
the remains of the day




“São tristes os poemas no Inverno mas tu sabes, sem saberes como, levar o meu corpo até à alegria, e até a minha rua se atreve no poema,
a minha rua insensata, rua inútil como palavra minha.”
Filipa Leal

“Viver é muito perigoso.”
João Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas)


Cato lixo. Desde pequena transito entre a dor de perder o meu pequeno paraíso e o fascínio de dar novos significados ao que restou. Atravessamos o mar. Chegamos à restinga da Marambaia. Encontro uma bonequinha cheia de água e areia e o pedaço de um galho retorcido. Amarro um barbante na madeira e tenho um cachorro. Da boneca viro mãe. Ninguém me diz “larga isso, é sujo.” Há descuidos que libertam.
I collect rubbish. Since I was little, I’ve navigated between the pain of losing my little paradise and the fascination of giving new meanings to what remains. We crossed the sea. We arrived at the Marambaia sandbank. I find a little doll full of water and sand and a piece of a twisted branch. I tie a string to the wood and now I have a dog. With the doll, I become a mother. No one tells me “put that down, it’s dirty.” There are carelessnesses that set us free.
Texto | Text: Lorena Kim Richter
Fotografia | Photography: Ana Gilbert
Fotografar Palavras, projeto bonito do Paulo Kellerman e de toda(o)s nós.