem é, e sabe dar, felicidade. Talvez, uma vez no céu, pudesse mudar as estrelas. Criar constelações que partilhassem o brilho com quem se quer encontrar. Por sermos reflexos de luz só somos visíveis a quem nos consegue iluminar. Um fundir de cores libertadas em sorrisos de genuínos sentimentos. São aqueles que existem para além do sangue que percorre a carne, que saboreiam o azul que envolve todos os outros. Talvez o céu pertença aos que voam pela sua essência de, somente, fazer voar…”
“Quando voou, percebeu o quanto cansada estava de andar. Dos passos que já não se faziam sentir, ruidosos nas voltas que davam anunciando chegadas adunadas em partidas. Cansada, dos lugares perfeitos ao olhar que apenas retinham o corpo. Da terra pisada por muitos fingindo apenas beijar os seus pés. Talvez o céu guardasse um pedacinho só dela, onde o silêncio a fizesse despertar. Talvez uma nuvem onde repousasse o coração. Quando o coração repousa, desprovimo-nos de emoções. Os olhos ganham a cor da clareza encaixando peças nos puzzles que se recusam completar. Pedaços de vida que encaixotamos em saudade. Talvez no céu existisse quem voasse como ela. Quem fizesse brotar nas mãos páginas que cevam o voo. Livros que se abrem, por desvelo, no capítulo que mais faz impelir. Asas de papel de estórias infinitas, reescritas por quem é, e sabe dar, felicidade. Talvez, uma vez no céu, pudesse mudar as estrelas. Criar constelações que partilhassem o brilho com quem se quer encontrar. Por sermos reflexos de luz só somos visíveis a quem nos consegue iluminar. Um fundir de cores libertadas em sorrisos de genuínos sentimentos. São aqueles que existem para além do sangue que percorre a carne, que saboreiam o azul que envolve todos os outros. Talvez o céu pertença aos que voam pela sua essência de, somente, fazer voar…”
Colaboração com Lorena Kim Richter
"É nos abraços de luz que a coragem comanda os membros que se submetem a ir no anseio de ficar."
“É nos abraços de luz que a coragem comanda os membros que se submetem a ir no anseio de ficar.”
"Vou roubar o luar, afinal é de prata quando reflete na água."
“Vou roubar o luar, afinal é de prata quando reflete na água.”
"Tenho a certeza de que nada é tão nosso, do que aquilo que dizemos. Se o dizemos. E depois há as palavras que são silêncio."
“Tenho a certeza de que nada é tão nosso, do que aquilo que dizemos. Se o dizemos. E depois há as palavras que são silêncio.”
"Observo-te à distância. À distância insegura de um toque, de um gesto, à distância insegura de uma inspiração-expiração-inspiração, à distância insegura do olhar que é também carícia. Observo-te, e penso que sequer suspeitas o que sinto. Talvez imagines que estou aqui sem me envolver, alheia a ti, sensação apenas. Talvez não. Observo-te: contornos, textura, movimento. Observo-te na solidão da tua presença, na tristeza do encontro, na possibilidade de prazer (ou será dor?). Tocas-me. Com a ponta do cigarro acesa. É parte do teu prazer. Estremeço. Já não sinto dor. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Tento concentrar-me em cada pedaço de mim que ganha vida própria ao teu toque. Mas o pensamento é como um compartimento estanque, isolado das sensações, a seguir seus próprios caminhos. É preciso que seja assim. E continuo a pensar. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Os dois parecem parte da mesma coisa. Tento convencer-me de que é assim, de que esta é uma forma de amor, a tua forma de amar. Talvez desejes que seja imune à tua sedução, que apenas ceda aos meus próprios desejos (quais?), aproveite o momento, não tenha anseios. Talvez. Imagino que não sou o que queres de mim. Seria isso? Hesito por um instante. Observo-me. Estou à beira da entrega. Acho que o faço por prazer (ou será medo?). Não sabes da minha insegurança, sabes? Se soubesses, o que farias? Agredirias mais? Machucarias com mais requinte? Irias embora, deixando-me em abandono? Talvez não. Serei eu a desconhecer-te? A desconhecer-me? Queria odiar-te e tornar-me inteira no ódio. Mas não tenho forças. Meus fragmentos estão espalhados. Observo-te à distância, insegura do que ser depois, depois, quando me dissolver em ti e nada mais fizer sentido. Não agora."
“Observo-te à distância. À distância insegura de um toque, de um gesto, à distância insegura de uma inspiração-expiração-inspiração, à distância insegura do olhar que é também carícia. Observo-te, e penso que sequer suspeitas o que sinto. Talvez imagines que estou aqui sem me envolver, alheia a ti, sensação apenas. Talvez não. Observo-te: contornos, textura, movimento. Observo-te na solidão da tua presença, na tristeza do encontro, na possibilidade de prazer (ou será dor?). Tocas-me. Com a ponta do cigarro acesa. É parte do teu prazer. Estremeço. Já não sinto dor. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Tento concentrar-me em cada pedaço de mim que ganha vida própria ao teu toque. Mas o pensamento é como um compartimento estanque, isolado das sensações, a seguir seus próprios caminhos. É preciso que seja assim. E continuo a pensar. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Os dois parecem parte da mesma coisa. Tento convencer-me de que é assim, de que esta é uma forma de amor, a tua forma de amar. Talvez desejes que seja imune à tua sedução, que apenas ceda aos meus próprios desejos (quais?), aproveite o momento, não tenha anseios. Talvez. Imagino que não sou o que queres de mim. Seria isso? Hesito por um instante. Observo-me. Estou à beira da entrega. Acho que o faço por prazer (ou será medo?). Não sabes da minha insegurança, sabes? Se soubesses, o que farias? Agredirias mais? Machucarias com mais requinte? Irias embora, deixando-me em abandono? Talvez não. Serei eu a desconhecer-te? A desconhecer-me? Queria odiar-te e tornar-me inteira no ódio. Mas não tenho forças. Meus fragmentos estão espalhados. Observo-te à distância, insegura do que ser depois, depois, quando me dissolver em ti e nada mais fizer sentido. Não agora.”
“Fecha os olhos e vem comigo ver estrelas. No caminho te ilumino.”
“Fecha os olhos e vem comigo ver estrelas. No caminho te ilumino.”
"O passado ganha forma neste segmento de tempo, materializa ‑se à frente dos meus olhos, como se agora as aves agitassem as asas e todo o pó suspenso, por anos e anos, nas penas e plumas se espalhasse diante da minha face, como partículas iguais a telas de cinema onde se projetam, em simultâneo, frações de um tempo muito antigo."
“O passado ganha forma neste segmento de tempo, materializa ‑se à frente dos meus olhos, como se agora as aves agitassem as asas e todo o pó suspenso, por anos e anos, nas penas e plumas se espalhasse diante da minha face, como partículas iguais a telas de cinema onde se projetam, em simultâneo, frações de um tempo muito antigo.”
"Conspiração Sei-te igual. Sei-te estranho. Sei-te de cor. Sei-te o sal, O odor e o intento. Sei-te aqui. Sei-te aí. Sei-te onde for. Sei-te como ser. Sei-te o nome. Sei-te o rosto. Sei-te a boca. Sei-te o corpo. Sei-te o sexo. E o desejo. E não sei nada de ti."
