
Esta foto está na Revista Pausa na Rede| Expressões artísticas em tempos de quarentena (2a. edição 2020)
@casa_clic
Revista completa: https://alegrar.com.br/suplemento-26/
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Fotografe – Revista de Fotografia
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“avisto a extensão de negro em que depositas
o teu coração em forma de palavras
e perco as minhas pupilas para o mar:
troco as barcas por barcos
visto os pássaros de asas gigantes
agito as águas
empresto sopros ao vento…
às vezes o ondeado das dobras da seda
negro em filamentos entremeados de luz
não deixa ver a inclinação do eixo que diz das tuas estrelas”
Palavras | Isabel Pires (a permanência da memória dos dias de sal)
JaamZIN | November – December 2019
“Apenas a luz sabe que é na sombra que está a essência.”
Fotografar palavras
Projeto e texto | Paulo Kellerman
Foto | Ana Gilbert
se eu tivesse que escolher uma cor para as tuas palavras seria o cinza.
não pelo negrume da tristeza. bonito esse teu negrume. seria pela calma. é isso. pela calma que me trazes às margens das manhãs ou das tardes.
conforme a inclinação do sol.
as tuas palavras só não têm a cor branca porque não as descobriria nesta folha.
mas são brancos, esses bordados de luz que te escorrem entre os dedos.
Palavras | Isabel Pires (a permanência da memória dos dias de sal)
“Preservo-te no meu inventário de decepções.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Ana Gilbert
Foto| Frankie Boy
“Se te pudesse respirar
inspirava-te…
Ou então temporizava-te
para o teu coração gritar
quando me soprasses
na alma.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Rute Violante
Foto| Ana Gilbert
É fim de tarde, o sol desce no horizonte e traz aquele silêncio de um tempo limítrofe. A água do mar me chama, num apelo surdo, hipnótico. Entro devagarinho e sinto o silêncio; sobe cálido pelos pés, pernas, contornos, sexo, cintura. Mergulho e a água envolve-me como um afago. Sinto o corpo distensionar, músculo a músculo, fibra a fibra, poros e pensamentos. Inspiro e o silêncio me penetra, ecoa pelo corpo, expande os pulmões, aquieta a pulsação, suspende o tempo. O vento sopra solidão sobre a pele.
Mexo mãos e pés, deslizo dedos sobre superfícies imaginárias, o teu corpo, o meu. Os olhos fechados tornam-se lúcidos; voltam-se para outro mundo, aquele que deixei há tantas vidas. Nele me encontro, e vejo-te, à espera. Estiveste sempre aí? O toque se materializa e sinto: são arraias, grandes e pequenas, várias, muitas, numa dança etérea, um voo fora do ar. Circundam-me, algumas se enterram na areia, como ouro profundo à espera de revelação. Ondulo como elas, voo com elas, deixo-me ficar, entregue a essa liberdade momentânea. Nossas superfícies se encontram, num prazer mútuo.
Subitamente, algo me faz abrir os olhos. Anoiteceu sem que me desse conta. A maré subiu, a água que chegava à cintura quase me cobre inteira. Perdi-me em devaneios e me desnorteei. Volto-me sobressaltada à procura da praia, da textura da areia, da referência. Tenho medo de ser levada pela correnteza. As arraias continuam a nadar, alheias ao meu pânico; elas que eram parte de mim, agora me parecem estranhas, ameaçadoras. Não consigo tocar a areia; engulo a água salgada, engasgo-me. Sinto falta de ar e preciso me concentrar para não afundar por completo. Os olhos abertos não servem para muito na escuridão da realidade. A noite acontece dentro de mim e já não estás.
Percebo que me estou a mover, um nado instintivo que me tira do desespero. Aliviada, agora sei onde está a praia e esforço-me na intenção de chegar até lá. Ganho ritmo, a respiração torna-se cadenciada; a praia está logo ali, à frente, penso, e quase consigo sentir um pouco do prazer de antes. Nado mais e mais, porém algo está diferente, desestabiliza a determinação. Começo a duvidar da direção que escolhi; volto a olhar em redor e não distingo nenhuma silhueta, nenhum vestígio de terra firme. Constato que me enganei: nadei em direção ao mar aberto e não chegarei a lugar algum. O tempo cai pesado sobre mim, empurrando-me para baixo. A exaustão toma conta e já não há volta possível. As arraias voltam a circundar-me; aprisionam-me, fantasmáticas. Fecho novamente os olhos antes da entrega. E penso em ti.
Texto e foto | Ana Gilbert
“Preservo-te no meu inventário de decepções.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Ana Gilbert
Foto| Vanda Teixeira
“Terás que agilizar um reset
o que nem sempre é mau.”
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto | Cláudia Jerónimo
Fotos| Ana Gilbert
O blog Fotografar palavras, criado pelo escritor Paulo Kellerman, chega às duas mil publicações. O que começou como uma brincadeira entre amigos envolve, hoje, cento e quinze pessoas, numa parceria profícua entre imagem e palavra, estilos e talentos. Tornou-se uma casa para seus colaboradores e para todos os que apreciam o entrelaçamento entre fotografia e literatura; um lugar de estímulo à arte que afeta e emociona, e ao qual queremos sempre retornar.
Um imenso obrigada a todos.
“o passeio
passeio:
passou enquanto eu passava.
tudo passa, mesmo que não dê um passo
fica pacificado
é isto: ex-isto.”
…
(foto feita a partir de um texto feito a partir de uma foto)
Fotografar palavras
Projeto | Paulo Kellerman
Texto e foto de partida | calí boreaz
Foto de chegada | Ana Gilbert
Das coisas fascinantes do Projeto Fotografar palavras do escritor Paulo Kellerman: receber um texto para fotografar e, quando da publicação, descobrir que ele já compõe uma narrativa com outra foto e que a minha foto se alinha e complementa essa narrativa com surpreendente harmonia de elementos.
[dum lugar íntimo do desencanto]
todos os nossos passos decolam em direção ao caos
eu até parece que danço — mas condenso, só
eu até parece que passo — mas espaço, só
…
Texto | calí boreaz
Foto de partida: Nita Ferreira
Foto de chegada: Ana Gilbert
Almas Desligadas | Exposição
Curadoria | Silvia Bernardino
Textos: Paulo Kellerman
Fotos | Ana Gilbert
Moinho do Papel | Leiria, Portugal
Dois anos…
Obrigada a todos os que de alguma forma participaram deste percurso: aos que passaram rapidamente, aos que se demoraram, aos que conversaram, aos que me entregaram seus silêncios… porque o blog também se faz com os seus olhares…
“Agora você vai ter que assumir as suas irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens.”
(Manoel de Barros, Ensaios fotográficos)
“De onde surgem os gritos, como nascem?”
Exposição Almas Desligadas
Textos | Paulo Kellerman
Fotos | Ana Gilbert
Moinho do Papel | Leiria, Portugal
Até 13 de junho de 2019