Confidência

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

Mia Couto [poemas escolhidos], 2006

Conseguirei?

If I stopped looking at myself in the mirror, would I be able to forget my face? Would I be able to forget how I am, what I am, who I am? Would I be able to forget myself?

Será que se deixar de me olhar ao espelho conseguirei esquecer o meu rosto? Conseguirei esquecer como sou, o que sou, quem sou? Conseguirei esquecer-me?

Texto| text: Paulo Kellerman

Portable link

Fotografar palavras # 4999

Na publicação # 4999 do Fotografar palavras, a parceria é com o querido Jorge VAz Dias.

Há sempre alguma solidão
Em quartos de hotel
Tal como um prenúncio
De escandaleira.
Há quem se suicide
Neles
E há que morra por segundos
Por prazer.

There is always a certain loneliness
In hotel rooms
Like a prelude
To scandal.
Some people commit suicide
There
And some die for seconds
For pleasure.

Texto | Text: Jorge VAz Dias

Fotografar palavras, projeto bonito do Paulo Kellerman. Nossa casa poética; lugar de encontros e afetos. Desde 2016.

Eros

Quando o vento aparece
Mostrando sua face invisível,
O mar sempre escurece
Cobrindo seu limite impossível…

Mas quando o mar entoa
Sua canção de mil sereias,
O vento, então, ecoa,
Fazendo luzir mil candeias…

O vento sopra o mar
E o mar encanta o vento…
Em si, tão diferentes,
Apenas tons de um mesmo momento…

Palavras: Marta Chagas (03/08/2010)

Imagem

“As imagens existem antes de entrar nos olhos de um sujeito que observa um espelho.”

Emanuele Coccia (A vida sensível)

a certain way

There is a certain way of breathing in which the body enters into perfect harmony with the universe; a way in which they breathe together. It’s something you practice. Or that you imagine.

Text by Paulo Kellerman

Portable Link, a dialogue between photography and literature