“Conspiração Sei-te igual. Sei-te estranho. Sei-te de cor. Sei-te o sal, O odor e o intento. Sei-te aqui. Sei-te aí. Sei-te onde for. Sei-te como ser. Sei-te o nome. Sei-te o rosto. Sei-te a boca. Sei-te o corpo. Sei-te o sexo. E o desejo. E não sei nada de ti.”
"Sonhar é melhor do que viver?"
“Sonhar é melhor do que viver?”
“Tens duas mãos para pousar onde preciso. Uma boca da qual espero o indizível. Narinas que me respiram. Apertas-me contra ti. Sinto-te. Dentro."
“Tens duas mãos para pousar onde preciso. Uma boca da qual espero o indizível. Narinas que me respiram. Apertas-me contra ti. Sinto-te. Dentro.”
"É Domingo. O dia acorda quente e os nossos corpos acusam o cansaço da semana. Sussurras-me ao ouvido: "Apeteces-me"! Permito-te."
“É Domingo. O dia acorda quente e os nossos corpos acusam o cansaço da semana. Sussurras-me ao ouvido: “Apeteces-me”! Permito-te.”
"Podes fechar a cortina do quarto. É no escuro, que te verei melhor."
“Podes fechar a cortina do quarto. É no escuro, que te verei melhor.”
"Promete, vais ser minha para sempre.“ Murmuravas-me ao ouvido enquanto te apoderavas de cada milímetro meu... Sentia-te a ser tudo o quanto podias, e eu era a felicidade a perecer de exaltação. O meu silêncio nos teus gemidos, as tuas palavras largadas na intensidade "Promete, vais ser minha para sempre." Amava sentir a tua exortação, a tua avidez pelo meu corpo, acreditando que se estendia até à alma. Mas as promessas são de uma fragilidade imensa, e não se promete o que é impossível deixar de existir. Esperava um sempre que não se alimentasse somente de mim, onde não vivesse sozinha o que ia além da carne. A minha carne impossível de distinguir da tua, perfeitamente sincronizadas numa agitação que de tão espontânea nos dissolvia por inteiro no mais anestesiante dos prazeres. Regressávamos, deixando lentamente de nos tocar, apaziguando os sentidos na separação do que mais almejava ser... E restava assim... Despojada de tudo e de nós, numa matéria incompleta que se envolvia na ilusão de guardar o remanescente de ti. Apenas carne, sempre carne..."
“Promete, vais ser minha para sempre.“ Murmuravas-me ao ouvido enquanto te apoderavas de cada milímetro meu… Sentia-te a ser tudo o quanto podias, e eu era a felicidade a perecer de exaltação. O meu silêncio nos teus gemidos, as tuas palavras largadas na intensidade “Promete, vais ser minha para sempre.” Amava sentir a tua exortação, a tua avidez pelo meu corpo, acreditando que se estendia até à alma. Mas as promessas são de uma fragilidade imensa, e não se promete o que é impossível deixar de existir. Esperava um sempre que não se alimentasse somente de mim, onde não vivesse sozinha o que ia além da carne. A minha carne impossível de distinguir da tua, perfeitamente sincronizadas numa agitação que de tão espontânea nos dissolvia por inteiro no mais anestesiante dos prazeres. Regressávamos, deixando lentamente de nos tocar, apaziguando os sentidos na separação do que mais almejava ser… E restava assim… Despojada de tudo e de nós, numa matéria incompleta que se envolvia na ilusão de guardar o remanescente de ti. Apenas carne, sempre carne…”
"Promete, vais ser minha para sempre.“ Murmuravas-me ao ouvido enquanto te apoderavas de cada milímetro meu... Sentia-te a ser tudo o quanto podias, e eu era a felicidade a perecer de exaltação. O meu silêncio nos teus gemidos, as tuas palavras largadas na intensidade "Promete, vais ser minha para sempre." Amava sentir a tua exortação, a tua avidez pelo meu corpo, acreditando que se estendia até à alma. Mas as promessas são de uma fragilidade imensa, e não se promete o que é impossível deixar de existir. Esperava um sempre que não se alimentasse somente de mim, onde não vivesse sozinha o que ia além da carne. A minha carne impossível de distinguir da tua, perfeitamente sincronizadas numa agitação que de tão espontânea nos dissolvia por inteiro no mais anestesiante dos prazeres. Regressávamos, deixando lentamente de nos tocar, apaziguando os sentidos na separação do que mais almejava ser... E restava assim... Despojada de tudo e de nós, numa matéria incompleta que se envolvia na ilusão de guardar o remanescente de ti. Apenas carne, sempre carne..."
“Promete, vais ser minha para sempre.“ Murmuravas-me ao ouvido enquanto te apoderavas de cada milímetro meu… Sentia-te a ser tudo o quanto podias, e eu era a felicidade a perecer de exaltação. O meu silêncio nos teus gemidos, as tuas palavras largadas na intensidade “Promete, vais ser minha para sempre.” Amava sentir a tua exortação, a tua avidez pelo meu corpo, acreditando que se estendia até à alma. Mas as promessas são de uma fragilidade imensa, e não se promete o que é impossível deixar de existir. Esperava um sempre que não se alimentasse somente de mim, onde não vivesse sozinha o que ia além da carne. A minha carne impossível de distinguir da tua, perfeitamente sincronizadas numa agitação que de tão espontânea nos dissolvia por inteiro no mais anestesiante dos prazeres. Regressávamos, deixando lentamente de nos tocar, apaziguando os sentidos na separação do que mais almejava ser… E restava assim… Despojada de tudo e de nós, numa matéria incompleta que se envolvia na ilusão de guardar o remanescente de ti. Apenas carne, sempre carne…”
“Olharam-se nos olhos. Ficaram assim durante um instante que se estendeu até ao fim do tempo. Além do fim do tempo. Os dois conscientes de que aquele olhar os unira, os prendera um ao outro para sempre.”
“Olharam-se nos olhos. Ficaram assim durante um instante que se estendeu até ao fim do tempo. Além do fim do tempo. Os dois conscientes de que aquele olhar os unira, os prendera um ao outro para sempre.”
"Trago-te o meu vazio. Cuida dele."
“Trago-te o meu vazio. Cuida dele.”
"Há momentos que, com tão ínfima duração, são enormes na sua capacidade de nos reduzir a uma insignificância tremendamente dolorosa de sentir. Carregamos toda a nossa existência no incerto de decisões nascidas no medo, trémulas em assertividade, que nos empurram para ir no simultâneo de ficar. Viajamos até onde fomos mais, desejando voltar a ser e ter, enfrentando toda a impotência que nos cerca. Percebemos que o pouco que éramos não somos, e que a única matéria que conseguimos arrastar é apenas, tanto e só, a que nos constitui. Acordamos em nós, sedentos de viver pelo que permanece sempre connosco... Há momentos, que de tanto os esquecer, ficarão em mim para sempre."
“Há momentos que, com tão ínfima duração, são enormes na sua capacidade de nos reduzir a uma insignificância tremendamente dolorosa de sentir. Carregamos toda a nossa existência no incerto de decisões nascidas no medo, trémulas em assertividade, que nos empurram para ir no simultâneo de ficar. Viajamos até onde fomos mais, desejando voltar a ser e ter, enfrentando toda a impotência que nos cerca. Percebemos que o pouco que éramos não somos, e que a única matéria que conseguimos arrastar é apenas, tanto e só, a que nos constitui. Acordamos em nós, sedentos de viver pelo que permanece sempre connosco… Há momentos, que de tanto os esquecer, ficarão em mim para sempre.”
