Caminha

Caminha na minha direcção, mas não
me vê; agita a mão, mexe os dedos como
se tentasse agarrar o ar. Apesar do seu
comportamento peculiar, a expressão é
pacífica, a postura é tranquila.

Pergunto: Tentas pegar o ar com a mão?

Sorri. Responde: Não, tento agarrar o
amor.

Passa por mim e afasta-se, conduzido
pelo seu sorriso; e assim desapareço da
sua vida. Nem memória serei.

Vejo como se afasta, vejo como
desaparece; e enquanto vejo, pergunto:
será que já não existe amor em mim?

***

She walks in my direction, but does not see me; she agitates her hand, moves her fingers as if trying to grab the air. In spite of her peculiar behaviour, her expression is pacific, her posture is calm.

I ask: Are you trying to catch the air with your hand?

She smiles. And answers me back: No, I am trying to grab love.

She passes by and walks away, lead by her smile; and then I disappear from her life. I will not be even a memory.

I see how she walks away, I see how she disappears; and as I watch her, I ask myself: Is there no longer love in me?

photographs by Ana Gilbert
text by Paulo Kellerman

[in Geografias Corporais, Alter Edições, 2022]

Portable Link

Lançamento

Ontem, no m[i]mo – museu da imagem em movimento, aconteceu a apresentação do livro GEOGRAFIAS CORPORAIS, com o Paulo Kellerman. Não poderia ser mais significativo: apresentar este livro na sala onde decorre a exposição do Fotografar Palavras, projeto que deu início a esta parceria e amizade.
Obrigada a quem participou!

Associazione Culturale Focus

15/03/2023 | 17 horas (Brasil)

A convite da Associazione Culturale Focus, conversarei sobre fotografia e o livro Geografias Corporais, com Fabiana Mingoni e Paulo Kellerman.

(acesso livre – o link será disponibilizado próximo à hora do evento)

Geografias Corporais

A cortina abre… o espetáculo vai começar…

Sou o primeiro a chegar à sala de
espectáculos. Enquanto espero vou
pensando em coisas sem importância.
Pergunto-me se as árvores terão frio à noite ou se os livros que estão nas livrarias ficarão muito nervosos por não saberem quem os levará para casa ou se no falar dos cães haverá um ladrar para dizer a palavra “borboleta” ou se será possível os pássaros darem abraços ou porque nunca se escuta o som das nuvens quando passam pelo céu.
A minha cabeça é o único sítio onde sou realmente livre, e lá posso pensar coisas palermas sem que ninguém me chateie ou ria. Posso pensar em pássaros ou livros, posso pensar na angústia que as canetas sentirão quando se lhes acaba a tinta; ou em cadeiras. Porque enquanto espero outra coisa que me pergunto é se haverá um motivo para me ter sentado na cadeira onde estou, quando todas as outras estavam livres e poderiam ser uma opção. O que terão pensado de mim as cadeiras que não escolhi?

É nisto que estou a pensar quando ela entra e olha a sala. Depois de uma breve hesitação, avança rapidamente entre as cadeiras e senta-se. Poderia escolher qualquer outro lugar mas senta-se mesmo ao meu lado, ignorando todas as outras cadeiras livres.
Fico quieto, à espera. É bom esperar, mesmo quando se sabe que não irá acontecer nada.
Na liberdade da minha cabeça penso: cheira tão bem, que perfume usará?
Mas tudo o que a minha voz é capaz de dizer é:

Boa noite.


GEOGRAFIAS CORPORAIS

Fotografia: Ana Gilbert | Texto: Paulo Kellerman

Alter Edições, 2022.

Design Gráfico: Licínio Florêncio | Coordenação Editorial: Eder Ribeiro

encomendas: geografiascorporais@gmail.com

[ENGLISH VERSION AVAILABLE]

Lançamento

Lançamento do livro GEOGRAFIAS CORPORAIS, Casa das Palmeiras (3 Dez 2022)

com a Pulsar Companhia de Dança

Ana Gilbert & Paulo Kellerman

Alter Edições, 2022.

Projeto Gráfico: Licínio Florêncio | Coordenação Editorial : Eder Ribeiro

E chegaram a Portugal…

GEOGRAFIAS CORPORAIS

Uma colaboração Brasil-Portugal

Fotografia: Ana Gilbert
Texto: Paulo Kellerman

Alter Edições, 2022

Projeto Gráfico: Licínio Florêncio
Coordenação Editorial: Eder Ribeiro

encomendas / orders:
geografiascorporais@gmail.com

[ENGLISH VERSION AVAILABLE]

Lançamento do livro GEOGRAFIAS CORPORAIS

É com grande alegria que anuncio a publicação de GEOGRAFIAS CORPORAIS, livro com fotografias minhas e contos inéditos do querido amigo Paulo Kellerman.

Poderia dizer muitas coisas sobre o livro; sobre os 4 anos de trabalho intenso, sobre as idas e vindas até chegar a este momento. Ou sobre o quanto sou grata a cada um dos bailarinos da Pulsar Companhia de Dança e do grupo Te Encontro lá no Cacilda, por me receberem de braços abertos; ao Paulo, por embarcar comigo nesta aventura maravilhosa; ao Licínio Florêncio, ao Éder Ribeiro, à Alter Edições e à Pigma, por nos ajudarem a materializar este sonho.

