
“O vento está no meu mar
Foste tu
Dragão nu
Com esses gritos
E esses cabelos
Já estás a vir”
Palavras: José Carlos Ferreira

“O vento está no meu mar
Foste tu
Dragão nu
Com esses gritos
E esses cabelos
Já estás a vir”
Palavras: José Carlos Ferreira
Meu ensaio fotográfico CLARICEANA está na Revista Tangerine # 10, na companhia de outros trabalhos lindos.


Este ensaio foi inspirado no livro Água Viva, de Clarice Lispector. Nele, autorretratos dialogam com paisagens aquáticas, oníricas em sua fluidez e atemporalidade, onde o dentro e o fora se confundem e se complementam. Juntos, formam paisagens internas, imagens-palavras que convidam à experiência sensorial, ao mergulho em águas profundas, onde luz e sombra se fazem presentes e explicitam tensões.
O fascínio exercido por essa zona limítrofe, a superfície da água, demarca a fronteira entre a vigília e o sono, entre as instâncias da psique (consciência e inconsciente). As imagens nos levam a percorrer trilhas fragmentadas e poéticas, marcadas pela alternância entre movimento e quietude. Experienciamos a relação com o espaço que nos circunda. Um espaço que é ao mesmo tempo externo e interno, Cheio e vazio. Um espaço que se descortina estranho e ampliado quando vislumbrado na superfície refletora da água ou do espelho. Múltiplos espelhos, múltiplas imagens: de nós e do mundo que habitamos e que nos habita. Instantes- já da relação “eu-tu”, coagulados como fotografias. Cenas e o seu avesso. A realidade enviesada.
O ensaio oferece a experiência pura do fluxo de vida, do instante que é como o silêncio que está no silêncio das coisas e não pode ser ouvido, a não ser com o corpo inteiro; como uma realidade que se cria a partir da escuridão e do sonho. A partir da imaginação.
Água, ar, planta, corpo. A alternância entre a sensação de dissolução e a aventura arriscada de fixar a delicadeza do encontro eu-outro, eu-mundo. Clariceana é uma tentativa de capturar o incapturável: a respiração que rege a ordem do mundo, do meu mundo. O ritmo da pulsação. A liberdade de vida e morte. O seu mistério. Efemeridade e eternidade em mim.

o que sentirá a luz ao deslizar pela aspereza do solo?
[what will light feel as it glides across the roughness of the ground?]


observo a lentidão do teu gesto.
[o toque suave da renda]
a mão pequena
[onde cabe o mundo]
o corpo desnudo
[o desejo a descoberto]
observo as articulações que se movem
[hipnótico]
dedilham memórias que espreitam inocentes
[indecentes]
feitas de luz
[sombra]
deixam a pele marcada
[cicatrizes inexistentes]
pela eternidade
[dolorosa]
dos encontros imprecisos
[improváveis]

“Acho que a tristeza está dentro das pessoas, faz parte delas.“
[I think sadness is inside people, it is part of them.]
Palavras | Paulo Kellerman

Desencanto. O silêncio que nos separa.

Can you read me without words?

“It feels like I’m flying above you”
(Anathema)

15/03/2023 | 17 horas (Brasil)
A convite da Associazione Culturale Focus, conversarei sobre fotografia e o livro Geografias Corporais, com Fabiana Mingoni e Paulo Kellerman.
(acesso livre – o link será disponibilizado próximo à hora do evento)


what do you see of yourself when you look in the mirror?