"Lá fora o vento ruge, violento. Ou se calhar é dentro de si. Não sabe."
“Lá fora o vento ruge, violento. Ou se calhar é dentro de si. Não sabe.”
"Ainda mal me conheces. Talvez nem me tenhas olhado bem. Passei por ti no turbilhão das emoções, estava em fogo ardente, a correr sem destino. Talvez nem me tenhas olhado bem. Sou eu. Eu mesma, meu amor. Não te lembras de mim? Um dia demos as mãos e caminhamos juntos. Um dia de verão na sombra daquele lugar só nosso, trocamos juras de amor eterno. Éramos crianças. Tão pequenos e tão grandes a imaginar o futuro. Talvez não me tenhas olhado bem. Estou diferente. Mas lá no fundo sou a mesma pequena. A tua pequena. Talvez não me tenhas sentido bem. Os anos passaram. Muitos anos passaram. Demasiados, diria. Talvez te falte a coragem. E te palpite o coração. Talvez te estremeça a mão quando procuras a minha. Ou te sequem as palavras com tanto calor que se não vê. Talvez não tenhas lido as entrelinhas do meu ser. Nem as letrinhas pequenas. Mas tudo bem. Nada disso importa agora. É nas grandes que tudo está escrito. Basta ler, meu amor. É tudo tão simples e natural. Talvez não me tenhas olhado bem. Mas eu passei a teu lado. Agora, já fui. Eu tinha que ir. Tinha mesmo que ir. Mas, em cada rabisco do nosso voo fica um rasto. Basta olhar o céu, meu amor. Basta olhar o céu..."
“Ainda mal me conheces. Talvez nem me tenhas olhado bem. Passei por ti no turbilhão das emoções, estava em fogo ardente, a correr sem destino. Talvez nem me tenhas olhado bem. Sou eu. Eu mesma, meu amor. Não te lembras de mim? Um dia demos as mãos e caminhamos juntos. Um dia de verão na sombra daquele lugar só nosso, trocamos juras de amor eterno. Éramos crianças. Tão pequenos e tão grandes a imaginar o futuro. Talvez não me tenhas olhado bem. Estou diferente. Mas lá no fundo sou a mesma pequena. A tua pequena. Talvez não me tenhas sentido bem. Os anos passaram. Muitos anos passaram. Demasiados, diria. Talvez te falte a coragem. E te palpite o coração. Talvez te estremeça a mão quando procuras a minha. Ou te sequem as palavras com tanto calor que se não vê. Talvez não tenhas lido as entrelinhas do meu ser. Nem as letrinhas pequenas. Mas tudo bem. Nada disso importa agora. É nas grandes que tudo está escrito. Basta ler, meu amor. É tudo tão simples e natural. Talvez não me tenhas olhado bem. Mas eu passei a teu lado. Agora, já fui. Eu tinha que ir. Tinha mesmo que ir. Mas, em cada rabisco do nosso voo fica um rasto. Basta olhar o céu, meu amor. Basta olhar o céu…”
"Ainda mal me conheces. Talvez nem me tenhas olhado bem. Passei por ti no turbilhão das emoções, estava em fogo ardente, a correr sem destino. Talvez nem me tenhas olhado bem. Sou eu. Eu mesma, meu amor. Não te lembras de mim? Um dia demos as mãos e caminhamos juntos. Um dia de verão na sombra daquele lugar só nosso, trocamos juras de amor eterno. Éramos crianças. Tão pequenos e tão grandes a imaginar o futuro. Talvez não me tenhas olhado bem. Estou diferente. Mas lá no fundo sou a mesma pequena. A tua pequena. Talvez não me tenhas sentido bem. Os anos passaram. Muitos anos passaram. Demasiados, diria. Talvez te falte a coragem. E te palpite o coração. Talvez te estremeça a mão quando procuras a minha. Ou te sequem as palavras com tanto calor que se não vê. Talvez não tenhas lido as entrelinhas do meu ser. Nem as letrinhas pequenas. Mas tudo bem. Nada disso importa agora. É nas grandes que tudo está escrito. Basta ler, meu amor. É tudo tão simples e natural. Talvez não me tenhas olhado bem. Mas eu passei a teu lado. Agora, já fui. Eu tinha que ir. Tinha mesmo que ir. Mas, em cada rabisco do nosso voo fica um rasto. Basta olhar o céu, meu amor. Basta olhar o céu..."
“Ainda mal me conheces. Talvez nem me tenhas olhado bem. Passei por ti no turbilhão das emoções, estava em fogo ardente, a correr sem destino. Talvez nem me tenhas olhado bem. Sou eu. Eu mesma, meu amor. Não te lembras de mim? Um dia demos as mãos e caminhamos juntos. Um dia de verão na sombra daquele lugar só nosso, trocamos juras de amor eterno. Éramos crianças. Tão pequenos e tão grandes a imaginar o futuro. Talvez não me tenhas olhado bem. Estou diferente. Mas lá no fundo sou a mesma pequena. A tua pequena. Talvez não me tenhas sentido bem. Os anos passaram. Muitos anos passaram. Demasiados, diria. Talvez te falte a coragem. E te palpite o coração. Talvez te estremeça a mão quando procuras a minha. Ou te sequem as palavras com tanto calor que se não vê. Talvez não tenhas lido as entrelinhas do meu ser. Nem as letrinhas pequenas. Mas tudo bem. Nada disso importa agora. É nas grandes que tudo está escrito. Basta ler, meu amor. É tudo tão simples e natural. Talvez não me tenhas olhado bem. Mas eu passei a teu lado. Agora, já fui. Eu tinha que ir. Tinha mesmo que ir. Mas, em cada rabisco do nosso voo fica um rasto. Basta olhar o céu, meu amor. Basta olhar o céu…”
"Ainda mal me conheces. Talvez nem me tenhas olhado bem. Passei por ti no turbilhão das emoções, estava em fogo ardente, a correr sem destino. Talvez nem me tenhas olhado bem. Sou eu. Eu mesma, meu amor. Não te lembras de mim? Um dia demos as mãos e caminhamos juntos. Um dia de verão na sombra daquele lugar só nosso, trocamos juras de amor eterno. Éramos crianças. Tão pequenos e tão grandes a imaginar o futuro. Talvez não me tenhas olhado bem. Estou diferente. Mas lá no fundo sou a mesma pequena. A tua pequena. Talvez não me tenhas sentido bem. Os anos passaram. Muitos anos passaram. Demasiados, diria. Talvez te falte a coragem. E te palpite o coração. Talvez te estremeça a mão quando procuras a minha. Ou te sequem as palavras com tanto calor que se não vê. Talvez não tenhas lido as entrelinhas do meu ser. Nem as letrinhas pequenas. Mas tudo bem. Nada disso importa agora. É nas grandes que tudo está escrito. Basta ler, meu amor. É tudo tão simples e natural. Talvez não me tenhas olhado bem. Mas eu passei a teu lado. Agora, já fui. Eu tinha que ir. Tinha mesmo que ir. Mas, em cada rabisco do nosso voo fica um rasto. Basta olhar o céu, meu amor. Basta olhar o céu..."