Porém, o que sinto é que não há palavra capaz de traduzir a emoção que me vai cá dentro ao vê-lo no mundo. [sorrio]

APRESENTAÇÃO em breve!!

Já podem reservar / encomendar pelo email:
[for orders]
geografiascorporais@gmail.com

[ENGLISH VERSION AVAILABLE]


Geografias Corporais é um projeto desenvolvido em 2018 com a Pulsar Companhia de Dança o grupo de pesquisa sobre o movimento Te Encontro lá no Cacilda. Surgiu no âmbito de uma publicação acadêmica sobre arte, estética de resiliência, corpo, deficiência e as múltiplas corporeidades, com o intuito de questionar e desestabilizar a ideia de corpo normal como universal. O projeto tornou-se, ele mesmo, uma produção artística, entrelaçando fotografia e literatura. Ganhou corpo, infiltrou-se na pele, tomou conta de boa parte da vida durante quatro anos. Envolveu pessoas e afetos. Partes dele foram publicadas aqui e ali. E agora, torna-se do mundo. Por inteiro.

Embodied narratives

Foto-colagem I: Pulsar Companhia de Dança
Foto-colagem II: Pulsar Companhia de Dança
Foto-colagem III: Te Encontro Lá no Cacilda
Foto-colagem IV: Te Encontro Lá no Cacilda

LIVRO: Art and Activism in the Age of Systemic Crisis: Aesthetic Resilience

Em 2018, recebi um convite da pesquisadora Marijke de Valck, da Utrecht University, para participar de uma publicação acadêmica sobre arte, ativismo e estética de resiliência em tempos de crise sistêmica, com um texto sobre deficiência.
Assim nasceu o projeto fotográfico Geografias Corporais, realizado com a Pulsar Companhia de Dança e o grupo de pesquisa sobre movimento Te Encontro Lá no Cacilda.
O projeto, desafiador e fascinante, desenvolveu-se em dois caminhos complementares entre si: um ensaio fotográfico-literário, com textos inéditos de Paulo Kellerman, publicado (apenas parte do material) no periódico brasileiro Interface – Comunicação, Saúde e Educação; e um ensaio teórico-fotográfico, o capítulo 14 desta publicação: Embodied narratives: dance, corporeality, and creative processes.

O livro Art and Activism in the Age of Systemic Crisis: Aesthetic Resilience já está disponível para venda, nos formatos Kindle e hardcover aqui:

“This book will be of interest to scholars in contemporary art, history of art, film and literary studies, protest movements, and social movements.”

Sobre o capítulo:
“The focus of this chapter is to discuss an artistic experience with disability in the realm of dance. To do so, I made a photo essay with Pulsar, a Brazilian dance company, composed of dancers with normative and non-normative bodies, whose artistic proposal is to create a dialogue between spectators and different corporealities, and a research group on movement based on dance as an extension of Pulsar, named Te encontro lá no Cacilda, composed of participants with different disabilities. This chapter and its photo collages are based on the collaborative exhibition “Corporeal Geographies” which involves photography, literature and dance. Using the images as a material basis for the discussion, I explored some ideas concerning the embodied narratives performed by the dancers and captured by my camera, and the role of art in considering disability as part of human variability and as a form of resistance to understand disability within a normality frame. The embodied narratives point to creative processes that evoke an aesthetic resilience to politically reaffirm difference and multiplicity in contemporary artistic scenario.”

Geografias corporais | Ensaio

Academia e arte. Brasil e Portugal. Dança, fotografia e literatura. Diálogos em torno de múltiplas corporeidades.

Projeto com o grupo de pesquisa sobre movimento Te encontro lá no Cacilda / Pulsar Cia. de Dança | Teatro Cacilda Becker, Rio de Janeiro, Brasil.

Geografias corporais: dança, corpo e deficiência | Ana Gilbert e Paulo Kellerman

Revista Interface – Comunicação, Saúde, Educação | Seção Criação

Biblioteca SciELO Brasil e SciELO Saúde Pública

(Foto: Ana Gilbert)

“Entro na sala e sorrio. Digo: Oi. Depois digo: Tudo bem? E continuo a sorrir.
(Penso: Sorrir será a melhor forma de espera, de adiamento, de suspensão?)
Olha-me e sorri. Levanta-se, aproxima-se lentamente. Depois, abraça-me.
Sinto estranheza. Não é fácil receber o abraço de uma pessoa desconhecida. Não é fácil abraçar uma pessoa desconhecida. Mas correspondo.
Foi assim que nos conhecemos. Apenas mais tarde percebi que abraçar é uma forma de comunicar; como se o abraço fosse voz, e cada abraço tivesse uma tonalidade específica. Tal como cada palavra pode ser dita com um timbre diferente.
Não o ouvi falar. Mas conheço a sua voz.”

(Paulo Kellerman)