
“Somos estrangeiros também, e principalmente, diante da nossa felicidade”.
Emanuele Coccia (Filosofia da casa, 2024)

“Somos estrangeiros também, e principalmente, diante da nossa felicidade”.
Emanuele Coccia (Filosofia da casa, 2024)

já não há santos nos oratórios.
[Gaza também é aqui]
…
there are no saints left in the shrines.
[Gaza is here too]

Perseguia sonhos na bainha do silêncio.

O tempo é apenas uma sequência de acasos. A eternidade é apenas uma sequência de acasos. A existência é apenas uma sequência de acasos. Tu és apenas uma sequência de acasos.
***
Time is just a sequence of coincidences. Eternity is just a sequence of coincidences. Existence is just a sequence of coincidences. You are just a sequence of coincidences.
Text: Paulo Kellerman


UCA, o livro de Ana Sofia Elias, é viagem demorada, sem volta.
Lisérgica.
Uca é desajuste.
É dor partilhada, sonho segredado, fantasia projetada.
Uca é pausa, lugar de descanso inquieto, de entrega temerosa. E prazerosa.
Uca é desafio da fala, é dança cantada.
Dança das palavras, por vezes, descompassada.
É grito mudo.
Ensurdecedor.
É beleza delicada e pulsante.
É toque sutil. Por vezes, soco no estômago.
Desdobra-nos pelo caminho e já não conseguimos refazer o origami que um dia fomos.
Uca é Ana.
E esta Ana que escreve espelha a Ana que escreveu.
Anas em voo livre.
***
Escantilhão
Quando eu nasci
Deus entregou-me um escantilhão e, desde esse dia, tenho sido uma recortadora de vida
Sigo entretida
a passá-la por um escantilhão
e a ser escantilhada por ela
Esse tal Deus que não tem nome – mas desceu para me visitar –
deu-me olhos de lince
e fome de me deslumbrar
Os olhos de lince servem para
caçar as coisas delicadas
que gostam de brincar às escondidas
com os meros mortais
para quem elas passam despercebidas
e desiguais
O Deus anónimo
também me deu mãos de violino
para fabricar delicadezas a partir da cidade que me rodeia
e o que me rodeia é esta sala que faz parte desta casa
que habita neste bairro
que um dia, tal como eu, também nasceu desta cidade
Mas este poema não é sobre o meu nascimento
É sobre a minha chegada
Hoje eu sou aquela que chega a ela própria que aterra em si
Hoje
eu sou aquela que carrega os intestinos nos olhos
е a garganta nas mãos
Faço a digestão de todos as montras do mundo
através dos olhos
E respiro o mundo dos coisas e das cidades pelos pulmões das mãos.
O delicado é
o meu fado.
Ana Sofia Elias (Uca, 2024)

Se o mundo permitisse, hoje eu seria pássaro.
If the world allowed it, today I would be a bird.
Text: Paulo Kellerman

memória é o que se vê com os olhos da imaginação.
[no dia em que fui mais feliz]

Eu ouvi você
Me dizer que sim
Mas era silêncio o que se ouvia
Quando dei por mim
Agora
Logo agora
Justo agora
Adriana Calcanhotto (Justo agora)

O presente ensaio celebra os 150 anos de nascimento de Carl G. Jung e seu brilhante entendimento do ser humano como ser criativo.
O texto aborda o tema da ética de hospitalidade em análise. Para tanto, parte da arte, mais especificamente, da ópera contemporânea portuguesa O Tempo (Somos nós), cujo libreto é de autoria de Paulo Kellerman, para iluminar a prática clínica, tendo por base o texto O Banquete, de Platão, em articulação com a psicologia analítica.
Tanto na ópera quanto no processo analítico, Eros surge como fenômeno mais amplo, capaz de restaurar uma possibilidade criativa que reacende a alma, enquanto lugar da experiência do indivíduo, e de integrar aspectos dissociados da psique individual e coletiva.
***
This paper examines the subject of hospitality in analysis. It starts from art, more specifically the contemporary Portuguese opera Time (As we are), whose libretto was written by Paulo Kellerman, to illuminate the clinical activity based on Plato’s Symposium, in articulation with the analytical psychology.
Both in the opera and in the analytical process, Eros emerges as a broader phenomenon, capable of restoring a creative possibility that rekindles the soul as a locus for the individual experience, and of integrating dissociated aspects of the individual and the collective psyche.
TEXTO COMPLETO PARA DOWNLOAD AQUI

Esguia-te no véu translúcido do romance e depois conta-me como é viver em modo nude e estradas inesperadas. Pensando bem, leva-me contigo e deixa os floreados para outra.
Slip into the translucent veil of romance and then tell me what it’s like to live in nude mode and on unexpected roads. Or rather, take me with you and leave the flourishes to someone else.
Texto | Text: Sandra Francisco
Fotografia | Photography: Ana Gilbert
Na publicação # 5334 do FOTOGRAFAR PALAVRAS, a parceria no texto é com a Sandra Francisco.
Fotografar palavras é um projeto criado pelo Paulo Kellerman, há 9 anos e configura um espaço de criação livre e de encontros, graças ao talento do Paulo em agregar pessoas e afetos.
A nossa sexta exposição permanece em cartaz no m|i|mo, em Leiria, até o dia 9 de novembro de 2025. Visitem!

um instante na memória de chegares é mais valioso do que jardins, do que montanhas, do que anos de tempo.
José Luís Peixoto (A Casa, a Escuridão)

Você não tem medo de mim
Você tem medo é do amor
Que você guarda para mim
Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo é de você
Você tem medo é de querer
Me amar
Adriana Calcanhotto
[ouça aqui]

e das ausências que se fazem presentes. Sempre.

Humanity: the ability to put ourselves in someone else’s shoes. If we choose not to do so, we are not human. We are something else, but not human. Something else. Something.

Searching for meaning in life is like asking a mountain to explain what a kiss is.
Texts | Paulo Kellerman
Photos | Ana Gilbert
PORTABLE LINK , a dialogue between photography and literature