“Ainda mal me conheces. Talvez nem me tenhas olhado bem. Passei por ti no turbilhão das emoções, estava em fogo ardente, a correr sem destino. Talvez nem me tenhas olhado bem. Sou eu. Eu mesma, meu amor. Não te lembras de mim? Um dia demos as mãos e caminhamos juntos. Um dia de verão na sombra daquele lugar só nosso, trocamos juras de amor eterno. Éramos crianças. Tão pequenos e tão grandes a imaginar o futuro. Talvez não me tenhas olhado bem. Estou diferente. Mas lá no fundo sou a mesma pequena. A tua pequena. Talvez não me tenhas sentido bem. Os anos passaram. Muitos anos passaram. Demasiados, diria. Talvez te falte a coragem. E te palpite o coração. Talvez te estremeça a mão quando procuras a minha. Ou te sequem as palavras com tanto calor que se não vê. Talvez não tenhas lido as entrelinhas do meu ser. Nem as letrinhas pequenas. Mas tudo bem. Nada disso importa agora. É nas grandes que tudo está escrito. Basta ler, meu amor. É tudo tão simples e natural. Talvez não me tenhas olhado bem. Mas eu passei a teu lado. Agora, já fui. Eu tinha que ir. Tinha mesmo que ir. Mas, em cada rabisco do nosso voo fica um rasto. Basta olhar o céu, meu amor. Basta olhar o céu…”
"Viver sem paixão é uma espécie de morte."
“Viver sem paixão é uma espécie de morte.”
"Encontraremos náufragos. Tristes como nós, mortos. Outros embarcaremos com vida. E no silêncio lento recuperemos o sol em seus cabelos. E os faremos meninos outra vez."
“Encontraremos náufragos. Tristes como nós, mortos. Outros embarcaremos com vida. E no silêncio lento recuperemos o sol em seus cabelos. E os faremos meninos outra vez.”
“As esquinas de nossa cidade em que me aguardas a todo tempo deixaram de ser caminhos que se tocam. Lembras daquela brincadeira em que grudávamos tira sobre tira de papel com cola de água e farinha e criávamos cruzes, encruzilhadas, estrelas, raios de rotunda? Não. Não tens jeito de criança. Vi-te outro dia, nem cinco anos tinhas, jogando bolinhas de papel na contramão da escada rolante. O guarda brandiu o seu cassetete de borracha. Só querias ver se as bolinhas voltavam. Para ti.”
“As esquinas de nossa cidade em que me aguardas a todo tempo deixaram de ser caminhos que se tocam. Lembras daquela brincadeira em que grudávamos tira sobre tira de papel com cola de água e farinha e criávamos cruzes, encruzilhadas, estrelas, raios de rotunda? Não. Não tens jeito de criança. Vi-te outro dia, nem cinco anos tinhas, jogando bolinhas de papel na contramão da escada rolante. O guarda brandiu o seu cassetete de borracha. Só querias ver se as bolinhas voltavam. Para ti.”
"Mas como pensar em recordações felizes quando a morte ronda por perto?"
“Mas como pensar em recordações felizes quando a morte ronda por perto?”
"Vozes. Narrativas e metanarrativas. Relatos. Ângulos. Interpretações. Sons que se transformam no ruído de um mundo onde muita coisa é e nada parece ser inteiramente."
“Vozes. Narrativas e metanarrativas. Relatos. Ângulos. Interpretações. Sons que se transformam no ruído de um mundo onde muita coisa é e nada parece ser inteiramente.”
"Já reparaste que pedir algo a alguém é uma forma de submissão? De te colocares nas mãos do outro? De certa forma, para pedir algo é preciso ser corajoso." Libelinhas | Encenação de Pedro Oliveira para O Nariz.
“Já reparaste que pedir algo a alguém é uma forma de submissão? De te colocares nas mãos do outro? De certa forma, para pedir algo é preciso ser corajoso.” Libelinhas | Encenação de Pedro Oliveira para O Nariz.
“Olhei-te sempre assim, enternecida, orgulhosa como se não houvesse outro. Ficarei a olhar-te sempre assim.”
“Olhei-te sempre assim, enternecida, orgulhosa como se não houvesse outro. Ficarei a olhar-te sempre assim.”
"O quarto estava escuro mas as cores pareceram ganhar uma estranha tonalidade nova, como se estivessem a ser recriadas, recalibradas, redimensionadas; o vermelho da porta do armário, o verde dos números (que não mudavam; seria isso bom, seria isso mau?) nas máquinas médicas a que a P. estava ligada, o azul do céu num quadro pendurado numa parede onde também havia um barco amarelo. (Faltava o cor-de-rosa de uns auscultadores.)"
“O quarto estava escuro mas as cores pareceram ganhar uma estranha tonalidade nova, como se estivessem a ser recriadas, recalibradas, redimensionadas; o vermelho da porta do armário, o verde dos números (que não mudavam; seria isso bom, seria isso mau?) nas máquinas médicas a que a P. estava ligada, o azul do céu num quadro pendurado numa parede onde também havia um barco amarelo. (Faltava o cor-de-rosa de uns auscultadores.)”
"Tu mesma és um poema e os teus olhos são versos sem rima, tal como a encantadora canção que entoas sempre que falas, falando seja lá sobre o que for e navegando sobre esse teu belo e dançante sorrir de meia distância, que me faz arder a alma."
“Tu mesma és um poema e os teus olhos são versos sem rima, tal como a encantadora canção que entoas sempre que falas, falando seja lá sobre o que for e navegando sobre esse teu belo e dançante sorrir de meia distância, que me faz arder a alma.”
"- Serás sempre metade de mim. E não o digo por seres a metade que me complementa, mas por seres apenas metade."
“- Serás sempre metade de mim. E não o digo por seres a metade que me complementa, mas por seres apenas metade.”
"Verbo Hoje conjuguei o verbo ser na segunda pessoa do singular e adicionei-lhe o meu pronome reflexo. Presente, indicativo de tudo aquilo que, sujeito e complemento, és, em mim. Aqui chegados, na primeira pessoa do plural, todas as conjugações do mundo se fazem no modo imperfeito ou num longínquo futuro do pretérito do indicativo. Seres-me é, enfim, uma, entre tantas impossibilidades locutivas."
“Verbo Hoje conjuguei o verbo ser na segunda pessoa do singular e adicionei-lhe o meu pronome reflexo. Presente, indicativo de tudo aquilo que, sujeito e complemento, és, em mim. Aqui chegados, na primeira pessoa do plural, todas as conjugações do mundo se fazem no modo imperfeito ou num longínquo futuro do pretérito do indicativo. Seres-me é, enfim, uma, entre tantas impossibilidades locutivas.”
"Cascalho, fazia tempo que não se lembrava de seu som. Pedras paridas da água que se amontoavam debaixo de seus sapatos e desvirtuavam o seu andar. Pedras à beira de alguma infância remota..."
“Cascalho, fazia tempo que não se lembrava de seu som. Pedras paridas da água que se amontoavam debaixo de seus sapatos e desvirtuavam o seu andar. Pedras à beira de alguma infância remota…”
"O que importa o amanhã se amanhã já não vais estar aqui e a saudade, qual rosa cravada de espinhos, vai atormentar-me e impedir-me de respirar? Para quê respirar se não posso viver? O que importa o amanhã se não podes ficar?"
