sabe a poema inocente

Do encontro e da cumplicidade entre palavras e imagens.

Um enorme obrigada ao Breve Leonardo por esta sintonia espontânea, delicada e bela.

sabe a poema inocente

o murmúrio de luz que
se inclina nas manhãs raras

estas – onde corpo ainda está aberto ao mundo – esta
onde o corpo acorda sereno,
não resiste.

por assim dizer,
a espessa álgebra do dia ainda não se fez sentir na rotina inquieta
da voz – como osso dormente e demais,
no corpo.

por assim dizer,
nesta manhã rara
as diminutas sílabas – soltas da palavra – ainda não ocupam espaço

como a pedra brisa
ou cinza vaga que
suspensos

sabem a poema. sabem
a luz ou poema – tão intacto

inocente.

A casa

a casa bl

I

Tentava escrever

com a minha mão direita,
com a minha mão esquerda, alma corpo inteiro

[a casa, os movimentos da casa, a casa]

o osso aparente
a vértebra em silêncio,

a côdea dura do lume apagado. Tentava escrever o resíduo
a dobra da cal

descosida da sombra, a sépia

como se em silêncio o vestígio da casa
pudesse acontecer
enquanto

escrevia. E escrevia

escrevia a janela, a luz, a pedra, a brisa
o sopro da cinza vaga do livro

[era azul poema, o livro]

a mesa aberta às sobras do norte, a poalha
transparente

o sopro agitado
[nesse lume obediente]

que sabe como arder na manhã áspera

devagar. Escrevia

II

e enquanto tentava escrever
acontecia

a casa.

…………

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Palavras: Breve Leonardo