

Geografias corporais


“Sou o corpo suspenso
que oscila entre
as preces no bordel
e as ereções no convento”
Projeto: Paulo Kellerman
Texto: Rosa Boto Caiado



“Vou roubar o luar, afinal é de prata quando reflete na água.”
Projeto: Paulo Kellerman
Texto: Jorge Gomes Pereira
Silêncio


Observo-te

“Observo-te à distância. À distância insegura de um toque, de um gesto, à distância insegura de uma inspiração-expiração-inspiração, à distância insegura do olhar que é também carícia.
Observo-te, e penso que sequer suspeitas o que sinto. Talvez imagines que estou aqui sem me envolver, alheia a ti, sensação apenas. Talvez não. Observo-te: contornos, textura, movimento. Observo-te na solidão da tua presença, na tristeza do encontro, na possibilidade de prazer (ou será dor?).
Tocas-me. Com a ponta do cigarro acesa. É parte do teu prazer. Estremeço. Já não sinto dor. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Tento concentrar-me em cada pedaço de mim que ganha vida própria ao teu toque. Mas o pensamento é como um compartimento estanque, isolado das sensações, a seguir seus próprios caminhos. É preciso que seja assim. E continuo a pensar. Já não sei a diferença entre dor e prazer. Os dois parecem parte da mesma coisa. Tento convencer-me de que é assim, de que esta é uma forma de amor, a tua forma de amar. Talvez desejes que seja imune à tua sedução, que apenas ceda aos meus próprios desejos (quais?), aproveite o momento, não tenha anseios. Talvez. Imagino que não sou o que queres de mim. Seria isso? Hesito por um instante. Observo-me. Estou à beira da entrega. Acho que o faço por prazer (ou será medo?). Não sabes da minha insegurança, sabes? Se soubesses, o que farias? Agredirias mais? Machucarias com mais requinte? Irias embora, deixando-me em abandono? Talvez não. Serei eu a desconhecer-te? A desconhecer-me? Queria odiar-te e tornar-me inteira no ódio. Mas não tenho forças. Meus fragmentos estão espalhados.
Observo-te à distância, insegura do que ser depois, depois, quando me dissolver em ti e nada mais fizer sentido. Não agora.”
Projeto | Paulo Kellerman
Texto e foto | Ana Gilbert



“We all live on the same surface, the same skin. If others are unfathomable, it is because it takes an infinite number of folds to really reach them.”
Texto | Laura U. Marks (Touch: sensuous theory and multisensory media)

Ando em busca da minha humanidade, tão diferente de tudo ou será tão igual?

Estado onírico