“O que importa o amanhã se amanhã já não vais estar aqui e a saudade, qual rosa cravada de espinhos, vai atormentar-me e impedir-me de respirar? Para quê respirar se não posso viver? O que importa o amanhã se não podes ficar?”
"Fecho os olhos e concentro-me momentaneamente no silêncio que preenche o quarto, enquanto respiro o cheiro a sexo que ainda perdura; depois, ela liga a televisão e o silêncio é estilhaçado – mas o cheiro permanece, insidioso."
“Fecho os olhos e concentro-me momentaneamente no silêncio que preenche o quarto, enquanto respiro o cheiro a sexo que ainda perdura; depois, ela liga a televisão e o silêncio é estilhaçado – mas o cheiro permanece, insidioso.”
"Para que servem, afinal, as carícias?"
“Para que servem, afinal, as carícias?”
"O que é força, senão a arte? O que é fraqueza, senão excesso de músculos?"
“O que é força, senão a arte? O que é fraqueza, senão excesso de músculos?”
Medo e pânico
Medo e pânico
"Quando a alma nos morre, interrogamo-nos muitas vezes."
“Quando a alma nos morre, interrogamo-nos muitas vezes.”
"Diz-me como me sentes, dir-te-ei quem sou."
“Diz-me como me sentes, dir-te-ei quem sou.”
"Não estou perdida, mas parece que não consigo encontrar-me."
“Não estou perdida, mas parece que não consigo encontrar-me.”
"As minhas personagens aparentam ser naturezas mortas, estáticas, inertes…Todavia, receio que a noite lhes permita ganhar vida e circular por esse mundo fora…"
“As minhas personagens aparentam ser naturezas mortas, estáticas, inertes…Todavia, receio que a noite lhes permita ganhar vida e circular por esse mundo fora…”
"As minhas personagens aparentam ser naturezas mortas, estáticas, inertes…Todavia, receio que a noite lhes permita ganhar vida e circular por esse mundo fora…"
“As minhas personagens aparentam ser naturezas mortas, estáticas, inertes…Todavia, receio que a noite lhes permita ganhar vida e circular por esse mundo fora…”
"Sinto a solidão na inteireza do corpo. Nas mãos o desamparo lê-se evidente."
“Sinto a solidão na inteireza do corpo. Nas mãos o desamparo lê-se evidente.”
"Doce, aquela noite em que te dançastesendo todas as cores do mundo."
“Doce, aquela noite em que te dançastesendo todas as cores do mundo.”
"Nunca tinha pensado na ausência do teu corpo e do teu cheiro e do teu riso e da tua sombra e do teu movimento e do teu abraço."
“Nunca tinha pensado na ausência do teu corpo e do teu cheiro e do teu riso e da tua sombra e do teu movimento e do teu abraço.”
"Dança-me."
“Dança-me.”
“Nunca tinha pensado que a solidão pudesse ser não uma ausência de tudo mas a saturação de presenças fantasmagóricas, de pensamentos solidificados, de imagens resplandecentes de cor e brilho e magnetismo.”
“Nunca tinha pensado que a solidão pudesse ser não uma ausência de tudo mas a saturação de presenças fantasmagóricas, de pensamentos solidificados, de imagens resplandecentes de cor e brilho e magnetismo.”
"Caixa de alma Vou colhendo fragmentos de vida e guardo-os numa caixa. A essa caixa chamo alma."
“Caixa de alma Vou colhendo fragmentos de vida e guardo-os numa caixa. A essa caixa chamo alma.”
“Tudo o que te ensinei pode ser utilizado para construir um mundo onde se possa sonhar.”
“Tudo o que te ensinei pode ser utilizado para construir um mundo onde se possa sonhar.”
"bem-vindo puxe feche os olhos. veja. abra os olhos empurre volte sempre obrigado"
“bem-vindo puxe feche os olhos. veja. abra os olhos empurre volte sempre obrigado”
"A tarde e as certezas vão caindo, mas fico aqui porque o tempo é meu."
“A tarde e as certezas vão caindo, mas fico aqui porque o tempo é meu.”

Contos e assim | Textos meus

Escrever é saber cortar.
Escrever é saber cortar.
abandono. a dor que nos separa.
abandono. a dor que nos separa.
realidade. a linha que nos separa.
realidade. a linha que nos separa.
tempo. a linha que nos separa.
tempo. a linha que nos separa.
desejo. a fantasia que nos separa
desejo. a fantasia que nos separa
pele. a linha que nos separa.
pele. a linha que nos separa.
traçado. a linha que nos separa.
traçado. a linha que nos separa.
A escrita precisa de pele.
A escrita precisa de pele.
Não sei o teu nome, nunca tive coragem de perguntar. Mas somos vizinhas. De vida. Habitamos a mesma pele, ainda que muitos metros de tecido esgarçado nos separem. Não sei onde estás; passo pelos lugares de costume e vejo somente a tua ausência. Em que calçada te sentas agora? (texto para Mapas do Confinamento)
Não sei o teu nome, nunca tive coragem de perguntar. Mas somos vizinhas. De vida. Habitamos a mesma pele, ainda que muitos metros de tecido esgarçado nos separem. Não sei onde estás; passo pelos lugares de costume e vejo somente a tua ausência. Em que calçada te sentas agora? (texto para Mapas do Confinamento)
De súbito, penso que o corpo existe sem mim, sem essa dimensão pensante que escreve. Penso que ele abriga todas as palavras inventadas e as vai libertando, uma a uma, para que eu as utilize. Eu, mero instrumento de sua linguagem. Eu, identidade exagerada pela razão.
De súbito, penso que o corpo existe sem mim, sem essa dimensão pensante que escreve. Penso que ele abriga todas as palavras inventadas e as vai libertando, uma a uma, para que eu as utilize. Eu, mero instrumento de sua linguagem. Eu, identidade exagerada pela razão.
consigo existir sem mim?
consigo existir sem mim?
consigo existir sem mim?
consigo existir sem mim?
Memória é o que se vê com os olhos da imaginação.
Memória é o que se vê com os olhos da imaginação.
Quando poderemos tocar o céu?
Quando poderemos tocar o céu?
Sussurra-me ao ouvido que já é amanhã.
Sussurra-me ao ouvido que já é amanhã.
a vida será sempre sonho.
a vida será sempre sonho.
"A noite acontece dentro de mim e já não estás."
“A noite acontece dentro de mim e já não estás.”
"O gesto aquieta o medo."
“O gesto aquieta o medo.”
"O gesto aquieta o medo."
“O gesto aquieta o medo.”
"A minha casa existe em partes de luz e sombra, de ausência e dor. Existe à beira do mundo, das coisas, assim, em pedaços. Como uma flecha que se divide ao ser lançada ao espaço, num gesto autônomo que acontece por si. Escrevo em busca da casa inteira, das imagens que levantarão as paredes, que completarão a costura, que anteciparão a quebra."
“A minha casa existe em partes de luz e sombra, de ausência e dor. Existe à beira do mundo, das coisas, assim, em pedaços. Como uma flecha que se divide ao ser lançada ao espaço, num gesto autônomo que acontece por si. Escrevo em busca da casa inteira, das imagens que levantarão as paredes, que completarão a costura, que anteciparão a quebra.”
Encontrei-te entre os azuis.
Encontrei-te entre os azuis.
Encontrei-te entre os azuis.
Encontrei-te entre os azuis.
"Incomoda-te a minha sombra? Ou a minha luz?"
“Incomoda-te a minha sombra? Ou a minha luz?”
"Sussurra-me ao ouvido que já é amanhã."
“Sussurra-me ao ouvido que já é amanhã.”
Fotografo a sombra dos dias para ter a certeza de que eles passam.
Fotografo a sombra dos dias para ter a certeza de que eles passam.
Fotografo a sombra dos dias para ter a certeza de que eles passam.
Fotografo a sombra dos dias para ter a certeza de que eles passam.
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
http://fotografarpalavras.blogspot.com/2020/03/2161.html
"escrevo no teu corpo com as mãos escrita trêmula, a princípio firme, depois inscrevo-me na tua pele e mais fundo. memorizo teus poros, percorro geografias, lentamente. aquilo que conhecerei de ti me será contado pelos meus dedos para que possa sonhar contigo. saberás o sonho."
“escrevo no teu corpo com as mãos escrita trêmula, a princípio firme, depois inscrevo-me na tua pele e mais fundo. memorizo teus poros, percorro geografias, lentamente. aquilo que conhecerei de ti me será contado pelos meus dedos para que possa sonhar contigo. saberás o sonho.”
O meu corpo tem saudades do teu olhar.
O meu corpo tem saudades do teu olhar.
"O vento sopra solidão sobre a pele."
“O vento sopra solidão sobre a pele.”
"Preservo-te no meu inventário de decepções."
“Preservo-te no meu inventário de decepções.”
“Preservo-te no meu inventário de decepções.”
“Preservo-te no meu inventário de decepções.”
É fim de tarde, o sol desce no horizonte e traz aquele silêncio de um tempo limítrofe. A água do mar me chama, num apelo surdo, hipnótico. Entro devagarinho e sinto o silêncio; sobe cálido pelos pés, pernas, contornos, sexo, cintura. Mergulho e a água envolve-me como um afago. Sinto o corpo distensionar, músculo a músculo, fibra a fibra, poros e pensamentos. Inspiro e o silêncio me penetra, ecoa pelo corpo, expande os pulmões, aquieta a pulsação, suspende o tempo. O vento sopra solidão sobre a pele. Mexo mãos e pés, deslizo dedos sobre superfícies imaginárias, o teu corpo, o meu. Os olhos fechados tornam-se lúcidos; voltam-se para outro mundo, aquele que deixei há tantas vidas. Nele me encontro, e vejo-te, à espera. Estiveste sempre aí? O toque se materializa e sinto: são arraias, grandes e pequenas, várias, muitas, numa dança etérea, um voo fora do ar. Circundam-me, algumas se enterram na areia, como ouro profundo à espera de revelação. Ondulo como elas, voo com elas, deixo-me ficar, entregue a essa liberdade momentânea. Nossas superfícies se encontram, num prazer mútuo. Subitamente, algo me faz abrir os olhos. Anoiteceu sem que me desse conta. A maré subiu, a água que chegava à cintura quase me cobre inteira. Perdi-me em devaneios e me desnorteei. Volto-me sobressaltada à procura da praia, da textura da areia, da referência. Tenho medo de ser levada pela correnteza. As arraias continuam a nadar, alheias ao meu pânico; elas que eram parte de mim, agora me parecem estranhas, ameaçadoras. Não consigo tocar a areia; engulo a água salgada, engasgo-me. Sinto falta de ar e preciso me concentrar para não afundar por completo. Os olhos abertos não servem para muito na escuridão da realidade. A noite acontece dentro de mim e já não estás. Percebo que me estou a mover, um nado instintivo que me tira do desespero. Aliviada, agora sei onde está a praia e esforço-me na intenção de chegar até lá. Ganho ritmo, a respiração torna-se cadenciada; a praia está logo ali, à frente, penso, e quase consigo sentir um pouco do prazer de antes. Nado mais e mais, porém algo está diferente, desestabiliza a determinação. Começo a duvidar da direção que escolhi; volto a olhar em redor e não distingo nenhuma silhueta, nenhum vestígio de terra firme. Constato que me enganei: nadei em direção ao mar aberto e não chegarei a lugar algum. O tempo cai pesado sobre mim, empurrando-me para baixo. A exaustão toma conta e já não há volta possível. As arraias voltam a circundar-me; aprisionam-me, fantasmáticas. Fecho novamente os olhos antes da entrega. E penso em ti.
É fim de tarde, o sol desce no horizonte e traz aquele silêncio de um tempo limítrofe. A água do mar me chama, num apelo surdo, hipnótico. Entro devagarinho e sinto o silêncio; sobe cálido pelos pés, pernas, contornos, sexo, cintura. Mergulho e a água envolve-me como um afago. Sinto o corpo distensionar, músculo a músculo, fibra a fibra, poros e pensamentos. Inspiro e o silêncio me penetra, ecoa pelo corpo, expande os pulmões, aquieta a pulsação, suspende o tempo. O vento sopra solidão sobre a pele. Mexo mãos e pés, deslizo dedos sobre superfícies imaginárias, o teu corpo, o meu. Os olhos fechados tornam-se lúcidos; voltam-se para outro mundo, aquele que deixei há tantas vidas. Nele me encontro, e vejo-te, à espera. Estiveste sempre aí? O toque se materializa e sinto: são arraias, grandes e pequenas, várias, muitas, numa dança etérea, um voo fora do ar. Circundam-me, algumas se enterram na areia, como ouro profundo à espera de revelação. Ondulo como elas, voo com elas, deixo-me ficar, entregue a essa liberdade momentânea. Nossas superfícies se encontram, num prazer mútuo. Subitamente, algo me faz abrir os olhos. Anoiteceu sem que me desse conta. A maré subiu, a água que chegava à cintura quase me cobre inteira. Perdi-me em devaneios e me desnorteei. Volto-me sobressaltada à procura da praia, da textura da areia, da referência. Tenho medo de ser levada pela correnteza. As arraias continuam a nadar, alheias ao meu pânico; elas que eram parte de mim, agora me parecem estranhas, ameaçadoras. Não consigo tocar a areia; engulo a água salgada, engasgo-me. Sinto falta de ar e preciso me concentrar para não afundar por completo. Os olhos abertos não servem para muito na escuridão da realidade. A noite acontece dentro de mim e já não estás. Percebo que me estou a mover, um nado instintivo que me tira do desespero. Aliviada, agora sei onde está a praia e esforço-me na intenção de chegar até lá. Ganho ritmo, a respiração torna-se cadenciada; a praia está logo ali, à frente, penso, e quase consigo sentir um pouco do prazer de antes. Nado mais e mais, porém algo está diferente, desestabiliza a determinação. Começo a duvidar da direção que escolhi; volto a olhar em redor e não distingo nenhuma silhueta, nenhum vestígio de terra firme. Constato que me enganei: nadei em direção ao mar aberto e não chegarei a lugar algum. O tempo cai pesado sobre mim, empurrando-me para baixo. A exaustão toma conta e já não há volta possível. As arraias voltam a circundar-me; aprisionam-me, fantasmáticas. Fecho novamente os olhos antes da entrega. E penso em ti.
Os dias escoam, frouxos, enquanto espero por ti. Os dias ecoam, frouxos, enquanto espero por ti.
Os dias escoam, frouxos, enquanto espero por ti. Os dias ecoam, frouxos, enquanto espero por ti.
Tenho um mar revolto e intransponível dentro de mim.
Tenho um mar revolto e intransponível dentro de mim.
O conto Areia (Lado A e Lado B), de Paulo Kellerman, é hipnótico. Provocou-me um grande impacto quando o li pela primeira vez; voltei a ele diversas vezes na tentativa de apreender tudo o que era dito pelas palavras e para além delas. Um dia, descobri-me num diálogo imaginário com o texto, a desenhar imagens e frases. Dessa conversa surgiu Em branco, um conto que dá voz à personagem feminina, à narrativa não escrita, e que recria a história a partir de seu olhar. ... Em branco poderia se chamar Areia (Lado C), o que, se por um lado, quebraria a ideia original de apresentar duas perspectivas de uma mesma história, como os dois lados de um disco de vinil, por outro, sugeriria mais uma das inúmeras facetas de um cristal, num infinito desdobrar de imagens. Areia faz parte do livro Os Mundos Separados que Partilhamos, publicado em 2007 pela Deriva Editores, e mantém intactos seu impacto e força. . (Para ler Areia e Em branco: https://anagilbertphotography.blog/2019/09/09/em-branco/
O conto Areia (Lado A e Lado B), de Paulo Kellerman, é hipnótico. Provocou-me um grande impacto quando o li pela primeira vez; voltei a ele diversas vezes na tentativa de apreender tudo o que era dito pelas palavras e para além delas. Um dia, descobri-me num diálogo imaginário com o texto, a desenhar imagens e frases. Dessa conversa surgiu Em branco, um conto que dá voz à personagem feminina, à narrativa não escrita, e que recria a história a partir de seu olhar. … Em branco poderia se chamar Areia (Lado C), o que, se por um lado, quebraria a ideia original de apresentar duas perspectivas de uma mesma história, como os dois lados de um disco de vinil, por outro, sugeriria mais uma das inúmeras facetas de um cristal, num infinito desdobrar de imagens. Areia faz parte do livro Os Mundos Separados que Partilhamos, publicado em 2007 pela Deriva Editores, e mantém intactos seu impacto e força. . (Para ler Areia e Em branco: https://anagilbertphotography.blog/2019/09/09/em-branco/
Algo me sustenta em meio à inconstância do meu mundo. Brota profundo, sólido; assiste impassível ao burburinho, à fluidez dos movimentos incessantes, por vezes inúteis. Seu silêncio é secular, brutal em sua pouca consideração por meus dias mesquinhos. Eu o adivinho, farejo seu olhar, e sei que nada mais importa.
Algo me sustenta em meio à inconstância do meu mundo. Brota profundo, sólido; assiste impassível ao burburinho, à fluidez dos movimentos incessantes, por vezes inúteis. Seu silêncio é secular, brutal em sua pouca consideração por meus dias mesquinhos. Eu o adivinho, farejo seu olhar, e sei que nada mais importa.
Ando em busca dos fragmentos de mim como naqueles quebra-cabeças de infinitas peças.
Ando em busca dos fragmentos de mim como naqueles quebra-cabeças de infinitas peças.
Aos domingos as angústias são vorazes.
Aos domingos as angústias são vorazes.
Experimento abrir as asas, lentamente. A esquerda, em especial, a mais machucada das duas. Estico-a com cuidado, visualizo cada articulação, testo uma a uma. Repito o movimento e descubro: está inteira. Pensava-a morta ou agonizante. Percorro os dedos por toda a sua extensão: sinto dor em alguns pontos e a umidade espessa de sangue. A asa direita parece não requerer maiores cuidados; sinto-a mais leve, apesar de uma pulsação atordoada. Tenho os olhos fechados, mas sou capaz de ver (ou imaginar?) as minhas velhas asas, as saliências por onde brotam nas costas. Ainda lembro o misto de espanto e tristeza quando descobri esses pequenos brotos em mim e percebi a condenação. O corpo, sinto-o inerte, exausto. A mente, em desalinho; sentimentos confusos que são como agulhas finas e longas provocam pequenos choques que estremecem as asas. Constato o fluir incessante da vida que grita dentro de mim. Não sei bem como cheguei até aqui depois do confronto. Um repouso no meio do nada que é a noite; o vazio que suspende a saudade. Entreabro os olhos e vejo a luz que desponta no horizonte. Fere. E com a visão, tomo consciência da sensação de desconforto do rosto contra a rocha ainda fria do hálito da madrugada. Estou só e a pele escassamente coberta deixa penetrar o frio por veias e artérias. O canto agudo de um albatroz solitário, esse irmão de alma, transpassa o coração como uma flecha; chama-me de volta ao tempo, fala-me do meu destino. Viro-me com cuidado, tentando proteger os pulsos fragilizados. Com esforço, consigo sentar e encaro a vastidão do mar que se torna céu em algum ponto além. Rastejo até a beirada e vislumbro o abismo, bem perto de mim. É preciso continuar o voo; sei que não posso descansar por muito tempo. Levanto-me, abro as asas por completo. Ensaio movimentos. Ergo a cabeça, fecho os olhos; inspiro e expiro umas quantas vezes até ter a certeza de que os pulmões ainda sabem como respirar. E num ímpeto, lanço-me ao espaço, na explosão do grito, na vertigem do novo dia, sem saber ao certo se conseguirei sustentar-me.
Experimento abrir as asas, lentamente. A esquerda, em especial, a mais machucada das duas. Estico-a com cuidado, visualizo cada articulação, testo uma a uma. Repito o movimento e descubro: está inteira. Pensava-a morta ou agonizante. Percorro os dedos por toda a sua extensão: sinto dor em alguns pontos e a umidade espessa de sangue. A asa direita parece não requerer maiores cuidados; sinto-a mais leve, apesar de uma pulsação atordoada. Tenho os olhos fechados, mas sou capaz de ver (ou imaginar?) as minhas velhas asas, as saliências por onde brotam nas costas. Ainda lembro o misto de espanto e tristeza quando descobri esses pequenos brotos em mim e percebi a condenação. O corpo, sinto-o inerte, exausto. A mente, em desalinho; sentimentos confusos que são como agulhas finas e longas provocam pequenos choques que estremecem as asas. Constato o fluir incessante da vida que grita dentro de mim. Não sei bem como cheguei até aqui depois do confronto. Um repouso no meio do nada que é a noite; o vazio que suspende a saudade. Entreabro os olhos e vejo a luz que desponta no horizonte. Fere. E com a visão, tomo consciência da sensação de desconforto do rosto contra a rocha ainda fria do hálito da madrugada. Estou só e a pele escassamente coberta deixa penetrar o frio por veias e artérias. O canto agudo de um albatroz solitário, esse irmão de alma, transpassa o coração como uma flecha; chama-me de volta ao tempo, fala-me do meu destino. Viro-me com cuidado, tentando proteger os pulsos fragilizados. Com esforço, consigo sentar e encaro a vastidão do mar que se torna céu em algum ponto além. Rastejo até a beirada e vislumbro o abismo, bem perto de mim. É preciso continuar o voo; sei que não posso descansar por muito tempo. Levanto-me, abro as asas por completo. Ensaio movimentos. Ergo a cabeça, fecho os olhos; inspiro e expiro umas quantas vezes até ter a certeza de que os pulmões ainda sabem como respirar. E num ímpeto, lanço-me ao espaço, na explosão do grito, na vertigem do novo dia, sem saber ao certo se conseguirei sustentar-me.
O teu rastro em mim.
O teu rastro em mim.
Sente o que os olhos apenas suspeitam.
Sente o que os olhos apenas suspeitam.
Sou um ponto. Giro, giro, até perder-me. Retorno. Descubro, encontro. Perco. Perco sempre. E volto a encontrar (-me). Aqui...
Sou um ponto. Giro, giro, até perder-me. Retorno. Descubro, encontro. Perco. Perco sempre. E volto a encontrar (-me). Aqui…
Onde fica este lugar em mim quando me perco dele, simplesmente se desvanece ou continua a existir em segredo nesse nada, nesse mundo?
Onde fica este lugar em mim quando me perco dele, simplesmente se desvanece ou continua a existir em segredo nesse nada, nesse mundo?
Deslizo lentes como dedos; percorro sinuosidades, afago fronteiras, decifro-te. E me entrego. Inteiro.
Deslizo lentes como dedos; percorro sinuosidades, afago fronteiras, decifro-te. E me entrego. Inteiro.
Numa cidade medieval, cercada por muros de pedra, circulo perdida em labirinto. Sei que não estou só; ele está comigo, em sugerida presença apenas. Ando, retrocedo, perco-me no temor de ser vista. A morte espreita com seu perigo frio. Um homem cego esfrega os peixes para tirar-lhes as escamas. O homem cego, de olhos brancos vazados, estampa um sorriso patético, congelado, alheio a tudo, inconsciente do que faz e de si mesmo. Um gato se aproxima, atraído pelo odor dos peixes. O homem cego toma o gato como se peixe fosse e esfrega o gato/peixe para tirar-lhe as escamas/pele. O gato morre em carne viva e o homem cego sorri em sua máscara grotesca. Tenho nojo. De repente, acho-me à porta da cidadela; um caminho ondeia colina abaixo. O ar fresco é como um golpe que me desperta do congelamento asqueroso do homem cego. Nessa hora, percebo que escolhi não ser como ele, feliz em seu automatismo insensível. Corro pelo caminho tortuoso que colina abaixo serpenteia. Sei que ele vai comigo. Juntos, percorreremos distâncias até encontrar o lugar.
Numa cidade medieval, cercada por muros de pedra, circulo perdida em labirinto. Sei que não estou só; ele está comigo, em sugerida presença apenas. Ando, retrocedo, perco-me no temor de ser vista. A morte espreita com seu perigo frio. Um homem cego esfrega os peixes para tirar-lhes as escamas. O homem cego, de olhos brancos vazados, estampa um sorriso patético, congelado, alheio a tudo, inconsciente do que faz e de si mesmo. Um gato se aproxima, atraído pelo odor dos peixes. O homem cego toma o gato como se peixe fosse e esfrega o gato/peixe para tirar-lhe as escamas/pele. O gato morre em carne viva e o homem cego sorri em sua máscara grotesca. Tenho nojo. De repente, acho-me à porta da cidadela; um caminho ondeia colina abaixo. O ar fresco é como um golpe que me desperta do congelamento asqueroso do homem cego. Nessa hora, percebo que escolhi não ser como ele, feliz em seu automatismo insensível. Corro pelo caminho tortuoso que colina abaixo serpenteia. Sei que ele vai comigo. Juntos, percorreremos distâncias até encontrar o lugar.
Soluços entrecortados chegam aos meus ouvidos, cansados, do esforço de tentar entender entre sussurros as perguntas para as minhas respostas.
Soluços entrecortados chegam aos meus ouvidos, cansados, do esforço de tentar entender entre sussurros as perguntas para as minhas respostas.
Tão mais fácil seria se não houvesse dor se fôssemos insensíveis ao dilaceramento.
Tão mais fácil seria se não houvesse dor se fôssemos insensíveis ao dilaceramento.
Atravessei aquele caminho, percorrido tantas vezes, como se fosse um dia qualquer. Sem paixões, sem desespero, nada. Vim só. E tudo o que ficou foi um silêncio.
Atravessei aquele caminho, percorrido tantas vezes, como se fosse um dia qualquer. Sem paixões, sem desespero, nada. Vim só. E tudo o que ficou foi um silêncio.
O lugar do carinho é onde me sinto mais vulnerável, aconchegada, exposta… é onde recebo pétalas, agulhas, pedras…
O lugar do carinho é onde me sinto mais vulnerável, aconchegada, exposta… é onde recebo pétalas, agulhas, pedras…
A rainha dorme…
A rainha dorme…
a dança é um transbordamento de mim...
a dança é um transbordamento de mim…
Finges não perceber o que me acontece.
Finges não perceber o que me acontece.
Atravessei aquele caminho, percorrido tantas vezes, como se fosse um dia qualquer. Sem paixões, sem desespero, nada. Vim só. E tudo o que ficou foi um silêncio.
Atravessei aquele caminho, percorrido tantas vezes, como se fosse um dia qualquer. Sem paixões, sem desespero, nada. Vim só. E tudo o que ficou foi um silêncio.

Innerscapes

"Apenas a luz sabe que é na sombra que está a essência."
“Apenas a luz sabe que é na sombra que está a essência.”
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Os dias escoam, frouxos, enquanto espero por ti. Os dias ecoam, frouxos, enquanto espero por ti.
Os dias escoam, frouxos, enquanto espero por ti. Os dias ecoam, frouxos, enquanto espero por ti.

Geografias corporais

"Devia haver sempre um cofre dentro de nós cheio de purpurinas. Assim a nossa alma tinha sempre festa e os castelos não eram feitos de sonhos."
“Devia haver sempre um cofre dentro de nós cheio de purpurinas. Assim a nossa alma tinha sempre festa e os castelos não eram feitos de sonhos.”
"Escuto o suave sussurro da respiração do meu corpo. Mas será que a minha alma também está a respirar? Como perceber se está viva, se não ouço nem sinto a sua respiração? Se não a sinto pulsar, se não sinto o bater do seu coração? Como saber o que faz respirar a alma?"
“Escuto o suave sussurro da respiração do meu corpo. Mas será que a minha alma também está a respirar? Como perceber se está viva, se não ouço nem sinto a sua respiração? Se não a sinto pulsar, se não sinto o bater do seu coração? Como saber o que faz respirar a alma?”
Geografias corporais
Geografias corporais
Geografias corporais

Pulsar Companhia de Dança

Pulsar 5

Fragmentos narrativos

Colaboração com Lorena Kim Richter
Death
Death
Angústia
Gentle touch
Gentle touch
Tenderness
Mãos
“… se me tivesses abraçado, se adivinhasses que um abraço era tudo o que desejava. Mas não adivinhaste. Não voltaste a tocar-me.” (Texto: Paulo Kellerman)
“… se me tivesses abraçado, se adivinhasses que um abraço era tudo o que desejava. Mas não adivinhaste. Não voltaste a tocar-me.” (Texto: Paulo Kellerman)
Self-defense
Medo
Entressonho
Despair
A rainha dorme…
A rainha dorme…

Tablao

Pessoas e circunstâncias

Alexandre